segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O QUE É GRAÇA?



Uma perspectiva filosófica subjetiva sobre a graça

Reflexão primeira:

A graça é ser e estar salvo em todo o tempo enquanto se andar pelo Caminho; mesmo quando nossos pés estiverem sujos.

Tal graça é esta circunstância de ser salvo enquanto o coração estiver na disposição na qual Deus se manifesta. Mesmo se na trajetória os pés se emporcalharem; mesmo quando caído, pelo tropeçar das pedras que há no Caminho.

E, especialmente: mesmo quando na lama do pó desta terra misturada com a saliva de nossa arrogância mais as lagrimas de nosso arrependimento, a nossa alma patinar em desespero e abandono perante Deus

Sendo atributo de um Ser imutável ela é estável na existência de quem a recebe. Não se perde aqui e depois se recupera ali, não e inconstante assim como o seu receptor, não esta sujeita as probabilidades acidentais e imprevisíveis que atuam sobre o homem.

Graça é a posição de bem-aventurança existencial eterna na qual Deus firmemente se encontra. Para o homem esta graça é a experimentação de um grau de eternidade no tempo, de uma constância de propósitos firmados na constituição mais vital da psique da alma humana

Graça por tanto, é um condição estável profunda do ser, daqueles que em quanto no pó desta terra, estão sujeitos as inconstâncias e contradições da superfície do ser e, das expressões conseqüentes da personalidade humana Caída.

Nenhum pecado que procedem da contingência de existir, de qualquer espécie, tira o homem de tal condição, por que a graça no homem assim como Deus, não muda conforme a instabilidade do ser humano. A graça não tem expectativas quanto ao proceder individual, antes, já pressupõe a sua infidelidade.

Ela é a vida de Deus no homem, nenhum incidente faz com que o homem a perca. Pecado é uma atitude no tempo, e não necessariamente um estado decidido no íntimo da vontade. Isso considerando que todos os pecados isolados de quem esta no Caminho são atos de escolha consciente ou acidental e, não um estado de ser.

Só quando o homem vive em presença de Deus é que a violação de seus mandamentos ganha sentido, pois tal infração é a perturbação de um nível saudável de ser e existir em Deus. Pecado só é, quando diante de Deus. É Deus que da a sua significação. Fora Dele não a vida, não a transgressão, não a graça não a nada. Condenação é o estado terrível de não se ser nada para Deus.


Reflexão segunda:

A graça é a probabilidade da circunstância do homem de ser livre do pecado no ser, ao mesmo tempo em que se é ainda, escravo do pecado no existir.

A graça é esta possibilidade impossível de ser simultaneamente santo e pecador; santo no ser, pecador no fazer. Pecador, pelo pecado consistir em acidente inevitável na trajetória histórica em que se da no tempo, e não necessariamente um mal que domina a essência do ser daquele que vive sobre a atuação da graça, que esta de modo pertinente cativo a esta graça.

Só na alma humana existe verdadeira liberdade. Mas o Corpo e a constituição do individuo estão sujeitos aos objetos, ações, coisas e movimentos que atuam no universo de eventos e fatos materiais, numa interligação complexa de circunstancias, onde mesmo a alma desejando o bem, pratica o mal pela força imperativa de pressões que incidem sobre ela.

Na alma a vontade é livre na escolha da sua postura quanto à reação aos acontecimentos que sucedem sobre a existência material. Na alma se decide questões e vontades que formão a composição de um ente ímpio ou de um ser suscetível a graça. Entretanto, no existir terreno a pessoa não tem o absoluto controle de desejos e emoções com a mesma firmeza da alma.

No existir o ser é escravo de uma condição de vida profundamente comprometida pela Queda da humanidade. Onde as vontades e instintos afetados nem sempre se sujeitam as determinações sadias do ente regenerado.

Uma vez sob o estado de graça a alma que esta livre da condição essencial da corrupção do ser, ainda não esta completamente livre das implicações de existir sobre um mundo em grau de degeneração.

Estar livre do pecado no ser corresponde ao coração dominado pelos princípios de verdade, justiça e misericórdia que repousa nas disposições mais consolidadas da constituição deste ser. Não há dubiedade na alma, uma vez que a alma ou coração consiste exatamente numa decisão única, objetiva e moral que determinam a condição espiritual incondicional desta pessoa.

No entanto, permanecer escravo do pecado no existir, é estar sujeito as demandas poderosas de anseios, equívocos e fatalidades que ocorrem fora do controle absoluto da esfera de ação das decisões do coração. Porem sendo a alma boa, o mal procedente de existir em tal condição, tem seu limite de atuação neste ser. De forma que o pecado sempre será conseqüência de um descontrole da vontade no processo de existir, e não o fruto destrutivo e pretensioso de um ser profundamente degenerado.

A degeneração externa da natureza encontra na graça a sua fronteira. Graça é isso: o pecado que perturba o viver-existir da criatura piedosa, não tem poder sobre a alma de tal ser-santo, visto que as disposições de tal coração emanam de um estado de espírito profundamente virtuoso, e absolutamente aberto para Deus.


Reflexão terceira:

A graça é o poder contraditório de atração, exercido sobre o nosso ser, que faz com que ate mesmo os nossos pecados e conflitos nos aproximem de Deus.

Toda confusão e, preocupações que o pecado produz, quanto ao próprio estado moral diante de Deus, já é condição sem a qual não se vive de fato, perante Ele. Estar diante Dele em graça, é estar exatamente como um ser que foi sublinhado o fato de ele estar encurralado pelo pecado.

A graça não exclui a posição e classificação de pecador, e nem elimina o mal na existência, antes detecta e ressalta o pecado, deixando o homem suspenso e desnudo diante de Deus. Esta graça não é antítese da Lei, antes é a própria Lei como meio de graça, que revela um entendimento necessário como condição de estar na presença de Deus na mais absoluta verdade: a verdade do próprio pecado.

A graça não é basicamente paz de espírito, mas sim é o eu do homem posto em confrontação com os seus pecados diante do Santo. Graça são as experimentações de uma estância de crise e tensão pela condição de impasse e embaraço que o pecado suscita na consciência do homem. Na graça o pecado não se erradica antes se releva como um problema ininterruptamente contínuo e gigantescamente mal resolvido.

O estado de graça é a revelação da verdadeira e constante situação do homem diante de Deus: um ser que interiormente se dilacera entre o Paz e a culpa a Lei e a liberdade. Cuja intimo do homem, sob o imperativo Lei, se debate e se despedaça na questão visceral de nunca encontrar um meio preventivo contra o pecado. A graça é esta contradição irremovível fundamental para o salto da fé sem apoios.

Se o homem crê na impossibilidade da obediência aos mandamentos, a Lei moral esta em seu encalço como verdade absoluta e irrevogável sobre a sua consciência, mas se ele acredita na possibilidade da santidade, o pecado como realidade gritante na sua carne, rouba-lhe as paz e suas seguranças. Nem a regra ou liberdade estão para o homem, mas sim a não mensurável e incompreensível: Graça.

O pecado de quem esta, pela graça, aberto para Deus, não tem o poder de afastá-lo Dele, antes o coloca diretamente, e sem saída, em sua Presença, num estado de agitação de ser e indagação persiste quanto as suas escolhas possíveis e possibilidades de escolhas, onde o homem não tem como esquivar por o pecado ter implicações diretas na sua relação com a continuidade da inteireza da disposição moral de sua alma. Quão quanto todo o seu conflito só aumenta a sua responsabilidade como também a sua consciência de incapacidade.

É no pecado que o homem percebe que a Face de Deus esta ali, diante dele, o perscrutando e inquirindo do homem uma posição. Mesmo que nenhuma disposição o torne em condição de aceitável ou livre desta crise do ser. A graça é essa trajetória trágica, em que Deus conduz o homem ao autoconhecimento da sua incapacidade de nunca poder estar perante Ele a não ser: em pecado. Mas poder estar diante Dele em qualquer condição, já é em absoluto: toda a Graça.


Reflexão quarta:

A graça é força irresistível do evangelho que atua em nos, pela verdade que persuade e domina o ser na esfera mais profunda e consistente da alma humana.

Em tal estado de graça o ser se sente tão irreversivelmente ligado ao evangelho da mesma forma que estamos irremediavelmente presos a natureza e a condição humana. Uma vez que graça não é movimento ou objeto desta dimensão terrena, mas um processo ininterrupto de composição imaterial no domínio mais íntimo da vontade e das decisões humanas, nem um poder de coisas e eventos da existência material, podem interromper tal ação de designo eterno de Deus no coração do homem.

Perdão, lei, contrição, paz e culpa são termos humanos usados a fim de se explicar a tentativa e o procedimento de ligação do homem com Deus que se faz em todas as religiões. Mas a graça não é o mero perdão como acesso a Deus numa lei de mérito de arrependimento, ou causa e efeito na relação do humano com o Divino, mas um estado espiritual da constituição mais fundamental do ser do homem, que não se altera por decisões inconstantes tomadas no palco da existência contraditória da superfície deste ser.

O homem na existência esta sujeito não só as força dos episódios que sucedem sobre ele, como também a própria modificação natural que vem pelo passar do tempo. A própria maneira de ver e reagir de cada um advém das condições características de existência especial e particular. Particularidades estas que pela graça não tem poder de influir na decisão mais objetiva da alma.

Se na existência existe variações de vontades e inconstância de decisões pela subjugação do homem a complexidade do mundo de eventos e possibilidades. Na esfera do ser a graça é essa força irresistível sobre o coração, cujas variações e incidentes da existência não podem suprimir. Nada fora da alma a não ser uma decisão do próprio coração podem tirar o homem deste estado de segurança absoluta a que se chama graça, contra os acontecimentos no corpo e no campo das sensações humanas.

Portanto graça é à força da revelação do evangelho no coração que cativa o homem de tal forma, mesmo acontecendo os episódios mais trágicos não prescritos para o ente humano sujeito a lei de Deus. Graça é essa verdade incontestável na nossa consciência, cujo poder de acidentes, quedas e reincidências não alteram e nem suprimem o seu efeito no nosso coração. Em suma a graça é a segurança eterna da salvação daquele que crê.


Reflexão quinta:

A graça é a condescendência de Deus de vivermos ainda sobre um estado de graça a despeito da nossa incompreensão e ignorância quanto a ela.

Uma vez que a graça é todo um processo interno que se passa na alma do ser humano, e não basicamente uma metodologia verificável na personalidade do individuo, ela sempre será vista conforme a capacidade e entendimento particular de cada um.

A graça é um ato comum e indivisível de Deus feito no ser do homem, mas manifesto conforme as muitas formas de expressão da personalidade do homem nestas infinidades de possibilidades de experiência de existência humana.

Portanto a graça não é conceito a que se deve crer corretamente para se ser salvo, mas procedimento espiritual feito no homem sem a necessidade da sua exata verificação, visto que o que si é possível observar dela, se da apenas no campo das suas ilimitadas experiências como conseqüência do que si é feito no mais intimo do ser do homem.

A verdade total desta graça é vista somente por Deus, e não se impõe na tirania de um conceito doutrinário em que se é necessário crer perfeitamente para se ser alvo desta graça, mas procedimento que apesar de único e absoluto é operado, percebido e vivenciado na relatividade da subjetividade humana.

Gresder Sil

sábado, 21 de novembro de 2009

Graça escandalosa



Não da mais para não ver e não sentir que quando ele disse: “os publicanos e as meretrizes entram adiante de vós no reino de Deus” não estava implícito um dos maiores mistérios generosos de Sua Graça. É inegável que milhões nesta terra escravizados por toda sorte de desvios naturais, e vitimas de tragédias existências e exclusões sociais morrem carregando consigo desde a muito um pedido profundo de libertação e misericórdia.

Milhares e milhares de prostitutas, viciados, drogados, antinaturais, marginais, doentes mentais, mutilados e famintos de pão desta terra, apesar de não encontrarem nesta vida a completa libertação entrarão no Reino adiante de todos aqueles que têm capacidade para serem justos e misericordiosos e não o fazem. Pois muitos destes outros sendo vitimas e os últimos na escala da extensão e alcance da miséria humana, no fundo de seus corações crêem e anseiam uma libertação.

Como a nossa mente pode ser tão pobre de pensar que se caso o ladrão da cruz não tivesse sido executado aquele dia, ele não teria a “sorte” do perdão. Pois ao contrario do outro ele já carregava em seu coração o anseio de libertação e desejo de perdão por tantos crimes cometidos. Não são palavras mágicas na hora de morrer, não são senhas bíblicas e evangélicas que a pessoa fala com a boca. Mas antes de tudo e o que determina a salvação de uma pessoa é a leitura que o Espírito faz dos gemidos anteriores e constantes do coração cansado e sobrecarregado do fardo que a existência lhes impôs sem o seu são consentimento e plena capacidade de rejeição.

Só tal entendimento com diz com o espírito do Evangelho da Graça que quando atinge em cheio é capas de transformar completamente, mas que os seu respingos e sobras que caem da mesa já é o suficiente para salvar o pecador ainda não transformado pela religião cristã. Como se tal conversão fosse para alguns casos uma vantagem, e nisso talvez esteja todo mistério, pois como Ele mesmo disse naquele tempo: “os judeus (equivalente aos cristãos atuais) percorrem mares e terra para converter um gentio e o tornam duas vezes mais filhos do inferno do que antes”

É impossível não ver que jamais Ele deixaria perecer a alma dos desprivilegiados da vida (os últimos), pela incapacidade total, vaidade e indiferença dos cristãos (os Primeiros) que não dão conta do recado. E mais ainda, visto que Ele nunca teve nojo de pessoa alguma nem jamais rejeitou um ser humano por suas mazelas e fraquezas, o seu mistério e proximidade com tais pessoas e tão grande ao ponto de Ele dizer que quando negamos qualquer coisa a um destes que nos pede, é a Ele que o negamos. Há muito mais entre os céus e a terra do que a nossa vaga teologia pode imaginar.

Gresder Sil

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Jugo humano



Quem quiser ir após Ele, é dito para que negue se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-o. Essa é a mensagem indigesta do chamado de Jesus. Esta é a verdade insuportável de que no Caminho do Reino, a dor e as contradições humana não são atenuadas; antes elas se acentuam. Segui-lo implica viver a vida sob um alto gral de dilatação da percepção de tudo o que diz respeito às confrontações inadiáveis com as realidades aborrecedoras das condições de existência humana.

Essa mensagem que não faz do evangelho um panacéia para a solução dos dilemas e anseios humanos, mas que intensifica a crise do homem pondo a flor da pele à ferida do pecado e toda a sua conseqüência inalienável, não é interessante a quem quer fazer do Reino uma caminhada de triunfo sobre a terra. A cruz são as conseqüências da Queda ainda não extraídas. A decorrência de carregá-la é que enquanto os homens podem ver aquele que a transporta trás a insígnia da rejeição e da derrota sobre ele.

Na trajetória de quem com a cruz, esta sobre o anátema dos que serão crucificados, a agonia e o fracasso é o ultimo episodio assistido pelos olhos espectadores dos homens, posto que a glória da ressurreição seja vista só por quem vê com ótica Daquele que nivela os conceitos de vitoria e derrota, prosperidade e necessidade, gozo e angústia a relatividades de experiências que formão o conjunto de síntese necessária para que a vida seja vida com toda a sua intensidade de opostos que se completam, para o aperfeiçoamento da pessoa humana.

A cruz é o tropeço da religião visto que a contradiz nas suas propostas mais motivacionais. A oferta da igreja é de que, quem sobre a sua subjeção esta, pelo seu ensino, pela sua bênção, e por orações e obediências exercidas nela, problemas e dificuldade são removidos. Mas uma vez que no Caminho, a cruz é outorgada a quem a aceita, ela se trata da realidade de que o jugo social do individuo e existencial do homem não são retirados, mesmo para quem esta em Cristo. Do mesmo modo que, uma vez mela as suas implicações e conseqüências são levadas ate o fim, onde somente a morte encerra a agonia de quem a carrega por sobre as costas.

Gresder Sil

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Hermenêutica subjetiva



Nenhuma crença que não foi gerada de uma crise dolorosa e profunda do ser, assim como a criança que rasga a carne de sua mãe ao nascer, não pode ser uma fé sincera do coração. Pois só o que vem de dentro de nos, das entranhas de nossa alma, pode ser tido como genuinamente nosso. O que importa se existem lá fora, verdades absolutas e objetivas, se eu não as vejo em mim mesmo e nem me transformam ou produzem paz para meu ser.

Pois a verdadeira “verdade” nasce da subjetividade dos embates e dilemas que a alma enfrenta consigo mesma. Pois apesar de existir muitas verdades neste mundo, só aquela que afeta profundamente o meu ser, se torna verdade no sentido de conquistar as exigências do meu coração e a paz tão desejada para minha alma.

Toda interpretação doutrinaria deve ser individual, pois só assim, apesar dos equívocos e diferenças, a fé será fé sincera das coisas que realmente o coração crê. É fácil analisar tudo do nicho sagrado, do lugar seguro das doutrinas objetivas e ortodoxas (sem a subjetividade das nossas verdadeiras opiniões do coração).

Ao contrario disso, a fé será objetiva em um pacote pronto de verdades eternas que não produzem no coração paixão e disponibilidade de sacrifício da própria vida. Aja visto que os mártires sempre foram os “hereges” que não seguiam os dogmas (verdades absolutas para os “normais”).

Mas o que realmente interessa não é o credo correto de um homem, mas as suas inquietantes irresoluções e sugestões do seu coração. Só uma fé gerada assim, através da dor que dilacera o corpo e verte o sangue da alma, será absolutamente sincera como o amor de uma mãe que se apega ao ser que com dor indescritível, nasceu de dentro dela.

Gresder Sil

sábado, 7 de novembro de 2009

A “paixão” de Cristo



Enquanto ela retornava para cidade, ele, sentado ali naquele poço pensava. Meu Deus! Como ela despertava em seu coração aquelas reminiscências de amor e guerra interiores de sua juventude. Como com todo aquele seu jeito de ser mulher completa, ela não iria lhe fazer imaginar de como a outra (mais nova na época) seria agora.

Porque não? Pois como a sua mãe lhe fazia gosto daquela moça. Seu pai então, nem se fala, pois mais importante do que a singularidade do encanto pessoal da menina era o fato de ele desposar o filho mais velho que ainda não tinha constituído família. Que divisão sentia em seu ser e, como sentia sua alma se dilacerar. Mas o seu destino estava marcado, explicá-lo aos seus pais, como?

Que vontade tinha ele de beijá-la de tal forma a poder sorver a graça e a magia feminina daquela alma. Queria rolar com ela na grama dos vales verdejantes da Galiléia, e depois de exausto de amá-la, dormir em seus braços. Queria abraçá-la com muita força de uma maneira a poder se fundir em uma só carne. Era a natureza juntando e pedindo o seu tributo ao pares. Era o impulso da vida querendo perpetuar o sangue de uma raça poderosa.

Que dor sentia! Que desespero! Pois era o seu direito, e a verdade na sua pele do fato de ele ser homem, era naquele momento de desejo e paixão, mais poderosa e agradável do que a sina terrivel e dramática de sua existência na terra. Mas ao tomá-la como sua, ele também seria dela. Mais ele não podia se entregar ou ser de ninguém. Pois tinha sido dado por Deus para poder ser de toda a humanidade.

Gresder Sil

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Exercício religioso



Ao sentir o cheiro, e olhar a comida que era posta para ele, do seu coração quis dar graças, pois como homem, sentia com todas as forças do seu ser que o produto da terra, necessário a vida, com a beleza e cuidado com que era transformado em alimento, não podia consistir em outra coisa, a não ser, dom gracioso de Deus.

Mas estava em seu coração assentado o desejo de romper com todo modelo piedoso dos religiosos de sua época. Mas algo nele o impedia. Uma força o remetia de volta a toda disciplina que rejeitava. Queria não jejuar, pois essa objetiva e simples postura de suplica, tinha se tornado em seu tempo, exercício de esforço próprio e preventivo contra os desejos da carne, mas por varias vezes em crises drásticas, pelo encargo do seu existir, era compelido ao deserto onde por dias não comia.

Fugia ele de toda forma tradicional de oração, e por sentir em sua alma a necessidade de ouvir a voz do Pai em seu coração, se retirava muitas vezes para fazer caminhadas de madrugada nos desertos e montanhas, onde longe e livre dos olhos do povo, deixava que os próprios pensamentos vindos aleatoriamente do íntimo do seu coração se transformassem em suplicas de oração.

Se por um lado, queria não impor ao seu espírito carga nenhuma de compromisso e consagrações, por outro, Deus arrancava dele, das profundezas do seu ser, modos de expressões espontâneas e ternas, próprias de um coração serenamente consciente do propósito de Deus em tudo neste mundo.

Mas ao levar seus olhos aos céus naquele tarde de refeição, não resistiu, pois para ele tudo tinha sentido em Deus. E com duas palavras e um suspiro que alivia as necessidades e anseios do ser, e que respira satisfeito o agradável cheiro da terra e do alimento, deu graças e comeu.

Gresder Sil

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