segunda-feira, 2 de maio de 2011

O desejo de pecar


De todos os equívocos perpetrados na consciência religiosa do povo pelo cristianismo, o maior foi o de acreditar que existe um desejo de pecar, um desejo de cometer adultério ou qualquer desejo de comentar um pecado da carne. Como se existisse consciência no instinto humano ou como se um germe maligno existisse nos desejos humanos que dirigissem o homem ao desejo de cometer ou fazer algo por ser pecado.

Os instintos não desejam o adultério ou prostituição, eles desejam sua satisfação natural para qual foram mecanicamente criados. Não há consciência e intenção no desejo sexual, mas involuntariedade inconsciente e não direcionada. O instinto não deseja a principio algo por ser errado, pois não é um ser pessoal que tem consciência moral, mas um impulso nato que visa o seu funcionamento normal e saudável.

Não existe na natureza uma consciência de se desejar satisfazer as vontades da carne de forma direcionada e moral, como se um individuo só tivesse desejos pelo seu parceiro oficial. Na natureza o instinto apenas inconscientemente deseja a satisfação de forma aleatória, não por ser certo ou por ser errado, mas por ser atraído pelo prazer que faz parte do mecanismo que induz organismo ao funcionamento adequado.

Portanto não existe o desejo de pecar, mas o desejo naturalmente cego e aleatório que deve sim ser direcionado a um modo de satisfação que não lese e prejudique o próximo. A moralidade esta na decisão consciente e não na vontade involuntária, por mais que ela seja direcionada a uma forma de satisfação conhecida como imoral e prejudicial. O instinto não tem controle sobre seu alvo, apenas a deliberação humana.

Esdras Gregório

02/05/11

Texto nove da tese: sexualidade a-religiosa


10 comentários:

Levi B. Santos disse...

É, Gresder

Parece-me que o "negar a si mesmo" do cristianismo começa com uma repressão dos instintos, visando, depois, a sublimação dos mesmos.

***Adriana Rocha*** disse...

Viva a liberdade!!

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

"Não existe na natureza uma consciência de se desejar satisfazer as vontades da carne de forma direcionada e moral, como se um individuo só tivesse desejos pelo seu parceiro oficial"


Curiosamente, nas comunidades mais primitivas, onde o instinto parece não ser tão reprimido, encontramos situações em que a índia não trai o índio.

Por que será?

Sem fazer qualquer tipo de apologia do mito do bom selvagem, quero chamar a atenção para o fato de que, juntamente com o impulso sexual, existem sentimentos de afeições que também são naturais. Existe um envolvimento quase que metafísico entre o homem e sua mulher em que um sente a falta do outro, deseja ardentemente estar com o outro e não quer saber de envolver nenhuma outra pessoa nas suas relações.

Uns falam na existência da "alma gêmea" (geralmente os espíritas acreditam nisto), mas eu creio que o envolvimento entre duas pessoas pode chegar a tal ponto em que não dá pra um fazer seus planos de vida sem o outro. Tornam-se dois numa só carne.

Quando tento satisfazer meus instintos cada dia com uma mulher diferente, estou provocando um terrível curto circuito na minha vida. Pois, se por um lado satisfaço o impulso sexual, por outro eu nego a satisfação do lado afetivo. Então o sexo torna-se algo separado do amor e, na minha opinião, deixa de ser sexo.

Ora, quando falo em sexo, estou referindo-me a algo que pode ser entendido mesmo como metafísico. Porque a transa não é apenas o ato de colocar meu pênis dentro de uma vagina, movimentar-me e, enfim, ejacular. O sexo é parte da relação que tenho com a minha mulher, o que é muito maior do que um simples momento e se relaciona com a construção de um futuro, gerando filhos ou não, mas sempre celebrando a Vida.

Sendo assim, não se pode segmentar as manifestações da vida.

Não se pode separar o sexo do amor!

Não se pode praticar o sexo apenas para uma satisfação física do homem semo cultivo de um relacionamento!

Sexo é vida!

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Levi,

Eu entendo que o negar-se a si mesmo não começa pela repressão ou sublimação dos instintos, mas sim pela morte do meu eu, do meu egoísmo, do meu individualismo, do inconsciente infantil em que tudo deve girar em minha volta como seu eu fosse o centro de todo o universo.

Jesus negou a si mesmo. Podia ter sido um fariseu conceituado, ter ganhado bens através de ofertas pelo seu ensino, comido uma bela mulher como deveria ter sido a Maria Madalena e quem sabe até mesmo se tornado rei da Palestina com mais poder político do que Herodes e os procuradores romanos, depois virar um homem super admirado no mundo inteiro igual a Salomão em então morrer em idade avançada igual a todos nós. Contudo, ele dispensou aquilo que parecia ser atalho e, obviamente, não permitiria a realização de uma obra mais duradora. Então, apesar de amar a Vida intensamente, foi para a cruz morrer mostrando-nos o Caminho para o Pai. E, com isto, ele não mostrou desprezo pela Vida, mas um amor ainda maior. Isto porque Jesus não considerou a Vida apenas como a habitação de nossa energia vital dentro de um corpo físico, mas ele se sentia integrado à Vida que está em todos e no universo, visto que cada um de nós somos apenas manifestações desta Vida maior.

Eu entendo que a redenção da humanidade não se passa pela repressão dos instintos, mas sim da morte deste eu pequeno e alienado que não comrpeende a Vida além da manifestação do fôlego em seus membros. Então, o discípulo de Jesus, quando chega a este entendimento (confesso que ainda estou em conflito para compreender e pdoer agir), ele segue o mesmo caminho do Mestre e aí, pela grande quantidade de pessoas que vão entrando na mesma trilha, o tão sonhado amanhecer messiânico da Parusia vai nascendo atrás dos montes de Jerusalém e o Espírito despertará a todos para a ressurreição.

Levi Bronzeado disse...

RODRIGO

Quando eu falei em repressão dos instintos, na verdade o que eu quis dizer, é que o nosso ego se protege contra as exigências instintivas. As primeiras intervenções repressivas do superego (pai), teve lugar na nossa tenra infância. De certa forma, todos nós somos um pouco neuróticos, por que temos conflitos mal resolvidos de nossa vivência infantil, cujas seqüelas ficam guardadas no porão obscuro do “inconsciente”.
Todos nós usamos métodos defensivos, projeções, racionalizações, etc.

Eu falei de sublimação como um deslocamento da finalidade instintiva, para algo sublime, em conformidade com os valores sociais mais elevados.

A abdicação dos desejos instintivos em favor de um objeto melhor qualificado para se realizar, determina, frequentemente, a relação de uma moça com alguns homens a quem ela escolhe para representá-la. Com base nessa dedicação “altruísta”, ela espera que o homem execute e realize projeto em que ela se crê prejudicada pelo seu sexo.

Como eu falei: “O negar a si mesmo”, como pensa a maioria das igrejas é reprimir os instintos. E, dessa forma, a NEGAÇÃO não passa de um mecanismo de defesa psíquico, em que o sujeito para não ter o desprazer de ser censurado pelo super-ego, se vale, inconscientemente desse meio. Na realidade o que acontece: o indivíduo ao invés de aceitar o “mal” que habita nele, procura, através da religião, projetá-lo no outro. Não podemos eliminar o superego, mas podemos perfeitamente fazer com ele, um acordo ou armistício.

Nietzsche defendia que havia duas negações, quando assim escreveu: “existe a negação que encerra em si mesma a minha imoralidade. De um lado, eu nego um tipo de homem que até agora tem sido considerado como superior: o dos bons, dos benévolos, dos caridosos; de outro, contradigo uma espécie de moral que chegou a adquirir a certa preponderância, chamada mais claramente de a moral decadente, a “moral cristã”.

Rodrigo

Para apimentar mais a nossa interação a respeito, do “Negar a si mesmo”, gostaria de saber a sua opinião, sobre o artigo Negar a Si Mesmo – O Que é?!, que publiquei no “Ensaios & Prosas”, cujo link, segue abaixo:

http://levibronze.blogspot.com/2010/11/negar-si-mesmo-o-que-e.html

Esdras Gregório disse...

Nossa Rodrigo já adiantou o assunto rsr tudo o que falou vou tratar em outro post bem pra frente, vou falar sobre o sentido real do casamento como instituição e como amor, enfim aqui só falei que nao existe desejo de cometar adultério mas atracão sexual normal por outra pessoa, pois o instinto nao é determinado,e mesmo no amor, e na pessoa satisfeita, com o parceiro existe atracão ,e a atracão é da natureza, ela não visa o pecado mas satisfação, cabe cada um lidar com isso.

Esdras Gregório disse...

Levi os cristão são os que menos se negam pois não aceitam o fim da vida, antes querem viver eternamente rsrs outro dia eu falo sobre isso rsrs

Esdras Gregório disse...

Que liberdade Adriana se ta louca rsrs

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

LEVI,

Penso que estamos em acordo sobre muitas dessas questões, mas quero ler com calma o artigo de sua autoria que me indicou e ontem, quando dei uma passada breve por ele, vi que conseguiu provocar uma discussão bem apimentada. Parabéns!


GRESDER,

Concordo que o instinto em si não leva ninguém ao pecado. É super natural que um homem se sinta atraído por uma mulher, independentemente desta ser sua esposa. Faz parte da natureza mesmo! Contudo, a mente do homem é capaz de criar inúmeras fantasias e de alimentar desejos que serão catastróficos para uma convivência harmoniosa. Logo, a prática sexual tanto pode construir o bem como ser usada para o mal. É o que ocorre quando um homem resolve sair transando com tudo quanto é mulher que vê pela frente. Por isto a Torah recomenda que o rei não devia ter muitas esposas e que o homem não arranjasse outra mulher para ser rival de sua companheira enquanto esta vivesse. Ainda assim, o homem descobriu a poligamia como uma maneira de aumentar o número de filhos e ter uma vida mais prazeirosa. Mas isto, apesar de trazer uma grande ddesarmonia para dentro do lar e para o próprio homem, certamente não foi o maior de todos os pecados. Foi só uma manifestação do pecado, do nosso conflito interior...


"(...) os cristão são os que menos se negam pois não aceitam o fim da vida, antes querem viver eternamente"

Aí, mano, penso que todos já vivemos eternamente visto que a Vida é muito mais do que a animação do corpo. Veja, pois, o que te respondi ao replicar ao seu comentário no texto "Reflexões sobre o caminhar da humanidade" do meu blogue:

http://doutorrodrigoluz.blogspot.com/2011/04/reflexoes-sobre-o-caminhar-da.html

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Em tempo!

Já comentei no artigo do Levi e busquei acompanhar os comentários dos outros internautas deixados lá (inclusive tem coisa do Gresder e de outros frequentadores). Mas compartilho aqui o que coloquei lá sobre o negar a si mesmo, buscando responder às 3 indagações propostas pelo Levi:

1.O “Negar a si mesmo” (dito por Cristo) seria o mesmo que reprimir os desejos profundos e intrínsecos de nossa natureza em benefício de algo maior?

Resposta: Não necessariamente reprimir os desejos, mas a maneira errada de realizá-los. Mas contextualmente o "negar a si mesmo" está relacionado ao discípulo "tomar sua cruz". Aí, se entendermos que o dito não seja original de Jesus, mas sim uma elaboração posterior à sua crucificação pela Igreja primitiva perseguida, o negar a si mesmo corresponderia a uma existência pautada na de Jesus onde o discípulo arriscaria a sua vida pela causa de Jesus e pelo Evangelho. E então, para sacrificar a vida pelo Evangelho (um bem maior), o discípulo deveria ser capaz de negar a certos desejos que impedissem a realização de tal obra, inclusive o desejo de prolongar sua existência física neste mundo, digamos assim. Porém, acho que quando pregadores eclesiásticos usam a passagem para defenderem a renúncia a valores seculares (como se Cristo não tivesse sido um caa bem secular), ou ainda fazer disto um argumento pró-celibato dos padres, penso que aí já seria doutrina extra-bíblica.


2. Esse “Negar a si mesmo” significa simplesmente dizer NÃO ou um BASTA a esse encantamento narcísico, a essa bela imagem que fazemos de nós?

Gostei deste aprofundamento, mano! Seria uma nova leitura do dito atribuído a Jesus visto que não posso tomar a minha crus e seguir a Jesus sem que também mate o meu egocentrismo, sem resolver-me interiormente em relação ao desejo de que tudo deva girar ao redor da minha pessoa.


3. Esse “Negar a si mesmo” diz respeito ao reconhecimento do nosso lado SOMBRA que, inconscientemente, projetamos no outro? Nesse caso, o “não negar a si mesmo”, seria o mesmo que não admitir o fato de que o comportamento “estranho” do outro, reflete o nosso eu interior coberto pela máscara social?
OBS: Para melhor entendimento, essa terceira opção poderia ser resumida da seguinte forma: Será que esse “negar a si mesmo” não seria o reconhecer que o nosso eu interior está coberto pela máscara social?

Boa indagação! E acho que complementa em detalhe as anteriores, inclusive a noção primitiva e que se aproxime de uma exegese do texto bíblico. POis não posso tomar a cruz e seguir a Jesus sem antes reconhecer que uso uma máscara social para adequar-me ao meio onde vivo. Pois o comportamento de Jesus foi evidentemente estranho para a sociedade em que Ele vivia. Jesus não se conformou com o estilo de vida hipócrita e falso dos homens. Ele não negociou sua fé e sua consciência. Então ele se expôs ao ridículo, tornou-se maldição, um "ferido de Deus" e foi oprimido. E ninguém consegue enfrentar o que é vergonhoso sem antes tirar as máscaras.

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“todo ponto de vista é à vista de
um ponto, nos sempre vemos de um
ponto, somente Deus tem todos os
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todos os pontos.”
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