domingo, 27 de junho de 2010

A apocalipsidade da vida



Dentre noites sem luas e escuras, tardes de outono melancólicas, pânico generalizado na população, angustias profundas de almas piedosas, espaços físicos tenebrosos e ambientes psíquicos sugestivos, e de todas as sensações, emoções e impressões humanas a que mais produziu até hoje: mitos, revelações e lendas, foram à percepção de proximidade da morte. Mas morte no sentido de que não se cabe mais neste mundo. Como se estando encurralado pelas conjunturas religiosas e espirituais que os cercam. Coisa que sempre aconteceu em quase todas as religiões ou épocas da humanidade, pois até hoje sempre se teve e se tem a impressão de que se vivi na iminência do fim dos tempos.

O medo do inesperado, a luta pela sobrevivência, a vulnerabilidade da vida e a sensação de se ser esmagado pela complexidade e mistério místico do mundo sempre foi material farto para a imaginação fértil de todos os povos primitivos que pisaram esta terra fantasmagoricamente fantástica. De forma que até hoje como que por reminiscência dos genes de nossos ancestrais em nosso sangue, também sentimos esta impressão apocalíptica da vida tirar o nosso sono e levar embora o nosso desejo de perpetuidade feliz nesta terra.

Como animais selvagens que lutam a cada dia nos perigos de seu habitat pela sua sobrevivência diária com atenção redobrada e cuidados e medos sobressaltados. Assim esta o homem a buscar não só a satisfação das suas necessidades básicas naturais, mas também as das suas faculdades sociais e morais, sendo poderosamente influenciado em seu modo de perceber o mundo espiritual pela impressão impregnada no seu inconsciente dos ânimos ressaltados de suas sucessivas lutas pela sobrevivência da vida.

Junte se as perseguições aos religiosos a visão do espetáculo de impérios monstruosos engolindo e dizimando nações, terremotos, guerras, pragas, privações, dores, sensação de proximidade de morte, mais uma poderosa intuição particular inexplicável dentro deles, mais todos os seus medos, todas as suas esperanças, todas as lembranças e promessas milenares e recentes, com as suas próprias perspectivas de que este mundo esta moralmente perdido, com o desejo despertado do seu senso de justiça para que Deus punisse toda maldade humana. Junte tudo isso ocorrendo por fora de um profeta, de forma tão poderosa a mexer com todo o seu interior, seus sonhos seus medos e seus surtos, junte isso e temos uma revelação apocalíptica, como muitos tiveram no decorrer da historia da religião.

E apesar de o livro e as predições escatológicas que levam o nome do autor como sendo João o Apostolo ser integrantes de um estilo literário apocalíptico vigente desde a época de Daniel e Ezequiel, que são cuidadosamente elaborados pelos autores com todos os seus símbolos figuras e numerologia que trazem uma mensagem Profunda e indireta a respeito da soberania de Deus sobre este mundo, como consolo aos fieis. Tais escritores não foram interlocutores inteiramente conscientes do que faziam como também não foram totalmente passivos de uma revelação mística, mas sem ao menos tomarem conta de todo processo psíquico escreveram entre a lucidez de seus propósitos, inspirados pelas impressões mais profundas dos seus inconscientes marcados pela apocalipsidade de suas próprias vidas.

Gresder Sil

escrito em 09/05/10

sábado, 19 de junho de 2010

O Homem que perdoava pecados



Ao olhar para a multidão, Ele sentiu compaixão por eles todos, pois eram como ovelhas sem pastores. Aquele era o seu povo, mas antes de tudo eram gente que sente e sofre, gente que sem esperança andavam desgarradas pelo mundo, pois na religião oficial de seu país eles não encontraram lugar.

Como podia Ele, um nobre entre os homens, direcionar seus olhos para outro lugar mais alto, se andando no chão desta existência, Ele esbarrava e tropeçava em todo tipo de pobre, e em todo tipo de mutilado pela vida. Profundamente comovido, Ele acreditou ser Ele o escolhido para poder dar sentido e esperança aos pobres e pequeninos deste mundo, a começar pelos seus.

Intimamente massacrados pela mentalidade da religião, aquela gente acreditava estar naquelas circunstâncias por causas de seus pecados, pois para eles toda a miséria e moléstias de um homem eram porque ele mesmo ou seus pais tinha pecado.

O que fazer agora! Dar aquele povo uma explicação filosófica sobre a realidade de que um ser jogado aleatoriamente na vida, pressionado pelas suas necessidades, consumidos pelas suas ânsias de ser feliz, não tinha culpa nem uma do seu estado miserável de existência?

Não! Aquele povo não precisava de uma iluminação metafísica das origens e motivos das coisas, que em nada os fariam melhorarem. Eles necessitavam é de se sentirem amados, de se sentirem perdoados, pois a dose de culpa que injetaram na consciência daquelas pessoas, perpassava todo o seu corpo, e contaminavam, e obstruíam todas as suas veias e canais por onde passavam as entradas e saídas da Vida.

Portanto Ele podia perdoar pecados, porque não existiam pecados, o que existiam eram apenas homens descalços na estrada poeirenta da vida. Ele podia perdoar, porque Ele sabia que perdoar era o sinônimo do amor que eles tanto precisavam para poder voltar a viver com dignidade. Visto estar à redenção de um homem para uma nova vida na quantidade de valorização que ele recebe: “a quem mais foi perdoado, tanto mais amou”.

Se os primeiros homens de sua raça imaginaram pecados como culpa e responsabilidade aonde não existiam em seres encurralados pelas demandas poderosas da vida. Ele do mesmo modo concebeu um perdão que também não era necessário em uma suposta dimensão espiritual, mas que era indispensável aos sentidos humanos como um símbolo do Amor emocional e psicologicamente redentivo.


Gresder Sil
(Esdras Gregório)


Baseado na tese de que o velho testamento é construção e interpretação teológica de como os judeus perceberam e conceberam a atuação de Deus sobre o mundo. E na tese de que Jesus sendo apenas o Servo escolhido e Profeta prometido, muitas vezes teve que se esvaziar de seu entendimento mental sobre o mundo para falar em parábolas hipérboles e símbolos ao coração daquela gente.


Escrito em 29/05/10

sábado, 12 de junho de 2010

De tão humano, Ele só poderia ser Deus



Aquele que mesmo que sendo Deus, não deixou de contemplar de novo, o quanto era muito bom o que tinha feito.

Ele não era um místico alienado do mundo, pois era intensamente humano, o mau do mundo a que estava imerso, não se confundia nele.

Ele se apaixonou pela vida, foi criança, foi homem.

Observou a natureza dos animais e do trabalho rural, exaltou o trabalho do pai de família que padece sobre o sol, dignificou o amor no casamento fazendo analogia com a vida eterna, se encantou com as crianças, chorou pelos seus, e amou os homens.

Foi verdadeiramente mundano, comeu a fartar e bebeu a sorrir sem deixar de saber na pele o que é pobreza, trabalho duro e temor a Deus.

Da sua boca não há testemunho de que alguma vez gracejou, não fazia piadinhas, não deu gargalhada, não menosprezou nem mesmo o tentador no deserto e não sabemos se riu debochadamente de alguém ou de alguma coisa.

Mas em todas as suas palavras há um teor e um tom de esperança e alegria absolutas. Ouvi-lo ontem ou hoje é gozo indizível que sacia a alma.

A vida pulsa em seu ensino, a graça de sua verdade incendeia o coração de quem se prostra diante de seus pés para beber sedento as suas palavras como água fresca.

Não trouxe a nós novos conhecimentos, apenas rasgou a cortina da religião para que os nossos olhos vissem toda a verdade escrita na natureza e na existência humana.

O que não sabia ele, que os sábios clássicos do ocidente e do oriente também não sabiam? A vida era seu livro, e em cada dia vivido, tirava a sua lição aos discípulos e ao mundo; entendeu e rejubilou pelo fato de que todo o conhecimento essencial sobre a terra e a eternidade está ao alcance dos pequeninos.

Ele olhou para a natureza e viu que ela bastava a si mesmo.

Notou que não havia em toda a criação falta ou insatisfação; o animal comia sem aflição o seu alimento e as plantas bebiam completamente satisfeitas os raios do sol de Deus posto sobre elas.

Portanto Ele sabia que da mesma forma que Deus vestia as flores e alimentava os pássaros, cuidaria também, e com carinho e zelo de Pai provedor, dos homens a qual tanto quer bem.


Gresder Sil


Ao dizermos que ele foi apenas um homem, abrimos um leque de possibilidades de interpretações das mais ousadas as mais idiotas a seu respeito, e por isso imortaliza-lo como Deus é, e foi o meio mais seguro de preservar irretocável este presente único de Deus para os homens


escrito em 29/09/09

sábado, 5 de junho de 2010

O Cristo de um cristianismo a-religioso


Os grandes Filósofos e Profetas e principalmente os dois homens mais importantes e visionários da humanidade: Moises e Jesus, apesar de serem traspassados pelo Espírito divino, eles provavelmente como nós, também tiveram suas profundas duvidas e crises de fé. Mas sem dúvida nem uma eles tinham fé inabalável em um Deus invisível, incorpóreo, inominável, incomensurável e inexaurível, e muito mais ainda acreditavam em suas missões sobre esta terra em dar uma Face reconhecível a este Deus.


Pois possivelmente para eles esse Deus estava muito além de tudo e de todos, sendo indecifrável, Irrepresentável, incognoscível, cego surdo e mudo, que, entretanto, anda fala é vê de forma imperceptível sobre o mundo. Que não tem nome, que não tem cor que não tem cheiro, que não tem imagem que não tem corpo, mas que tudo toca que tudo permeia.


Este Deus nada falou para eles, mas sussurrava em seus ouvidos, Ele nada lhes revelou literalmente e nada lhes mostrou face a face, mas eles só o viam em suas frentes em tudo o que observavam e em tudo o que tocavam, faziam e sentiam. Portanto para eles este Deus era muito vasto e profundo para ser simplesmente como a gente é: individual, pessoal, concebível, nominável e tangível ao entendimento. Mas por sentirem uma chama e uma responsabilidade incessante em seus interiores, eles deram cor, vida e vontade a este grande Desconhecido.


Eles como homens pensaram e sentiram ainda, que poderíamos talvez estarmos sós neste mundo, ao mesmo tempo em que inevitavelmente notaram que este mundo é escandalosamente místico e divino para não perceber a mão do Todo Poderoso em tudo o que viam. Eles sabiam que não havia provas concretas de outra Pessoa do outro lado, mas mesmo assim deram pessoalidade a este incrível Ser que é fonte de toda a Vida e beleza, e da qual todos nos somos procedentes.


Estes grandes homens da humanidade viveram de suas intuições que perpassavam os recessos mais profundos de seus inconscientes, dando lhe momentos de iluminação e inspiração que não é licito falar aos ouvidos dos homens, e que por isso falaram em parábolas, figuras de linguagens, “revelações”, alegorias e mitos.


Os maiores conhecimentos do mundo sobre Deus e sobre a vida morreram com seus receptadores, pois eles sabiam que muitos da humanidade não poderiam suportar a verdade crua que especialmente eles eram dotados de lentes para ver. Há exemplo de Jesus, todos podem saber o que Ele queria ensinar, pois doutrinava ao simples de forma a ser aceito pelos pequeninos do mundo, mas quase ninguém sabe o que se passou na cabeça daquele homem enviado dos céus.


O que ele viu e sentiu esta para muito além de nós de forma que ele teve muitas vezes que blefar, e falar somente ao coração e não desiludir para não deixar morrer os seus seguidores desesperançados neste mundo, criando um novo sentido de esperança para os seus. Ninguém amou tanto os homens como Ele amor, e por isso por sua conta e rico, arriscou e disse o que disse sobre este Deus indizível que nada dizia. Sabendo que a oportunidade Dele era única e que em nem outro se poderia manifestar de novo tantos dons e oportunidades de um homem ser confundido com Deus e deixar tanto deste Deus Desconhecido para os seus discípulos e para a posteridade da humanidade.


Ao homem que teve a maior intuição do mundo sobre Deus e que por sua conta e risco se deixou passar por Deus, se devotam hoje o maior tributo de amor que alguém pode receber nesta vida. Os verdadeiros cristãos ortodoxos que acreditam que Ele sendo Deus, se fez homem pelo poder do Espírito Santo para redimir a humanidade, o amam e o adoram de paixão. Tanto quanto também os cristãos humanistas o amam do mesmo jeito, com a mesma veneração, com a mesma paixão e com os mesmos sentimentos do coração, que acreditam que Ele sendo somente homem, foi feito Deus pelo amor deslumbrado dos que os seguiram de perto, e que se deixou ser, por amor aos homens da qual estava irmanada na existência: o representante insuperável deste Deus* de amor e graça que inundava o seu Ser.


Gresder Sil


*Deus sempre será o reflexo do autor que o pinta.


Escrito originalmente em 29/04/10

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...