segunda-feira, 31 de maio de 2010

Deus no paredão




Infeliz foi para Deus o dia em que Ele disse: “vinde questionai-me” (Is 1; 18), pois desde então não mais saímos das soleiras das portas de seus átrios. Mas daquela ultima vez nós estávamos terríveis, quase fomos expulso do fórum celestial das causas teológicas complicadas.

O anjo promotor que aparentava ser um fundamentalista conservador para manter o seu cargo, mas que no fundo tinha convicções heterodoxas modernas, nos perguntou: “de onde vens” então respondemos: “de rodear a terra e passear por ela, e ver as suas infinitas formas de doutrinas, crenças e teologias na cristandade que mais da um nó na cabeça dos homens do que ajuda em alguma coisa”

Bom... a primeira coisa que reclamamos naquele dia fatídico que era o dia marcado em que os filhos de Deus se apresentavam perante o Senhor (Jó 1; 6) foi que não era justo que os nossos acasos infelizes nesta vida fossem considerados castigos Divinos por nós termos questionados as verdades absolutas da religião, sendo que foi o próprio Deus que pediu para ser interrogado em suas razões.

Mas naquela oportunidade estávamos tão afoitos e apresados que nem esperamos o Senhor explicar direito que isso era coisa de pessoas que atribui a Deus os seus pensamentos e posturas e que não aceitam em ser contrariadas. Pois indignados por termos encontrado satanás saindo para tentar Jó na hora em que estávamos entrando na grande sala de recepção (Jó 2; 7), já discutimos com Deus porque Ele ainda mantinha o diabo como seu capataz para fazer todo o serviço sujo.

Que coisa em! Diante deste impasse “fez se um silêncio no céu por cerca de meia hora” (Ap 8;1 ) ate que o Senhor depois de ficar estático, recobrou o seu animo e como um bondoso velhinho, tentou nos explicar falando baixinho que Ele estava com o rabo preso com o Lúcius que tinha feito graves acusações a soberania de Deus perante os anjos no tempo em que era o regente do grande coral, e que por isso não podia despedir ou eliminar de vez o diabo, pois essa atitude seria vista como queima de arquivo e supressão de testemunhas antes de Ele provar para todos no desfecho apocalíptico da história que Ele não era esse sujeito tirano e arbitrário que o desgraçado do Malacabado disse.

Não muito satisfeitos com as questões enroladas e embaraçadas assim nos céus como eram na terra (Mt 6;10), deixamos este assunto para aproveitar, já que estávamos abusados em se intrometer em coisas proibidas, para pedir ao Senhor Deus a abolição do inferno de uma vez por todas. Para isso argumentamos que não era totalmente justo aos olhos dos homens pós-medievais que um ser humano que peca por uma ínfima vida na terra seja condenado por uma eternidade sem fim.

Daí que para ser coerente o Senhor nos disse que para tirar o inferno teria que acabar com o Céu também. “Estaria ótimo” dizemos nós “mil vezes melhor ninguém ser salvo ou perdido, do que gozarmos o Céu enquanto a maioria dos nossos semelhantes sofre o inferno”. “Que bom que todos pensassem assim” disse Deus “mas a maioria querem o céu para si como recompensa de suas privações e provações, enquanto querem por inveja intima e desaforo inconsciente que o resto se ferre no inferno por ter gozado plenamente de todos os prazeres que os crentes queriam praticar, mas por não saberem pecar direito, não fizeram totalmente”.

Gresder Sil

escrito em 25/04/10

terça-feira, 25 de maio de 2010

As razões do coração



Os dias se passam e cada vez mais se concebe em minha mente a idéia de que seja inconcebível um Deus semelhante a nós como sendo uma entidade Pessoal ou um Ser com personalidade como nós a temos. Ira ou amor, misericórdia ou castigo, justiça e juízo me parecem cada vez mais pela minha intuição racional, predicados humanos aos quais os homens atribuíram à divindade em suas experiências místicas e indiretas com o Todo Poderoso.

Isso posto pelo fato de que a personalidade dos entes morais conscientes como nós a conhecemos é formada não somente pelas pulsões e tendências inatas tanto da raça característica do individuo como dos instintos de sua espécie animal, como também pelas influencias externas das experiências particulares e acasos existenciais aleatórios que motivam o individuo em sua formação e ação nesta vida. Coisas que não acometem o Espírito puro e inalterável do ser de Deus.

E particularmente, apesar de nem mesmo em pelo menos uma hora completa de toda a minha experiência nesta vida eu tenha emocional ou racionalmente duvidado de Sua existência, a cada dia toma forma em mim a concepção de que Ele seja um Deus sem forma concebível suspenso sobre o Vazio absoluto do tempo e do espaço. Como sendo um Ser impessoal semi-conciente que tudo cria, move e conduz como produção inconsciente de seu Ser e Energia.

Porem, no entanto “o coração tem razão que a Razão desconhece”, pois se com a mente eu sou um verdadeiro herege e apóstata, com concepções filosóficas Monista e Deísta que não acredita nem na personalidade de Deus e nem em castigos ou recompensas após a morte. Com o coração eu sou completamente apaixonado pelo Deus temperamental dos hebreus que não somente se arrepende de ter criado o homem, mas que também se arrepende de ter se arrependido de criar os homens.

Pois eu ainda choro ao ler as passagens dos Profetas que narram não só a ira deste Deus zeloso, mas principalmente a sua emocionante proposta de Misericórdia e Amor a um povo rebelde e obstinado de coração. Isto porque este Deus dos filósofos impassível que convence a minha razão jamais proporcionou para minha alma tanto gozo e singeleza de coração como o Deus passional e ciumento desenhado na saga apaixonante do velho testamento.

Portanto por mais que a minha mente alce vôos mais altos e eu tente me libertar de toda essa bagagem de tabus, superstições e mitos milenares, nas minhas veias correm o sangue de crente, e toda estrutura básica do meu ser foi constituída no fundamento do Monoteísmo judaico-cristão. Herança e legado estes na qual eu fui achado e encontrado existencialmente, e que eu não posso negar como minhas origens nesta vida, tendo sempre em mente que as cordas que tocam a musica do coração, não são as mesmas que movimentam os mecanismos da razão.

Gresder Sil

escrito em 03/04/10

quinta-feira, 20 de maio de 2010

O casamento como segregação espiritual




O casamento faz uma triagem na sociedade elegendo os melhores tipos de cada grupo social, deixando a margem deste beneficio os indivíduos que naturalmente são inadequados para uma vida social em que somente se estabelecem aqueles que têm certa estrutura psicológica, física, social e econômica para manter este modo de vida.


Não que os de uma classe pobre da sociedade não sejam eleitos para esta vida, mas que os tipos extremos de cada camada do conjunto social são relegados na segregação em que os deuses da sociedade fazem purgando os excêntricos ou deficientes a qual não se enquadram no tipo daqueles que como cidadãos saudáveis do seu meio são a nata e a fina flor de cada casta social a qual pertencem.


Os naturalmente muito tímidos ou demasiados extrovertidos e excêntricos, os reprimidos demais ou “santos”, tanto quanto os inconvenientes e indecentes morais, assim como os gênios alienados e os idiotas e “sem noção” dificilmente se enquadram no padrão para uma vida social a dois. Tanto quanto também os fisicamente fora do padrão como: os autos demais, baixos de mais, gordos de mais ou magros de mais, ou com pele demasiadamente escura ou branquicenta de mais, juntamente com todos os que não têm um nível de saúde e beleza mediana padrão, são simplesmente deixadas para traz.


E não há Mãe de santo, Santo Antonio ou “Deus de promessas” que posam mudar esta realidade social em que a maquina da sociedade escolhe e predestina um sujeito para um modo de vida. Enquanto segrega, corta, rejeita, elimina e desaprova outro, o lançado para uma luta e tentativa desesperada de alcançar um estilo de vida que não é somente um modo protegido de relações sexual e segurança emocional como também um status social.


Tendo também aqueles que por um desencontro social e individualidade excessiva vão “galgar” o posto de cidadão casado muito mais tarde do que a media dos que estão praticamente prontos no despertar da mocidade. Que estando num nível social, pensam e vivem fora do meio em que naturalmente se originaram, e que por isso irão lutar pelos seus ideais de vida e subsistência não conseguindo se estabelecerem cedo numa relação emocional ou situação social adequável.


Daí que dizer que a relação sexual de adultos responsáveis fora do casamento é pecado ou proibida por Deus é tão insustentavel e injusto quanto dizer que somente tem o direito de satisfazer suas necessidades humanas, certos tipos específicos de individuo da sociedade. Quanto é tão forsozo acreditar que aqueles a qual “esperam em Deus” conseguiram um casamento, sendo que Deus não privilegia os “justos”, mas faz raiar o seu sol sobre bons e maus, deixando que a vida siga o seu curso natural tanto das leis da natureza como das leis da sociedade em que vivemos.


Gresder Sil


Baseado nas estatísticas e estudos do fundador da sociologia: Émile Durkheim


Escrito em 11/04/10


sábado, 15 de maio de 2010

O espetáculo da Cruz



Para um cristianismo a-religioso universal a ressurreição não é uma doutrina imprescindível, pois ela é um acontecimento visto e contado por poucas testemunhas oculares e parciais que nos levam ao ponto decisivo de um relato sem provas suficientes e cabais. E sendo exclusivamente um acontecimento que não se pode comprovar por ser um retrato feito, não com a objetividade fria da historia, mas com amor apaixonado dos seguidores, a ressurreição logo se torna uma questão pura e sobrenatural da fé e do coração dos crentes.


Entretanto a crucificação não é um acontecimento visto por poucas pessoas particulares, mais visto por todo o povo, e por eminências atestadas pela historia (Pilatos, Herodes, Caifás, Anás), portanto ela não necessariamente precisa do fator sobrenatural a qual um cristianismo a-religioso voltado ao homem contemporâneo se propõe a propagar. A crucificação se trata do maior espetáculo de Deus para toda a humanidade ver e assistir, independente da fé religiosa.


Tirem a ressurreição do cristianismo que á fé da maioria dos cristãos tradicionais se perdem apesar de Ele ainda permanecer vivo e imortal para o mundo, agora tirem o acontecimento histórico mais trágico-magnífico da humanidade que é crucificação, que Jesus seria no máximo mencionado como um mero profeta dos hebreus dentre muitos homens da humanidade que ensinaram e fizeram coisas maravilhosas.


A Cruz é o apogeu absoluto da revelação de Deus a humanidade, e exatamente pelo fato de ela ser a apoteose da Paixão do Cristo por seus seguidores. Uma paixão no sentido existencial/religioso do termo significa o trajeto épico doloroso e ariscado feito por Aquele que morre por sacrifício de amor aos seus. Num ato espetacular onde todos, ateus e crentes, sábios e ignorantes, grandes e pequeninos contemplam estupefatos diante de tamanha intensidade de Amor e Dor de um homem obcecado por sua Causa: dar um novo rosto ao Deus dos seus antepassados*, a qual Ele ousou chamar de Pai.


Se não fosse o espetáculo da sua morte hedionda e injusta de Cruz, Jesus não seria visto, não seria lembrado, e não seria notado em sua época junto com outros salvadores que surgiram naquele tempo. Pois apenas como homem independente da vontade de Deus por traz de tudo isso, Ele mesmo com as suas atitudes e posturas provocou consciente a sua própria morte para dar ao mundo a sua Palavra que somente cresceria como semente que nasce após morrer na terra.


Deste modo atuou Ele como os grandes homens deste mundo que não foram de todo cautelosos perante os seus inimigos em suas causas pela humanidade, e que eram conscientes de suas importâncias como olhos e voz de Deus para os homens. E assim especialmente Ele agiu ciente de todos os riscos e conjunturas sociais/religiosas que o levariam a morte como sendo o mártir e suicida religioso magno da humanidade, que caminhava convicto ao seu destino sabendo que unicamente uma morte Grandiosa poderia selar a sua vida com a Gloria da imortalidade de sua Causa de Amor a todos os homens.


Gresder Sil





*Desde Paulo o apostolo, depois o apologista Irineu no segundo século da era cristã, Santo Anselmo teólogo e filósofo medieval italiano, o polêmico e herético Pelagio, o controvertido e “imoral” Pedro Abelardo, e o “Pai” do liberalismo teológico: Ritschel entre ouros, o cristianismo sempre teve varias teorias sobre o significado da missão e morte de Jesus nesta terra, prevalecendo até hoje na cristandade a doutrina da espiaçao pelos pecados da humanidade, que não é necessariamente a mesma de um cristianismo a-religioso.


escrito originalmente em 22/03/10

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Bíblia Sagrada Vs. Palavra de Deus



Definitivamente a bíblia não é a Palavra de Deus. Pois como poderia o invólucro ser idêntico a substância, e como poderia a embalagem ser a mesma coisa que o produto? Hora essa, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa! Confundir o transmissor com a Mensagem é quase o mesmo que adorar a criatura confundindo a com o Criador.

A bíblia esta no tempo, tem a sua origem na historia, é massa material produzida por energia e movimento. Entretanto a Palavra é tão eterna quanto Deus e tão imaterial e incomensurável quanto Aquele que a inspira. Ela e é a soma total de tudo o que é e sente o Seu Interlocutor, dita em parte e particularmente a cada ouvinte; enquanto a outra é somente a forma humana e literária como essa Palavra foi aplicada e sentida singularmente no tempo em que foi escrita.

Uma é a produção do homem do receptáculo com todas as suas características humanas inerentemente limitadas e vulneráveis para conter o espetáculo da Revelação adaptada de Deus aos homens. Visto ser na relatividade da cultura, moral e tradição de uma raça da humanidade que Deus melhor se deu a conhecer e ser apreendido conforme o entendimento e capacidade daquele povo que registrou aquela mensagem com as suas próprias palavras e letras humanas.

Mas essas palavras, não são para nos Palavra de Deus na mesma proporção em que foram para eles. Entretanto elas são a Palavra na medida em que rompe toda a barreira provisória do entendimento singular histórico de uma época, para trazer até nos, como foi para eles naquele tempo, a essência única da Mensagem que jamais deve ser confundida com o veiculo humano que a transporta. Ou seja: a Palavra é mensagem subjetiva ao coração que transcende tempo e cultura, enquanto a bíblia é apenas o Registro e Testamento histórico e objetivo da sua primeira e principal manifestação.

Gresder Sil
escrito em 22/02/10

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Império do medo



No tempo em que eram construídas as primeiras catedrais
góticas, nas regiões montanhosas da antiga Gália,
aconteceu um episodio horrível que marcou a vida
e crendice dos camponeses por varias gerações.

Pois morava nas florestas um homem tido como bruxo,
que de tempo em tempo descia para as praças da cidade
para despregar tudo os que os monges ensinavam sob
orientação do seu bom e velho bispo.

Diziam eles que não convinha a alma dos santos desfrutarem
dos prazeres desta vida, mas antes usar a parte destinada
de suas rendas as coisas supérfulas para a manutenção
do império de Deus nesta terra.

Mas o bruxo, e de fato era bruxo mesmo, pois conversava
com as plantas e animais e se automedicava com as ervas
milagrosas e exóticas da Terra, não suportava em ver
ser privado do pobre o seu direito aos pequenos deleites
e prazerem desta sua única vida nesta terra.

Isto deixava o bispo numa situação desconfortável, pois
pregando o amor cristão não poderia eliminar aquele que vinha
perturbando a seara do Senhor. E assim teve que
suportar aquilo esperando ansiosamente descer a vingança divina.

Mas não tinha jeito, o homem que fora acostumado a
enfrentar as feras nas florestas para sobreviver, não
temia nem um pouco o olhar raivoso dos monges que
ele contradizia nas suas aparições esporádicas entre o povo.

Mas aconteceu que um dia estando ele na floresta machucando
e exausto pelas sucessivas lutas arriscadas que travava
para sobreviver entre os bichos e a fúria da natureza,
foi surpreendido por uma ursa inconsolada que o despedaçou.

Aquilo causou um temor e terror em cadeia entre o povo
sem precedentes, pois as suas partes foram encontradas
em vários lugares daquela região. Estava feito,
a superstição prevaleceria sobre a razão, e ninguém mais
em muito tempo ousaria se levantar contra a santa madre igreja.

E assim depois de algum tempo o velho octogenário,
cercado de médicos e soldados, e sempre alimentado pelas
melhores e mais saldáveis comidas, morreu dormindo,
gordo e feliz abraçado num travesseiro de plumas
de aves raras na suíte máster de seu castelo.


Gresder Sil



Inspirado na morte trágica do Pai de meu amigo nordestino e poeta assembleiano: Levi Bronzeado, a qual foi tida pelos irmãos como castigo de Deus pelas suas “heresias”.

E como eu não sou bobo e não perco vigem serve para mim também como uma espécie de “epitáfio” ou “justificação” (explicação psico- sociológica) caso minha morte seja prematura ou ignominiosa, já que “decidi” viver em Todos os sentidos uma vida de alto risco, não buscando mais a imunidade “divina” privilegiada. Que esta supostamente reservada somente para os santos bem-aventurados, e da qual não desfruta o resto da humanidade a que pertenço e me solidarizo até a morte como criatura do mesmo e Único Deus indomesticável.

Detalha o bispo não é uma indireta a alguma pessoa real, mas apenas um arquétipo de pessoas religiosas que naturalmente vão morrer velhas, seguras e honradas por seguirem as boas crenças que professam e não viverem na intensidade, tensão e periculosidade de quem anda na contra mão.

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