quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O romantismo dos escritores sacros


Florear e romancear uma história não tem nada a ver com dar sentido amoroso a um enlace de um par específico de personagens históricos ou fictícios. Mas sim em explicar a condição humana como conseqüência de algum tipo de trajetória épica de uma acirrada luta entre o bem e o mau. Uma historia romântica é simplesmente uma saga com origens espirituais metafísicas em que no final o bem sempre ganha do mau.

Anseio este de triunfo do bem, que dominou sempre as almas piedosas e vitimas do mau e da maldade humana. E que por isso, como demanda humana que deseja um produto que venha satisfazer seus anseios de justiça, possibilitou o êxito absoluto das interpretações escatológicas que explicam a causa, motivo, origem e final de toda maldade humana num desfecho cósmico divino satisfatório e espetacular.

O grande motivo do sucesso das grandes religiões e instituições religiosas é a capacidade poética e organizada dos escritores sagrados e teólogos renomados em explicar de forma romântica e sistemática cada coisa e acontecimentos humano num conjunto teológico auto-suficiente e fechado de visão de mundo. Capacidade esta natural em todo grande escritor com seu próprio sistema filosófico.

Particularmente a doutrina cristã de que a maldade humana tem origem em uma Queda de um primeiro homem, e em uma necessidade de redenção efetuada por um sacrifício divino, além de ser coerente em si em todo o seu conjunto, é uma das historias mais lindas e confortadoras que a humanidade teve o privilégio de ouvir. Mas que só é uma bela historia no mundo fechado e reducionista da mente dos cristãos transformados pela poderosa influencia moral desta epopéia sagrada.

Posto que depois de tanta luta, tanta lagrima, tanta miséria e dor humana. Tanta infelicidade e desejo de felicidade, tanto ardor e paixão dos homens, tantas idéias, tantas crenças e religiões neste mundo, tantas produções e tantas guerras dos homens. Tantas historias humanas, tantas alegrias, tantas pessoas, tristezas e belezas nesta vida, um fim em que a maioria absoluta de todos os nossos semelhantes amigos e parentes vão ser condenados para sempre por não se tornarem cristãos enquanto poucos que conseguem serão salvos, é o desfecho mais pobre, da historia mais triste, e do “Deus” mais desumano mesquinho e injusto que existe.

Pois a historia de um deus que condena um ser humano que nasceu em desventura e que no anseio de buscar sua felicidade pecou por setenta anos ao sofrimento eterno simplesmente por que não acreditou em seus mediadores é tão monstruosamente injusta que anula totalmente o seu lado belo de um deus que se encarnou para salvar os pecadores arrependidos. É muita condenação para a proporção de pecados de seres atirados arbitrariamente a existência num estado de miséria moral e existencial, que além de serem azarados e infelizes neta vida, ainda por cima vão viver para todo o sempre no lago de fogo do inferno.

O evangelho desenvolvido a partir dos primeiros discípulos e aperfeiçoado pelos primeiros teólogos da igreja cristã como interpretação espiritual da vida, ensino e obra de Jesus sob a influencia da Idea grega do logos, só tem valor pelo seu efeito curativo individual na psique de milhares de pessoas deste mundo, mas como verdade universal é de longe a pior conclusão que um mundo e universo tão vasto, belo, mágico e complexo poderia ter! Que só pode ter sentido e ser aceito como verdade no mundo subjetivo de quem pela mente esta submergido a este modo romântico de interpretação de mundo.


Gresder Sil

Se Jesus soubesse que sua hipérbole do inferno viraria uma doutrina desta, Ele com certeza não teria ditos àquelas coisas sobre o verme que não morre no fogo como método pedagógico de ensino.

Nós criamos o céu e inferno, e esta na hora de aboli-los por completo com seus pedagios ao invés de alimentá-los com nossas mentes românticas e medievais.


Escrito em 23/11/10

sábado, 20 de novembro de 2010

A edição literária dos evangelhos


Ao se ler comparativamente os quatros evangelhos, ocorrência por ocorrência e dialogo por dialogo da tessitura destas biografias de Jesus, percebemos algumas posturas e formas literárias propositais de um autor, incompatíveis com os outros que salvam os livros tanto da visão radical de que Jesus nunca existiu que diz ser uma historia perfeitamente elaborada. Como também da visão fundamentalista de que os livros sejam uma obra divinamente inspirada e perfeita.

A primeira coisa que se nota ao olhar atentamente um episodio narrado por um evangelista e como é relatado por outro, é a inversão da ordem cronológica dos fatos e dos discursos, de forma que começo meio é fim de um mesmo relato e dialogo são invertidos livremente ou inconscientemente pelos autores. Acontecimento este em quase todo o decorrer de cada um dos evangelhos. Tornando no geral uma tarefa praticamente impossível de se tecer uma ordem cronológica e segura da vida concreta e histórica de Jesus.

Assim desta forma já a principio percebemos que nos evangelhos não existe uma combinação de autores, mas antes uma narração humana que demonstra tanto a natural impossibilidade dos escritores serem precisos literalmente depois de algum tempo do ocorrido, como a preocupação de se transmitir uma mensagem independente de ela estar sendo narrada infalivelmente na ordem que ocorreu tanto o fato como o discurso. O que tira já a princípio do evangelho tanto a possibilidade de uma divina inspiração ou uma elaborada invenção.

Ao passarmos dos episodio para a atenta observação das frases e discursos de Jesus, não só notamos que eles são invertidos em sua ordem de um autor para o outro, como também fica claro que os discípulos trocavam as palavras originais de Jesus por sinônimos, ou por descuido e esquecimento, ou para melhor propagar o espírito do ensino de Jesus. Pois enquanto um autor em uma mesma fala e episodio usa algumas palavras o outro usa outras expressões que não foram ditas originalmente por Jesus.

Mas que, entretanto significavam quase a mesma coisa, “quase” por que algumas frases de Jesus foram usadas por eles para significar também outras coisas entendias somente por eles do discurso de Jesus e “mastigada” para os leitores. Ou seja, pela troca sutil das palavras e expressões na mesma fala, não temos um registro das palavras originais de Jesus, mas uma tradução dos discípulos, conforme eles entenderam e quiseram que fossem entendidos.

Não obstante a inversão da ordem e a interpretação das palavras, os discípulos também fizeram naturalmente pela brevidade dos escritos: cortes e emendas na narração dos fatos, nos legando assim o melhor e mais significativo para eles num resumo cujo propósito não era a exatidão literal dos acontecimentos, mas a transmissão de uma mensagem que só poderia tocar o coração dos que não viram o que eles viram e sentiram, pela narração Editada e belamente romanceada da vida de Jesus.

E, sobretudo na comparação dos pequenos detalhes, objetos e números existem uma patente contradição entre eles, que muitos teólogos fazem um incrível malabarismo para tentar salvar os livros de imperfeição para provar uma doutrina sobre a bíblia que seria a sua infalibilidade literária e inspiração divina. Mas que sem saberem, tiram dela o seu fator vulnerável que faz com que os livros sejam autenticamente humanos. Pois a contradição em pequenos atos narrados por diversos autores, não anulam um documento histórico, mas antes demonstram que toda historia verdadeira e humana, só poderia ser contada nas condições de contradição e relatividade humana.

De forma que tal observação minuciosa e critica deixara bem claro que os evangelhos é uma edição humana da vida de um homem, como são editadas as idéias e falas de homens espirituosos cujo valor e o espírito de seus ensinos sempre transcenderam a letra e o literal, de forma que para se fazerem entendidos, os editores tiveram que tomar a liberdade até mesmo de tirarem às vezes os discursos do seu contexto literal arredondando e romanceando fatos e episódios para que os que fossem lêem depois pudessem sentir sem ver o que eles sentiram vendo e vivendo todo aquele tempo com alguém que eles testificam ser um homem cheio de graça e formosura.

Quem entende da formação oral dos mitos, do significado da simbologia, e sabe o que é um processo de edição de um livro e que sabe como é escrever ao coração, sabe que não existe nada de divino nestes livros, e sabe que o literal foi sufocado para que a mensagem fosse viva, e tão viva que apaixonou milhões (e que ainda emociona corações em todo o mundo hoje) sabe também que tal homem e historia não foi e não poderiam ser inventados, pois todo o processo ali dos autores foi tão humano, tão subjetivo e tão passionalmente escrito que somente o Amor destes discípulos foi o que provocou o talento literário destes homens para salvar esta mensagem como eles entenderam, quiseram entender, e quiseram que nós entendêssemos.

Esdras Gregorio

Escrito em 17/11/10

Baseado unicamente em minhas antiga anotações da leitura comparativa que fiz dos quatro evangelhos.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

As mãos de Deus


Em estações outonais de nossas almas e dias sem fé e de e seco ceticismo olharmos para os céus do nosso espaço sideral imenso e infimamente explorado e conhecido, e pensamos “estamos sozinhos no universo?”, “existe um Deus a nos olhar pelo menos?” “existe outros seres que compartilham conosco a vida e a consciência?”. E se estamos sós ou inacessíveis pela distância? O que seria de nossas vidas agora, qual Palavra, direção ou exemplo a seguir sem a fé em um Deus que domina sobre todo mundo?

Acaso agora sem a certeza de outra vida e de um juízo sobre nossas vidas nos tornaremos mais egoístas e pecadores ainda? Algum Ser ou alguém se importa conosco e com nossas felicidades e destino. Existe algum Amor ou motivo que possa nos influenciar e mover ao que é bom e evitarmos o mal, pressentindo e chegando a conclusão de que o Bem e o Mau pregado pela religião não existem a não ser como conceitos metafísicos na cabeça dos religiosos.

E então? Agora sem ter a certeza concreta de que tem alguém sobre o universo piora a condição da impiedade humana! Não! Pois agora sem auxílio espiritual a nossa carga aumenta, e mesmo que não seja possível se ser puro e espiritual, é totalmente possível a gente ser verdadeiro honesto e corajoso diante da maldade que nos cerca. Pois se não existe um juízo é nós que temos que fazer a justiça agora. E por não termo uma moral divina a nossa responsabilidade e unidade diante dos nossos semelhantes só aumenta em grau e seriedade.

Mas de fato não estamos sozinhos no universo, pois “Deus” foi um de nós e a melhor coisa é que Ele não é um ser estranho a nós, mas era homem, e um homem totalmente humano e única e exatamente como nós somos em contradição e humanidade. E com homens como Ele, os profetas, os grandes poetas, os humanistas e humanitários e os bons cientistas, estadistas e filósofos da historia, não há por que reclamar da completa inatividade sobrenatural e silêncio de Deus nesta vida, aonde não existe prova nem uma de que Deus tenha falado de forma audível a alguma pessoa ou nação para nós direcionar e julgar no fim do mundo.

E exatamente por não ter, estes tais homens assumiram a responsabilidade de falar em nome deste Deus distante e Desconhecido que nada fala ou dita literalmente ao seu ouvinte e receptor. E o fato de um deles ter “assumido” a identidade de um deus, não significa que o seja. Mas que ousadamente por saber que Deus não tem voz ou face alguma reconhecível, e por não querer ou não ter mãos a estender à humanidade, Ele ergueu a sua voz, e estendeu as suas mãos, fazendo da autoconfiança em seu coração a certeza de que a sua face era a melhor para representar o Deus irrepresentável e incomunicável formado e concebido na sua psique.

Sabendo agora que os olhos, as mãos, e os pés de Deus são os olhos as mãos e os pés destes homens. E sendo eles humanos, sem a magia e sem todo o invólucro sagrado com que foram editadas suas vidas, só nos resta agir como eles e como pessoas adultas a qual por não ter um Deus provedor sempre ajudando, se torna prontamente o coração, a boca, e as mãos de Deus nesta terra. Não deixando que a vida seja vivida desamparadamente sem Deus até que um dia a gente descubra (ou não descubra) que estamos sozinhos ou inacessíveis neste recanto solitário e perdido do universo.

Pois comprovadamente até agora, como seres pessoais conscientes estamos sonsinhos nesta nossa galáxia e a fonte misteriosa de vida a qual chamamos Deus, só atua na e pelas mãos dos homens, o único amor que existe é o nosso, é o que nós sentimos por nossas famílias e amigos, o amor de Deus é o amor humano que os homens sentem um pelo outro (que tem muito mais valor por ser de seres imperfeitos e sofredores). Por isso se o homem não amar o seu próximo, míngüem fora daqui ira Amar, somos a mão de Deus, e ninguém tinha tanta consciência disso como aqueles que se permitiram ser chamados de enviados de Deus, amando por este Deus imaginado, os seus até o fim.

Gresder Sil

escrito em 09/11/10

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A completa desmitologizaçao do cristianismo



O processo final e coerente de toda critica as denominações ortodoxas do cristianismo pelos teólogos do teísmo aberto e pelas correntes de renovação do evangelho, implicitamente universalista, é a completa secularização do cristianismo primitivo e não um retorno a ele ou sua melhor versão. Resultado inevitavelmente lógico que os adeptos desta teologia transitória vão sentir no seu “caminho” de fé.

Uma vez que se tira de Deus a soberania e dos dogmas a doutrina da condenação a um inferno literal, conseqüentemente tem que se tirar do cristianismo também a sua recompensa celestial e a personalidade racional e volitiva de Deus em um processo conexo de total desmitologizaçao das doutrinas fundamentais da fé. Preservando do cristianismo somente seu sentimento religioso e sua ética moral essencial.

O cristianismo a-religioso como vanguarda da teologia futura entende que tendo uma vez aberto um só ponto central e decisivo da fé fundamentalista, não mais se pode ficar no meio do “caminho” tentando salvar do cristianismo algumas crenças sobrenaturais saudáveis. Já que tal apego ao que sobrou da antiga fé, apenas atrasarão o método que libertara o cristianismo de todo os seus mitos originais.

Um cristianismo sem ou fora da Religião é nada mais nada menos do que um humanismo religioso. Cujas proposições e premissas partem da reflexão do significado dos símbolos religiosos e ensinamentos de Jesus o Cristo, a qual também é e se torna o principal “objeto” de estudo histórico critico e antropocêntrico por ser o homem de maior “poder sobrenatural” (influencia moral) do mundo e da historia.

Conseqüentemente o cristianismo secularizado por não mais conceber uma idéia de condenação e nem de planos divinos de salvação não mais enxerga Deus como um indivíduo de objetivos e temperamentos que tem propósitos eternamente estabelecidos. Mas mesmo assim não se torna necessariamente um cristianismo sem nem um deus. Pois reconhece a força da inspiração religiosa que vem da fonte geradora da vida a qual é um mistério divino Desconhecido e inconcebível a mente humana, e crido na subjetividade de cada um.

E mesmo que o processo de desmitologizaçao possa até usar a ironia e critica astuciosa como meio de derrubar todas as estruturas retrógadas da religião. Mesmo assim não é uma atitude debochada da religiosidade humana inerente em todos nós, já que entende que os mitos sagrados foram formados pelo povo e eternizados pelos escritores sacros baseando-se em fatos e homens reais poderosos e intuitivos que de tão excepcionais foram mitificados pelo tempo e pela letra escrita das escrituras.

E tendo também em mente a seriedade dos estudos e especulações históricas e teológicas, aqueles que se proporá a dizer em alto e bom som que céus e infernos, anjos e demônios, pecado original e salvação eterna não existem, tomam para si a responsabilidade de desenvolver teses e argumentações consistentes para tentar explicar e “provar” que o cristianismo foi criado e formado numa Era cuja visão cosmológica de mundo era mítica. E que, portanto inaceitável para o homem de mentalidade contemporânea cientifica, necessitando uma completa desmitologizaçao coerente para “salvar” sua essência puramente humana, rica e admirável.



Gresder Sil

Escrito em 03/11/10

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