segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Desmistificando a adoração



Ao contrario do agito e mover sensacional da adoração mística contemporânea, a adoração medieval, como um estado de contemplação, é o espanto diante Daquele a qual tudo se cala. É o oferecer do gemido surdo do coração, e do silencio solene da alma que não tem nada a dizer ou se quer oferecer para Aquele que tudo tem e que tudo sabe. A Contemplação trata-se de um estado de espírito que dispensa espaço, palavras e sons, pondo o homem só e completamente desnudo, diante do Eterno.

Pasmo, diante da soberania e majestade do Criador, prostrar-se extenuado é a única compulsão daquele que adora em linguajem inexprimíveis e inauditas do espírito. Almejar ir, além disso, pode ser somente demonstração de afetação de espiritualidade. De gente quem tem a carência de provar alguma coisa, sinal de quem não chegou a um estado de maturidade e segurança intima que não precisa mais evidenciar nada a ninguém.

Hoje em dia, busca se uma Unção, acredita-se que possamos sentir a presença de Deus, e buscamos intimidade; ou seja, mistificamos uma relação que se fundamenta nos simples sentimentos humanos da alegria de amar e ser amado.O amor não precisa de elocução ou fluência, o amor não entra em êxtase numa apoteose de adoração, o amor gagueja, balbucia, tropeça nas palavras, mas sente espontânea afeição que não depende da elegância da postura e verbalização. O amor é amor com toda a sua insuficiência, fraqueza e carnalidade. Porque vem do que somos: pó, carne.

O que Deus quer não é “espiritualidade”, mas sim a verdade, a nossa verdade. O que o Pai procura é pessoas capazes de assumir que nos, os seus adoradores, sem exceção de nenhuma pessoa, temos buscado ser espirituais e fervorosos pelo status religioso que a espiritualidade representa. O que não queremos admitir é que a adoração na sua apresentação magnificente e pomposa apresentada nos templos não passa de uma tentativa humana de querer “aparecer” diante de Deus

“Intimidade com o senhor”, “sentir a presença do Espírito”, e “buscar experiência com Deus”, tudo isso é mais um sintoma da ilusão da nossa religiosidade imatura e afetada. Quando todo esse deslumbramento e sentimentalismo passam, percebemos que estamos solitários e despojados em desespero perante Deus; do nosso lado: miséria, sequidão, distancia e contradição; do outro, um imenso olhar carregado de compreensão, condescendência e, sobretudo: Graça.

Gresder Sil

7 comentários:

Levi B. Santos disse...

Caro Gresder

Adorar a Deus de forma adulta (também é o meu ideal)

Porém existe uma contradição inerente a minha condição humana paradoxal, que não consigo fugir dela: sou um saudosista em muitos momentos de minha vida, e como tal, gosto de aturar a velha criança que tenho dentro de mim, que me faz fantasiar e brincar para suportar as duras e amargas intempéries da vida.

Sofro obrigatoriamente dessas separações sucessivas que se alternam, provocando mudanças, até certo ponto, bruscas em mim: Ora sou aquela criança angustiada que sente saudade do seio materno perdido, que preenchia a minha fome de solidão com sua seiva poderosa; ora sou aquela pessoa impulsiva e decidida em minhas ações.

Sei que na idade que tenho, já não deveria me alimentar desse líquido que moldou as minhas primeiras formas. Algo me diz: “Se és adulto a tua comida só poderá ser sólida!”

Ah,meu caro Gresder, esse velho, porém filhote de homem, ainda vive dependente dos cuidados e da mediação de uma Criatura que lhe dê calor e proteção, e , na ausência do simbólico e mítico seio materno, para que não sucumba e caia na estagnação, necessita de um Pai que em sua transcendência o console.

Na minha lenta maturação vou caminhando aos solavancos, tendo algumas vezes, na ânsia de crescer, me surpreendido, vestindo a fantasia de adulto. Crescer é se afligir, é abandonar o colo da mãe para medir-se com o Pai. Mas...

Ouço em mim essa ordem:

Crescer, crescer! Ir além! Mais além! - Para adorar a Deus sem aquela sensação mítica dos primeiros passos.

Mas às vezes, ouço a minha mente débil e desesperançada , sussurrar: “essa tua vida é um jogo, é um espetáculo encenado pelos cinco atores de teu corpo!”

Firme Naquele que disse: “a minha graça te basta”, aqui fico

Levi B. Santos

P.S.: Bem, me desculpes, mas foi o teu texto que me inspirou a escrever o que escrevi.

Eduardo Medeiros disse...

Amigos (já assim os considero) Gresder e Levi: É sempre um prazer para mim ler o que vocês escrevem.

Assim como a instituição igreja está falida, o seu culto também está. Nossas orações são um blá,blá,blá sem fim de pedidos que o Papai-Gente-Boa-do-Céu precisa atender.

Nossas músicas não nos levam a transcender (não falo aqui de transes), nossas músicas são compostas para irem para a parada de sucesso gospel; para a lista das "mais tocadas" e "mais pedidas".

Por outro lado, as músicas chamadas de "adoração", só provocam os resultados que você já tão bem expôs: êxtases desvairados que não falam à alma, mas são apenas o resultado de uma esquizofrenia religiosa.

Contam que certa vez perguntaram a Paul Tiliich se ele ainda orava muito, ao qual ele respondeu que ultimamente só meditava...

Não sabemos o que é contemplação. Aliás, nosso povo evangélico não sabe contemplar, por que contemplação pede interiorização consciente, silêncio, olhar para dentro e conectar-se com o Mistério divino sem palavras, já que aqui, elas não são necessárias.

E compreendo bem o que o Levi disse sobre não querer largar o peito! De querer ter o pai lhe dando a mão. E creio que tais símbolos não devem ser abandonados. São poderosos demais para serem por nós "pretensos adultos espirituais" descartados.

Quero que o Pai segure a minha mão e que a cada dia me dê seu peito de onde eu possa sugar a seiva de uma comunhão simples, não pensada, não teologizada; Meu cérebro grego, rebala-se contra os símbolos e quer de tudo conceituar e concretizar.

Não quero mesmo o Deus concreto dos teólogos; este só serve como exercício intelectual; quero o Deus Pai-Mãe dos meninos dependentes e ávidos por peitos maternos.

abraços calorosos.

Esdras Gregório disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Esdras Gregório disse...

Uma vez um pastor depois de ler um dos meus e-mails polêmicos que eu mando aqui pro pessoal de campinas, me disse que um pouco a mais de leitura bíblica e oração me fariam um bem imenso, só não sei como ele descobriu rsrs que eu não oro mais (ajoelhado, é claro).

Bom... a minha resposta foi que eu naturalmente não oro e nem leio a bíblia como antes, mas sinto uma incrível sensação de que o olhos Dele estão sobre mim a cada momento, e daí eu aproveito e penso alto pra Deus ouvir.

Assim como igual a vocês, existe um menino dentro de mim, só que agora ele veste as calças e sapatos de homem.

Eduardo Medeiros disse...

Menino com calças e sapatos de homem, taí uma boa metáfora. O único problema, meu amigo, é que menino não consegue andar direito com um calça de adulto...

Creio que o melhor mesmo é virar adulto com alma de menino.

abraços calorosos

Levi B. Santos disse...

Eduardo,

Isso aqui está parecendo a tua sala de pensamento.

Entendo a nossa posição e a do amigo e pensador Gresder.

Por felicidade (ou infelicidade), temos que conviver com esse paradoxo: Na vida de representação nos vestimos com a indumentária séria de adulto. Porém, de vez em quando, Deus nos pega de calça curta, brincando inocentemente.

Talvez, a criança que aflora em nós, em certos momentos, seja um escape passageiro para não sucumbirmos diante da realidade angustiante da maturidade.

Bem, pela ordem, agora fala o Gresder (rsrsrs)

Esdras Gregório disse...

Quando eu era menino eu queria ser homem, agora que sou homem quero ser menino novamente rsrsrs

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“todo ponto de vista é à vista de
um ponto, nos sempre vemos de um
ponto, somente Deus tem todos os
pontos de vista e tem a vista de
todos os pontos.”
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