domingo, 20 de dezembro de 2009

A des-sacramentalisação da Ceia



Há de se chegar um tempo, se já não é chegado, em que toda refeição feita entre amigos (cujo teor e sentimentos a mesa forem à lembrança e os sentimentos de implicações que vem de crer no homem que foi levantado no madeiro) serão consideradas não mais como um simples lanche ou café. Mas como a mais pura e natural maneira de se fazer memória Dele, nas circunstâncias de um mundo religioso cristão completamente perdido na complexidade de pensamentos e metodologia onde só a essência do culto será justificada como fruto de uma verdadeira e derradeira expressão de fé.

Não mais é tempo de se ater aos elementos, como se por ele pudéssemos ser salvos. O nosso pão já não é o pão de outrora, o alimento básico da nossa civilização não é mais feito com o fermento das terras bíblicas, a nossa bebida já não e o sangue que corria nas veias da terra prometida. O mundo come outro pão agora, e o seu “vinho” já não tem a pureza daqueles tempos benditos. Quem quiser importar o trigo dos solos consagrados, por causa de suas consciências, não devem deixar de fazer. Mas quem, pelas demandas da sociedade não tiver tempo de pisar o lagar, que coma o que for produzido em massa pela indústria, desde que seu coração seja naquele momento de comunhão entre amigos de fé, transportado para o tempo onde vinho era vinho e não suco de uva.

A beatificação e fixidez deste momento, já não serão razoáveis onde o amor não fingido e a fé sincera de dois ou três reunidos, nem que seja na mesa de um “bar”, supera todo um ajuntamento, que possibilita de as pessoas estarem apesar de juntas, alienadas entre si, e solitárias na multidão. Não que na reunião do templo não possa haver vida e comunhão, mas para muitos desterrados por outros ou por si mesmos deste lugar seguro, o mundo é o templo agora. Para tais os muros sagrados caíram, mas o lugar santo ainda esta intacto em seus corações.

A de se ter coragem para acolher tal entendimento, mas principalmente respeito aos muitos que com fé simples permanecerão refletindo com a mesma estrutura de pensamento dos autores sagrados que calculavam que foi o sol que parou e não a terra, nos tempos primórdios daquelas eras canonizadas. Que cada um em tal tempo viva conforme a consciência de sua fé, já que os elementos e cerimônias não podem mais substituir a grandeza de uma simples refeição santificada pelo ambiente de cumplicidade e transparência daqueles que literalmente sentados a uma mesa, olhando um no olho do outro, se rasgão entre si na sua verdadeira humanidade de pecado, desesperos e esperanças ante o crucificado.

Gresder Sil

12 comentários:

Marcio Alves disse...

A santa ceia, assim chamada pelos atuais e místicos evangélicos, influenciados pelo paganismo romano - pois a bíblia, não se refere à ceia como santa - subentende-se a sua sacralização como substancialmente a carne e sangue de Jesus. (Não todos)


Porém, o mesmo compreendido e celebrado como símbolo do Deus-homem, homem-Deus, com grande festa, chamada de festa ágape pelos primeiros cristãos, sem a sina de pecador.


Festa esta, que foi "satanizada", e se revestiu de um ar de trevas, com medos e punições, re-lembra os pecados não confessados dos cristãos.


Um ar fúnebre de tristeza e dor, re-memoriza as dores e sofrimentos do salvador, como punição dos nossos pecados.


Impregnando o medo da ira do Deus-vingador, na alma pobre do mortal pecador.


Celebra a justiça e se esquece do amor sagrado do nosso eterno salvador.


Que provou seu amor, vivendo nossa vida em meio à mais absurda dor.


Sua morte prova a maldade e ruindade do coração pecador, mas sua ressurreição é a resposta a essa violência e dor.


Santa ceia, ceia santa, está no mais profundo abismo do ser, lá no intimo, está sua essência e vigor.


Pães e vinhos são apenas pães e vinhos.


O sagrado esta no profundo sentimento de admiração da vida do salvador.


Portanto, toda refeição é santa e sagrada se celebrada em memória do nosso amado Senhor.



Salvador, salvador, quero te amar todos os dias, celebrando cada momento a sua demonstração de amor.


Através das refeições com meus amigos, sem tristeza e dor.


Celebrando com o mais puro amor, aquela que era no principio a festa da solidariedade e amor.


Em comunhão fraternal de ajuda e perdão, sem condenação e juízo ao tal pecador.



Um abraço


Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.

José Lima disse...

.
Li o seu artigo e você não me surpreende mais, a reflexão é viva!
Essa compreensão da ceia é na minha opinião a que realmente se aproxima do contexto original, sem "cerimonialismo", ceia realmente é o "encontro", dos que ao se encontrar tem alegria de se alimentar através da morte, pois é nisso que consiste toda a biologia: "vida que no sacrificio da morte alimenta na morte outra vida"!

A sacralidade da ceia não está no rito, mas na subjetividade de cada um, no sentimento de que a ceia (um almoço, ou jantar, até mesmo um lanche que seja em memória) é sagrado, pois impregna na existencia humana um significado no homem que transcende muito além do próprio homem!

Eduardo Medeiros disse...

Pois é meu amigo, a ceia que não era santa virou santa ceia. O que Jesus participava não era a ceia cristã e sim, a páscoa judaica, mas todos os evangélicos acreditam piamente que Jesus celebrava a "santa ceia" à moda cristã.

Gostei do primeiro parágrafo, pois já tive o prazer de participar várias vezes de tais ceias em companhia de caros amigos e em variados lugares: na esquina, no restaurante, na sala de visitas,e ultimamente, por aqui e por aí.

Belo texto e belo poema do poeta Márcio

abraços

Daniel Grubba disse...

Um dia um professor disse que estaríamos ceiando quando ao redor da mesa, comendo uma pizza, estivéssemos fazendo para a Gloria de Deus.

Levi B. Santos disse...

Caro amigo e filósofo Gresder

Não podemos olvidar da existência do poder que o ritual da “santa ceia” transmite a seus membros.
Este é um dos aspectos maravilhosos dessa inabalável comunhão.
Lá na igreja nós fomos ensinados que ali estão o corpo e o sangue de Cristo, simbolizados.
O crente o toma , volta-se para o seu interior, e eis Cristo agindo dentro dele. É uma maneira de estimular a meditação sobre como vivenciar o Espírito dentro do seu ser.

Esta experiência religiosa transcendente deve, sem dúvida, aplacar muito os anseios medonhos que engendram a alma humana.


Abçs,

Levi B. Santos

Esdras Gregório disse...

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Levi, sim, não podemos esquecer-nos do poder que esse ritual maravilho exerce na maioria das pessoas, mas também não esquecer que muitos já estão forra, e para tais que manteram a fé, é necessário fazer santo todo encontro de dois ou três cujo sentimento delas forem lembrança daquele homem no madeiro.

Marcio seu defensor dos frascos e comprimidos rsrs(aprendi isso com o Danilo) pode ficar a vontade, não precisa nem poetizar, pois não estamos no Ensaio & Prosa onde o autor quando se inspira em seus versos, “obriga” seus leitores a rimar também, deve ser por isso que todo mundo virou poeta agora rsrsrs

Eduardo eu escrevi este texto a três meses, mas seu comentário lá no Tiago Mendanha, -que você fala que uma das mulheres de um de seus amigos diz que quando vocês (os hereges como tu) se reuniam falavam mais sobre Deus do que a reunião dos membros da igreja- colaborou muito para a consolidação do meu pensamento.

Daniel, acredito que a grande barreira para desmistificar o sacramento vem dos elementos pão e vinho, mas se pensarmos que tais alimentos eram a comida básica daquele povo, e que em regiões longínquas de nosso planeta não se produz e nem se importa pão e vinho, podemos concluir que pizza e coca cola (alimento da civilização contemporânea) tomados num ambiente onde a fé viva dos amigos reunidos prevalece sobre outros assuntos e sentimentos, é tão santo quanto o sacramento realizado na igreja.

Marcio Alves disse...

Gresder, seu filosofo da graça, queda e agora da des-sacramentalisação da “santa” ceia não santa. Rsrsrsrs

Eu sei que não preciso “poeteologizar” simbolicamente e subjetivamente. Rsrsrs

Mas fazer o que, quem manda eu ler demais “subjetividades Gresderiana”, sentir “poesias brozeadas”, e refletir “simbolos e mitos Hereduardinas”. Rsrsrsrs

Um abraço

Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.

Unknown disse...

Acredito que ceia siginifica união entre família, amigos... O que infelizmente não ocorre mais hoje em dia. As pessoas estão cada vez mais distantes (mesmo no núcleo familiar) e lembram-se de se juntarem ao redor da mesa apenas no natal.

Abraço a todos

Mariza :-)

Esdras Gregório disse...

Mariza muito obrigado por colorir o meu ambiente com sua presença. É que aqui só aparecem seres preto e branco, ou seja: homens.

E se voltar mais vezes prometo que serei recíproco, pois aprendi que na blogfera você tem que conquistar amigos e não “seguidores”.

Edson Moura disse...

Agora é minha vez Gresder.

Já perticipei de "santas ceias" das mais variados formas.

Com pão feitos por irmãs em consagração.

Com pão de fôrma.

Com um pão de leite, onde cada um rasga um "teco", vira pro lado e recolhe-se ao seu interior, como se o companheiro ao lado fosse tomar seu pedacinho de pão.

Mas já que esse espaço é tão "moderno" pra não falar "liberal" rsss...gostaria de narrar minha ideia de ceia do Senhor:

Afastam-se as cadeiras para os cantos...

Monta-se 10 mesas para 10 pessoas...

Talheres e facas de entrada e prato principal...

Refrigerante para os mais jovens, e por que não crianças?...

Alguns bons vinhos tipo "pinot noir" de Borgonhe ou um grunner Veltliner "da Austria"...

Lombo de cordeiro assado com crosta de queijo de cabra e gnochi de tomilho seria um bom jantar...

Amigos mais que irmãos sentados, conversando sobre sua semana no trabalho e sobre como é bom estar reunidos alí...na "casa do senhor" também conhecida como...igreja.

Abração Gresder

Kadu disse...

Excelente texto!! Ainda hoje estávamos eu, minha querida esposa, cunhada e casal de amigos fazendo uma ceia, santa ceia..., com suco de laranja, abacaxi, leite gelado com achocolatado, café, pão, bisnaguinhas, presunto e queijo, maionese, requeijão e melão de sobremesa. E compartilhamos muito de nossas vidas, da vida de Deus em nós, da vida da Igreja de Cristo, da graça e do perdão, etc...
Foi uma ceia maravilhosa..., mas não foi "santa ceia", a qual não tomo há alguns meses..., será que sou herege por isso?
Em nossas conversas estava também em pauta a tal "santa ceia"..., foi maravilhoso!
Obrigado pela reflexão!!
É minha primeira vez aqui, mas voltarei mais vezes, com certeza!
Abraço!

Esdras Gregório disse...

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Edson e Kadu, fiquei imensamente com vontade de cear com vocês, pela qualidade do alimento e profundidade da comunhão, pois do fundo do meu coração creio que toda refeição que cuja conversa a mesa girar em torno da nossa fé Nele, é santa. E isso não é modernidade, mas retorno a naturalidade da primitiva fé em Cristo.

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“todo ponto de vista é à vista de
um ponto, nos sempre vemos de um
ponto, somente Deus tem todos os
pontos de vista e tem a vista de
todos os pontos.”
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