terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A literalidade do Éden



Fruto proibido, arvore da Vida, serpente que fala e que anda (ou voa, quem sabe?). Tudo isso soa meio fabuloso demais. Parece uma historia contada para a infância da humanidade. Pois atualmente a narração literal do Éden não tem nenhuma graça.

Ai o homem cresce e se pergunta: mito ou realidade, literal ou fictício, fato ou poesia. Porque não tudo isso? Porque não a possibilidade de o literal se tornar essencialmente literário. E porque não a literatura ser o retrato poético de uma realidade bruta, crua.

Toda essa sensação de absurdo patético que às vezes sentimos na vida, reincide na realidade de não estarmos no nosso estado natural de ser e existir em Deus e no mundo. A Queda é real, apenas Moises que era meio poético.

Ao se esbarrar no poema do enredo desta historia a mente cética a descarta por completa, como pessoas que ao jogar a frauda suja da criança joga fora o bebe também. Mas e ai! Porque para alguns não desse a trama do Éden com todo seu teor mitológico, Adão e Eva não existiram?

Isso é crucial trata-se de uma necessidade lógica, pois ate mesmo a ciência evolutiva precisa de um primeiro casal, um adão macaco, uma Eva chimpanzé. A questão não é se eles são personagens reais, mas sim que é absolutamente imperativo que eles tenham que ter existido em carne e osso. Pois estamos aqui, somos galhos e frutos de uma só raiz e semente.

De uma coisa eu estou certo, o Paraíso foi perdido com todos os seus detalhes palpáveis, mas literalmente existiu com toda a sua profundidade de significados e riquezas de interpretações, quer existencial metafísica ou alegórica religiosas. Agora só não venham me contar que a serpente falou, pois isso com certeza é invenção da mente fértil de Eva para ludibriar o pobre coitado do Adão.

Gresder Sil

13 comentários:

Unknown disse...

O Gênesis contém muito mais conteúdo quando lido como Mito do quê literalmente. Nele eu vejo como a criação de Adão, a Queda, o Pecado, a Redenção, tudo isso ocorre comigo mesmo.

Nele eu vejo a consciência humana tomando forma, a tentação, a nossa tentativa de mentir até mesmo para Deus, nossas falhas e porcas desculpas, e o perdão Divino.

Vejo a nossa mania de tentar agradar a Deus com o fruto do nosso trabalho, e vejo que Deus não precisa disso, apenas se agrada de um coração Grato pelas suas dádivas, e que escolhe simplesmente oferecer ao Pai o que Ele mesmo concedeu.

Vejo como Ele se manifesta aqui em nós, pois somos à sua imagem e semelhança, e não nas forças deste universo, como o Sol e as Estrelas. Vejo como Deus escolheu se ausentar da nossa dimensão, e deixou o Amor dEle aqui entre nós.

Vejo a redenção de um pecador, marcado pela Graça divina, de modo que nenhum homem pudesse lhe fazer justiça. Vejo como a Justiça pertence só à Ele.

Ou seja, há muito mais ali do quê uma simples narração literal da Criação da Terra. Aquilo fala de nós, nossa humanidade, nossos desejos e decepções mais profundos, e de como o Amor de Deus nos cobre sobremaneira.

Levi B. Santos disse...

A saudade do ÉDEN, a dor, o choro, continuam a nos marcar pela vida afora.

Ativamos esta memória, renovando a sensação dos simbólicos pais edênicos, toda vez que nos sentimos rejeitados, incompreendidos, enfim, quando sofremos a perda daquilo que nos causava tanto prazer.

A vida é assim mesmo.

Vivemos a repetir o ato de expulsão do "jardim de delícias", toda vez que somos jogados de uma maneira brusca e selvagem, em um mundo frio, cruel e desumano.

A outra conseqüência da perda do “ninho”(Éden, Útero, etc) em que estávamos aconchegados, nos vem sob a forma de “solidão”, que nada mais é, que uma repetição da primeira solidão dos nossos ancestrais.

A cada dia, o homem em seu desenvolvimento, imagina retirar do mundo algo de novo que o maravilhe e forneça a energia necessária para continuar vivendo, sem, no entanto, pensar que a VIDA É UM ETERNO RETORNO. A fé passa a ser o único veículo que o levará de volta àquele simbólico jardim de delícias, chamado EDEN, lugar onde nunca deveria ter saído.

(Expressar o Éden poeticamente, é gratificante).

Abçs, caro amigo, filósofo e poeta "das origens".


Levi B. Santos

Ricardo disse...

Gresder,

Você só pensa assim porque ainda não leu minha postagem intitulada "O primeiro casal". (rs)

Marcio Alves disse...

Gresder filósofo da graça e agora também da queda. Rsrsrsrsrs

“A Queda é real, apenas Moises que era meio poético.”

Reconheço que questionar a queda no meio da cristandade, não é tarefa fácil.

O tema é quase unanimidade.

Dizem os estudiosos que depois das definições de pecado original Agostiniano, tudo que veio a ser escrito sobre o assunto, foi apenas nota de rodapé e rabisco.

Os grandes eruditos contemporâneos costumam dizer que, a queda é o inicio de toda teologia, conforme você vê a queda, será desenvolvida sua maneira de pensar.

Por isso, meu amigo Gresder, gostaria de lhe fazer algumas perguntas:
(Embora você desenvolva e dê ênfase apenas na historia, existem as implicações resultantes disto)


A queda foi total ou parcial?


A teologia clássica, parte da premissa da queda de Adão e Eva, para explicar a universalização do mal, você concorda?


O mundo esta desgraçadamente e irremediavelmente perdido e amaldiçoado por causa do pecado de Adão e Eva?


Por causa da mordidinha de Adão na “maça” a humanidade vive nesse mundo como se fosse a anti-sala do inferno?


A morte física veio por causa da desobediência dos nossos primeiros pais?


Por causa de Adão, somos por “natureza” filhos da ira vindoura de Deus?


Pode uma pessoa que nem pediu para nascer, já vim ao mundo condenada e culpa por algo que nem cometeu ainda?


Depois de Adão, a humanidade é totalmente depravada, não tendo um rabisco de bondade própria?



Inclusive, a queda é à base da teologia sacrificial de Cristo.


Desta forma, Cristo teria morrido para aplacar a ira de Deus?


Deus para ficar de “bem” com a humanidade precisava derramar o sangue de um inocente, e mais ainda, do seu próprio filho?


Vou parar por aqui, pois os desdobramentos e implicações da queda são enormes, começa no Éden e se estende até apocalipse.


Mas acho que só essas perguntas já são o suficiente – ao menos por enquanto ta?!. Rsrsrsrsrsrsr


Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.

Marcio Alves disse...

Agora, quero dar minha modéstia opinião e contribuição, sobre a temática de o Éden ser factual ou fábula.

Acredito que o Éden é um mito devido a:

1-Em diversas culturas a o equivalente do jardim do Éden.

Como por exemplo, nas antigas tradições, como a saga de Seth e Osíris no Egito, Ormuz e Ariman na Pérsia, e na cultura helênica a caixa de pandora.


2-Historicamente, a leitura literal da bíblia, começou no século 19, na era do apogeu do racionalismo e ciência, e a religião para ser levada a sério entrou com sua leitura pragmática e extremamente racional, daí surgiram os fundamentalistas.


3-Os grandes rabis e a maioria dos judeus contemporâneos – como, por exemplo; Harold S. Kushner – interpreta o ocorrido como fabula.

Quem mais dentre todos os povos, tem mais conhecimento e autoridade para falar sobre o Genesis? Será que são os fundamentalistas norte-americanos? Certamente que não.


4-Jesus ensinou muito sobre o velho testamento, deu testemunho de vários personagens veterotestamentarios, menos..........Adão e Eva.

Não se é de estranhar, que Jesus falasse inclusive de Jonas que foi engolido por um grande peixe, mas se quer tocasse no assunto de tamanha importância do jardim do Éden? E para piorar, nunca ensinou sobre pecado original.


5-O fato de a humanidade ter possivelmente se iniciado, através de um casal, não justifica a literalidade do mito que a envolveu no jardim do Éden – Fruto proibido, arvore da vida, serpente que fala, as conseqüências catastróficas cósmicas resultantes da desobediência de Adão e Eva.


6-E finalmente, o próprio Genesis não deve ser lido cientificamente, pois não se presta a isto, antes é um mito que tem um profundo significado e relevância, nos mostrando como num espelho.


Portanto, pecado original é o meu. Aquilo que chamamos de queda é a descrição de nossa humanidade, somos assim; limitados, imperfeitos e aventureiros.


Minha proposta de uma possível (re?)leitura do jardim do Éden é:

Adão e Eva são cada um de nós. As escolhas de Adão e Eva refletem as escolhas que fizemos, fazemos e ainda faremos.


Assim sendo, ninguém é culpado pela desobediência de Adão e Eva, mas responsável pelos seus próprios atos.


Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.

Eduardo Medeiros disse...

Os mitos querem explicar por que o mundo é assim e não de outro jeito. O capítulo um de Gênesis apesar de apresentar temas próprios da religião javista ou eloísta, reflete a poesia literária de muitas outras nações, como no caso, Babilônia, que influenciou diretamente a re-construção javista do começo do mundo e por que as coisas eram como eram.

No mais, é literatura pura, complexa, extremamente bem construída.

Dizer que a "Queda é real" nutre o mito que quer perguntar porque estamos tão longe da Fonte.

Jonathas Chagas disse...

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Esdras, meu querido mano!

Pensei tanta coisa quando li seu texto; literalidade de adão e eva? Literalidade de Gênesis 1? Literalidade do peixe engolindo Jonas? Literalidade da história do povo atravessando o mar?

Quem sabe, até "literalidade do nascimento de Jesus?"

Poxa, não são poucas as vezes que me pego questionando alguns textos bíblicos, principalmente os mais "mirabolantes".

O estranho de tudo isto é que no texto tudo é muito simples; "No princípio criou Deus os céus e a terra", "um grande peixe engoliu a Jonas", " e o povo atravessou o mar a pés enxutos"...simples assim.

Não há tempo perdido tentando explicar como Deus criou, qual peixe engoliu ou como o mar se dividiu.

Apenas aconteceu.

Eis o problema: eu quero explicação! Eu quero o manual de como foi feito! Eu quero a lista de reações químicas! Eu quero, eu quero...prova!

Fé é algo complicado pra mim...eu luto muito pra ter um pingo que seja dela. E olha que provei na pele o milagre, o inexplicável..como você bem sabe.

Sabe o que tenho feito com estas questões? Com minhas dúvidas? Tenho submetido elas ao Pai. Eu simplesmente digo, "Senhor, tenho dúvidas sobre isso, des-creio! Te entrego também isto em tuas mãos".

O que importa de fato não é a literalidade interpretativa de um texto, mas sim a aplicabilidade dele em mim.

O essencial não é por exemplo saber que literalmente Jesus nasceu em Belém, mas sim que ele literalmente, visceralmente nasça em mim, criando nas entranhas do meu ser um ligação íntima e verdadeira com aquele que o enviou.

Desta maneira, eu saberei que ele nasceu de verdade, não porque li isto numa história, mas porque ele se manifestou a mim.

A bíblia é só um livro, até que nós abramos nosso coração e mente da mesma maneira como abrimos suas páginas.

Daí, a literatura torna-se LITERALMENTE; VIDA.

Abraço apertado!

Jonathas Chagas.

Alex Malta Raposo disse...

Proposta legal e textos muito interessantes. Parabéns pelo espaço e que o Deus eterno continue abençoando a sua caminhada.

alexmaltta.blogspot.com
Evangelho da Graça

Levi B. Santos disse...

O Jardim do Éden deveria ter sido escrito como poesia, tipo o “Paraíso Perdido” de John Milton. Que pena não existir ainda a sua versão em Cordel ─ ficaria mais humorada e, consequentemente, melhor entendida. (rsrsrs)


A saída do Éden significa, lá no início de nossa vida, o primeiro berro, que foi a primeira expressão de desamparo, pela expulsão violenta e bisonha, do “paraíso uterino”, onde tão felizes e bem acomodados estávamos.

Ficou registrada desta forma, a primeira memória no disco virgem do nosso cérebro. A saudade daquele paraíso, a dor, o choro, continuam a nos marcar pela vida afora. Ativamos esta memória, renovando a sensação daqueles sintomas, toda vez que nos sentimos rejeitados, incompreendidos, enfim, quando sofremos a perda daquilo que nos causava tanto prazer.

A vida é assim mesmo. Vivemos a repetir aquele primeiro ato, toda vez que somos jogados de uma maneira brusca e selvagem, em um mundo frio, cruel e desumano.

A outra conseqüência da perda do “ninho” em que estávamos aconchegados, nos vem sob a forma de “solidão”, que é uma repetição do primeiro desamparo sentido pelo bebê, ao ser cortado o laço que o unia a mãe. Esta sorrateira solidão aparece depois da dor, da angustia e do choro.

O consolo, não muito tarde virá, sob a forma de uma instrumentalizada Esperança, a lutar contra a angústia e a nostalgia daquilo que se perdeu.

A cada dia, o homem em seu desenvolvimento, imagina retirar do mundo algo de novo que o maravilhe e forneça a energia necessária para continuar vivendo, sem, no entanto, pensar que a VIDA É UM ETERNO RETORNO.

A fé passa a ser o único veículo que o levará de volta àquele simbólico jardim de delícias chamado EDEN, lugar onde nunca deveria ter sido expulso.

Esdras Gregório disse...

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Levi, seu eu sou o filosofo da Queda como disse o Márcio, você é o psicanalista da dela. Quando você entra por esse lado eu confesso que fico suspenso no ar, e se um dia a gente for discordar de alguma coisa espero que você não use de covardia para comigo com esse conhecimento desses caras ai que você sita pois nesta área eu sou leigo mesmo.

Márcio vou te respondendo algumas de suas questões em alguns texto que já estão protos a algum tempo, pois conforme o andamento eu vou postando e me parece que eu estou em vantagem pois alem de escrever dois post por semana eu tenho muito mais guardados.

Eduardo a queda é para mim a coisa mais real da existência, não posso deixar de ver este mundo e as pessoas e não sentir que que elas não esta no seu modo natural de ser em Deus. Sim a queda é real e existencial, não no conceito de natureza pecaminosa mas no de alienação do criador, só não creio que aconteceu conforme a narração mítica do Gêneses , apesar de acreditar na existência de um primeiro casal.

Jônatas tem muita coisa que eu não sei e nem sei se vou saber se é literal o simbolo, mas as vezes tem coisas que é difícil de descer, como por exemplo os anjos no nascimento de jesus, Herodes matando crianças, jesus sendo levado aos céus tudo isso tem para min um teor muito mítico mas eu realmente não sou capaz e nem acho que alguém pode provar nada contra ou a favor, mas as vezes sinto também que tudo era literal, pois enquanto eu viver aqui nunca terei tal seresta. E muito obrigado não só por ler os textos de um cara com problemas mentais( foi a Deise que sugeriu isso rsss) e se interessar ao ponto de contribuir com seu comentário

Gabriel eu adorei seu comentário e coloquei ele na “minha” famigerada lista de e-mails para o pessoas lá de campinas dar uma lida. Eu já tinha visto você comentar sobre o gêneses lá no blog do Leonardo, e não sabia que você fosse assim tao “liberal” assim. Na sua idade eu ainda pensava de forma totalmente fundamentalista sobre o paraíso, e não estou completamente liberto rsrs, mais isso é relativo pois o que nos pensamos sobre o principio, não diz respeito ao que realmente aconteceu, sobrou apenas as sisas daquelas eras para nos investigar.

Eduardo Medeiros disse...

Para mim é evidente que os primeiros capítulos de Gênesis é símbolico ou mitológico, os primeiros e alguns mais...

Considerá-los literais em nome de uma fé ortodoxa é contraproducente, pois apesar de estarem cheio de equívocos científicos e históricos, perde-se de fato, o que o (os) autores quiseram transmitir, que são verdades para além do histórico e factual. Ou seja, não querendo tirar a "autoridade" do texto, fazem dele uma piada acadêmica.

Queda para mim é exatamente isso: o caminho que falta eu fazer de volta para "dentro" de Deus, visto que de dentro de mim, ele nunca saiu.

Como "caminho de volta", entenda-se resgatar a consciência de que somos um pouco menor que ele e que devemos nos portar conforme essa realidade.

Anônimo disse...

Gresder, amigão. Desculpe não estar comentando com mais freqüência, é que ando demasiadamente preguiçoso ultimamente. Ainda assim continuo lendo seu ótimo blog. Inclusive esta matéria me inspirou a escrever outra lá no meu novo blog http://poucoalem.blogspot.com/2009/12/biblia-nao-precisa-ser-literal-para-ser.html

Abraço.

Anônimo disse...

Olha só, este aqui eu não tinha lido ainda. Muito bom, mas já fáza tanto tempo que você escreveu, que nem consigo assimilar.

Mais um lido!

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“todo ponto de vista é à vista de
um ponto, nos sempre vemos de um
ponto, somente Deus tem todos os
pontos de vista e tem a vista de
todos os pontos.”
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