
Infeliz foi para Deus o dia em que Ele disse: “vinde questionai-me” (Is 1; 18), pois desde então não mais saímos das soleiras das portas de seus átrios. Mas daquela ultima vez nós estávamos terríveis, quase fomos expulso do fórum celestial das causas teológicas complicadas.
O anjo promotor que aparentava ser um fundamentalista conservador para manter o seu cargo, mas que no fundo tinha convicções heterodoxas modernas, nos perguntou: “de onde vens” então respondemos: “de rodear a terra e passear por ela, e ver as suas infinitas formas de doutrinas, crenças e teologias na cristandade que mais da um nó na cabeça dos homens do que ajuda em alguma coisa”
Bom... a primeira coisa que reclamamos naquele dia fatídico que era o dia marcado em que os filhos de Deus se apresentavam perante o Senhor (Jó 1; 6) foi que não era justo que os nossos acasos infelizes nesta vida fossem considerados castigos Divinos por nós termos questionados as verdades absolutas da religião, sendo que foi o próprio Deus que pediu para ser interrogado em suas razões.
Mas naquela oportunidade estávamos tão afoitos e apresados que nem esperamos o Senhor explicar direito que isso era coisa de pessoas que atribui a Deus os seus pensamentos e posturas e que não aceitam em ser contrariadas. Pois indignados por termos encontrado satanás saindo para tentar Jó na hora em que estávamos entrando na grande sala de recepção (Jó 2; 7), já discutimos com Deus porque Ele ainda mantinha o diabo como seu capataz para fazer todo o serviço sujo.
Que coisa em! Diante deste impasse “fez se um silêncio no céu por cerca de meia hora” (Ap 8;1 ) ate que o Senhor depois de ficar estático, recobrou o seu animo e como um bondoso velhinho, tentou nos explicar falando baixinho que Ele estava com o rabo preso com o Lúcius que tinha feito graves acusações a soberania de Deus perante os anjos no tempo em que era o regente do grande coral, e que por isso não podia despedir ou eliminar de vez o diabo, pois essa atitude seria vista como queima de arquivo e supressão de testemunhas antes de Ele provar para todos no desfecho apocalíptico da história que Ele não era esse sujeito tirano e arbitrário que o desgraçado do Malacabado disse.
Não muito satisfeitos com as questões enroladas e embaraçadas assim nos céus como eram na terra (Mt 6;10), deixamos este assunto para aproveitar, já que estávamos abusados em se intrometer em coisas proibidas, para pedir ao Senhor Deus a abolição do inferno de uma vez por todas. Para isso argumentamos que não era totalmente justo aos olhos dos homens pós-medievais que um ser humano que peca por uma ínfima vida na terra seja condenado por uma eternidade sem fim.
Daí que para ser coerente o Senhor nos disse que para tirar o inferno teria que acabar com o Céu também. “Estaria ótimo” dizemos nós “mil vezes melhor ninguém ser salvo ou perdido, do que gozarmos o Céu enquanto a maioria dos nossos semelhantes sofre o inferno”. “Que bom que todos pensassem assim” disse Deus “mas a maioria querem o céu para si como recompensa de suas privações e provações, enquanto querem por inveja intima e desaforo inconsciente que o resto se ferre no inferno por ter gozado plenamente de todos os prazeres que os crentes queriam praticar, mas por não saberem pecar direito, não fizeram totalmente”.
Gresder Sil
escrito em 25/04/10