quinta-feira, 11 de agosto de 2011

A estranheza de um menino deus


Para que Jesus tenha sido Deus, é necessário que ele tenha tido a consciência de ser Deus. Que ele tenha nascido com está consciência de ser Deus ou em algum momento tenha tido esta revelação de ser Deus: a consciência de que ele era Deus antes de se tornar homem, a consciência de que ele era Deus feito homem. O que em todo caso é algo bisonho de se imaginar: um homem totalmente homem que acredita ser Deus. Pior ainda: um homem que foi criança e jovem e que como criança e jovem acreditava ser Deus.

O evangelho é escândalo para o grego, ou seja: para o filosofo, para o pensador, para o racionalista e materialista, por que é impossível em todos os mundos possíveis, a existência de um ser que seja totalmente Deus e totalmente homem. Primeiro por que a essência humana de um homem não é pronta, mas feita no tempo, nos equívocos, erros, tragédias e escolhas do tempo. Coisas que não acometem o ser puro e inalterável de Deus. Se Jesus foi homem, ele aprendeu a ser homem no tempo e nas experiências boas e ruins, nos seus erros e acertos, na sua fé, esperança e desesperos na e pela vida, que formam e compõem um homem adulto e pronto, como ele estava em seus trinta anos quando começo seu ministério.

Se Jesus era Deus mesmo, então ele sabia que era Deus, tinha a consciência de que era Deus, tinha a memória passada de ser Deus, e raciocinava como Deus. E como Deus que era: nasceu Deus, sabendo ser Deus. Ou seja, foi um Deus menino! Um menino que sabia que era Deus! Mas um menino que sabe que é Deus, não é um menino, mas a maior aberração de toda a existência possível, em todos os mundos possíveis! Um menino que sabe que é Deus, não é menino, e nem humano, pois ser totalmente humano e adulto é ser formado como homem no crescimento das experiências de vida, a partir da idade de menino que aprende a cada dia e se tornar mais homem e mais consciente de sua existência como homem.

Um menino Deus é um menino que não é menino, que não aprende, que não erra, que não sofre, que não tem duvidas de menino que vira jovem, e de jovem que vira homem. Um menino Deus não é então cem por cento menino, então não pode se tornar um dia cem por cento homem, pois nunca foi cem por cento humano, e nunca aprendeu e viveu na vida como todo homem que tem suas crises, suas esperanças, seus pecados, seus erros, seus equívocos, seus acertos, suas conclusões e aprendizado de homem que um dia foi bebê, menino e jovem para se tornar homem.

Então se de fato Jesus era Deus, ele foi só Deus, sem nunca ter sido homem, que como Deus, encenou um papel de homem e viveu entre os homens, e se passou por homem, atuou como homem, mas nunca foi homem, pois nunca aprendeu e nunca errou para se tornar um homem. Pois o que de fato torna um homem: um homem de verdade, é sua experiência de vida, é a sua trajetória de vida como ser que aprende a ser homem na vida. Portanto uma criança que era Deus, não era uma criança, mas se passava por criança. Ou melhor, era um ser de outro mundo que usou um corpo humano, que passa por todo processo humano de crescimento físico sem o processo de aprendizagem e crescimento mental, pois se trata de um ser que ocupa o corpo de outro ser, como invólucro, como um invasor do corpo de um ser a sem consciência natural deste ser.

Pois ser Deus: é ter a consciência de Deus e racionalização de Deus, e ser homem: é ter a consciência de ser homem, e se raciocinar como homem. E se Jesus foi Deus, ele teve a consciência de ser Deus, e era Deus na consciência e na racionalização, portanto não era homem que aprende, cresce, erra e acerta para se tornar homem, mas um ser pronto no processo de um ser não pronto, no corpo de um ser que naturalmente toma a consciência de si, no seu crescimento de alto consciência e, convicção do mundo nas coisas que escolhe, decide, faz, arisca e crê.

Portanto um homem pra ser homem, ele tem que aprender a ser homem na vida, na juventude e na infância. Mas a infância de uma criança que se sabe ser Deus é uma fraude, uma aberração de um ser que se passa por outro, que se finge ser criança sabendo tudo sobre á vida e a morte, coisa que criança não sabe, coisa que não ocorre aos pensamentos de uma criança.

Ou era uma criança, agindo diante de todos como um ser que tem a consciência de ser Deus desde criança, sendo assim a criança mais estranha que jamais existiu, pois seria uma criança que sabe tudo das coisas de gente adulto, sem nunca ter passado pelas experiências de adulto, e pior ainda: uma criança que sabe tudo sobre as coisas da vida que nem um adulto sabe, pois era Deus e sabia como Deus. Ou seja: uma aberração que mais inspira algo diabólico de possessão de um corpo, do que algo gracioso de um menino especial.

E se era Deus e sabia como Deus desde criança, por que esperou ser homem para revelar seu ministério? Para ganhar credibilidade de homem? Não! Ou ele era Deus e sabia ser Deus, e escondia o fato de ser Deus, e se passava por ser homem, se passando por ser criança e jovem e adulto ate se revelar, ou era uma criança que sabia ser Deus e não escondia ser Deus, que cresceu se revelando ser Deus, e se tornou homem no corpo já sendo Deus revelado desde criança. O que em todos os casos também é uma aberração, ou no mínimo uma falsificação de um ser que usa o corpo de uma espécie diferente da sua, se passando por ser outra coisa que não é, ate se revelar ser quem é, depois de ter vivido como se fosse outro ser.

De todas as formas é muito estranho para não dizer é impossível Jesus ter sido uma criança e um menino que sabe que é Deus, todas as possibilidades caem na irracionalidade, no absurdo e na incoerência. A não ser que ele em algum momento de sua vida de jovem que se torna homem, ele tenha tido uma revelação de ser Deus, o que também é outra coisa improvável e insustentável, mas digno de uma analise mais para frente. Mas todos esses impasses se resolvem na verdade simples da honestidade da razão em contraposição a ao apego do coração que não quer ver e crer que ele foi somente um homem. E sendo homem, que espécie de homem foi?



Esdras Gregório


Escrito em dez de agosto de 2011

Próximo texto da serio a desmitologizaçao da divindade de Jesus:

Jesus era homem, mas não era um homem.


3 comentários:

Esdras Gregório disse...

Para que Jesus tenha sido Deus, é necessário que ele tenha tido a consciência de ser Deus. Que ele tenha nascido com está consciência de ser Deus ou em algum momento tenha tido esta revelação de ser Deus: a consciência de que ele era Deus antes de se tornar homem, a consciência de que ele era Deus feito homem. O que em todo caso é algo bisonho de se imaginar: um homem totalmente homem que acredita ser Deus. Pior ainda: um homem que foi criança e jovem e que como criança e jovem acreditava ser Deus.

Rodrigo Phanardzis Ancora da Luz disse...

Gresder!

Mais uma vez você tentando analisar pelo aspecto subjetivo e eu pelo objetivo.

A ideia sobre a divindade de Jesus é algo que parece ter surgido no século II dentro do cristianismo e se encontra bem expresso no Evangelho de João.

Segundo a historiadora Elaine Pagels, autora do livro Além de Toda Crença, o Evangelho de João representaria a expressão de fé de uma comunidade cristã profundamente sectária, a qual demoniza os judeus por não admitirem ter sido Jesus o Messias e que se contrapôs à interpretação do Evangelho de Tomé (daí o 4º Evangelho tratar este discípulo como um "incrédulo"). Isto porque o Jesus do livro até hoje considerado apócrifo e que foi achado sob as areias do deserto egípcio incentiva os discípulos à autonomia pela busca da Verdade, sem que estivessem presos necessariamente à sua pessoa.

De acordo com Paulo e com os evangelhos sinóticos, não seria possível afirmar que Jesus fosse Deus. Aliás, o que se lê em Filipenses é um antigo hino cristão que fala sobre a kenosis de Cristo em que ele teria se "esvaziado" de sua forma semelhante a Deus.

Assim, segundo Paulo, a encarnação de Jesus teria feito dele um homem igualzinho a qualquer outro e limitado quanto aos atributos divinos. Por exemplo, tendo entrado no mundo, Jesus não poderia ser onisciente, nem onipotente e muito menos onipresente. Logo, todas as suas operações miraculosas só poderiam ter sido realizadas na dependência completa do Pai, pelo Espírito Santo. E daí ele dizer que seus discípulos poderiam fazer obras ainda maiores do que as que ele fez.

É certo que, nascido como homem, o menino Jesus foi aos poucos tomando consciência de quem era e do mundo em sua volta. Seus pais tiveram que ensiná-lo a andar e a falar. Também precisavam carregá-lo para onde quer que fossem e talvez até corrigi-lo nas suas possíveis travessuras de criança.

Ter ele se considerado Deus é algo que me parece improvável, assim como Jesus ter recebido adoração conforme consta no 4º Evangelho.

Diga-se de passagem que para um judeu soaria blasfematório afirmar que um homem é Deus e aí eu só posso compreender Jesus como sendo um homem bem integrado à cultura judaica, que andava nas ruas vestido com suas franjas e filactérios, ainda que de uma maneira mais modesta do que os fariseus (ver o texto que escrevi esta data em meu blogue).

Por construção doutrinária, aí creio que podemos afirmar que Jesus nos mostra Deus. Só que aí este mostrar Deus seria reconhecermos a manifestação da divindade em qualuqer um de nossos semelhantes, o que significa o estabelecimento de uma relação amorosa com o outro em comunhão de sentimentos e em unidade. Pois como cumprir o mandamento de Deuteronômio parar amarmos ao Deus invisível com todas as nossas forças se formos incapazes de amar o prósimo a quem vemos?

Assim, a proposta de Jesus nos faz Messias e Deus por participação. E, neste sentido, consigo entender quando o evangelista coloca em sua boca a frase de que Jesus é "o Caminho, e a Verdade e a Vida" e que ninguém vai ao Pai senão através dele.

Infelizmente, as excelentes frases atribuídas a Jesus no 4º Evangelho aparecem mal contextualizadas no 4º Evangelho (se é que as diferentes redações modificadoras nos permitem contextualizar algo ali). O autor nos convida a conhecer a Verdade, mas não faz deste conhecimento uma busca pessoal, mas sim uma versão que já esteja pronta e acabada, o que acaba se tornando um sectário proselitismo.

Abraços.

Rodrigo Phanardzis Ancora da Luz disse...

Em tempo!

Até hoje desconhecemos como foi o cristianismo em suas origens, mas pelas poucas fontes disponíveis (e também pelo próprio Novo Testamento) já dá para notar que houve uma pluralidade de pensamentos.

Lamentavelmente ganhou a posição dominante dos católicos, os quais, após o Concílio de Niceia, passaram a perseguir não só os pagãos como os outros grupos da própria igreja como os arianos.

Há quem considere que a "inquisição" do século IV teria superado a da Idade Média e a espanhola. E que, graças ao triunfo cultural do cristianismo, o mundo antigo teria se suicidado.

Felizmente, temos ainda uma fonte de revelação que nenhuma instituição conseguiu destruir - o nosso inconsciente.

Continue pesquisando e refletindo, amigo!

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“todo ponto de vista é à vista de
um ponto, nos sempre vemos de um
ponto, somente Deus tem todos os
pontos de vista e tem a vista de
todos os pontos.”
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