
Uma perspectiva filosófica subjetiva sobre a graça
Reflexão primeira:
A graça é ser e estar salvo em todo o tempo enquanto se andar pelo Caminho; mesmo quando nossos pés estiverem sujos.
Tal graça é esta circunstância de ser salvo enquanto o coração estiver na disposição na qual Deus se manifesta. Mesmo se na trajetória os pés se emporcalharem; mesmo quando caído, pelo tropeçar das pedras que há no Caminho.
E, especialmente: mesmo quando na lama do pó desta terra misturada com a saliva de nossa arrogância mais as lagrimas de nosso arrependimento, a nossa alma patinar em desespero e abandono perante Deus
Sendo atributo de um Ser imutável ela é estável na existência de quem a recebe. Não se perde aqui e depois se recupera ali, não e inconstante assim como o seu receptor, não esta sujeita as probabilidades acidentais e imprevisíveis que atuam sobre o homem.
Graça é a posição de bem-aventurança existencial eterna na qual Deus firmemente se encontra. Para o homem esta graça é a experimentação de um grau de eternidade no tempo, de uma constância de propósitos firmados na constituição mais vital da psique da alma humana
Graça por tanto, é um condição estável profunda do ser, daqueles que em quanto no pó desta terra, estão sujeitos as inconstâncias e contradições da superfície do ser e, das expressões conseqüentes da personalidade humana Caída.
Nenhum pecado que procedem da contingência de existir, de qualquer espécie, tira o homem de tal condição, por que a graça no homem assim como Deus, não muda conforme a instabilidade do ser humano. A graça não tem expectativas quanto ao proceder individual, antes, já pressupõe a sua infidelidade.
Ela é a vida de Deus no homem, nenhum incidente faz com que o homem a perca. Pecado é uma atitude no tempo, e não necessariamente um estado decidido no íntimo da vontade. Isso considerando que todos os pecados isolados de quem esta no Caminho são atos de escolha consciente ou acidental e, não um estado de ser.
Só quando o homem vive em presença de Deus é que a violação de seus mandamentos ganha sentido, pois tal infração é a perturbação de um nível saudável de ser e existir em Deus. Pecado só é, quando diante de Deus. É Deus que da a sua significação. Fora Dele não a vida, não a transgressão, não a graça não a nada. Condenação é o estado terrível de não se ser nada para Deus.
Reflexão segunda:
A graça é a probabilidade da circunstância do homem de ser livre do pecado no ser, ao mesmo tempo em que se é ainda, escravo do pecado no existir.
A graça é esta possibilidade impossível de ser simultaneamente santo e pecador; santo no ser, pecador no fazer. Pecador, pelo pecado consistir em acidente inevitável na trajetória histórica em que se da no tempo, e não necessariamente um mal que domina a essência do ser daquele que vive sobre a atuação da graça, que esta de modo pertinente cativo a esta graça.
Só na alma humana existe verdadeira liberdade. Mas o Corpo e a constituição do individuo estão sujeitos aos objetos, ações, coisas e movimentos que atuam no universo de eventos e fatos materiais, numa interligação complexa de circunstancias, onde mesmo a alma desejando o bem, pratica o mal pela força imperativa de pressões que incidem sobre ela.
Na alma a vontade é livre na escolha da sua postura quanto à reação aos acontecimentos que sucedem sobre a existência material. Na alma se decide questões e vontades que formão a composição de um ente ímpio ou de um ser suscetível a graça. Entretanto, no existir terreno a pessoa não tem o absoluto controle de desejos e emoções com a mesma firmeza da alma.
No existir o ser é escravo de uma condição de vida profundamente comprometida pela Queda da humanidade. Onde as vontades e instintos afetados nem sempre se sujeitam as determinações sadias do ente regenerado.
Uma vez sob o estado de graça a alma que esta livre da condição essencial da corrupção do ser, ainda não esta completamente livre das implicações de existir sobre um mundo em grau de degeneração.
Estar livre do pecado no ser corresponde ao coração dominado pelos princípios de verdade, justiça e misericórdia que repousa nas disposições mais consolidadas da constituição deste ser. Não há dubiedade na alma, uma vez que a alma ou coração consiste exatamente numa decisão única, objetiva e moral que determinam a condição espiritual incondicional desta pessoa.
No entanto, permanecer escravo do pecado no existir, é estar sujeito as demandas poderosas de anseios, equívocos e fatalidades que ocorrem fora do controle absoluto da esfera de ação das decisões do coração. Porem sendo a alma boa, o mal procedente de existir em tal condição, tem seu limite de atuação neste ser. De forma que o pecado sempre será conseqüência de um descontrole da vontade no processo de existir, e não o fruto destrutivo e pretensioso de um ser profundamente degenerado.
A degeneração externa da natureza encontra na graça a sua fronteira. Graça é isso: o pecado que perturba o viver-existir da criatura piedosa, não tem poder sobre a alma de tal ser-santo, visto que as disposições de tal coração emanam de um estado de espírito profundamente virtuoso, e absolutamente aberto para Deus.
Reflexão terceira:
A graça é o poder contraditório de atração, exercido sobre o nosso ser, que faz com que ate mesmo os nossos pecados e conflitos nos aproximem de Deus.
Toda confusão e, preocupações que o pecado produz, quanto ao próprio estado moral diante de Deus, já é condição sem a qual não se vive de fato, perante Ele. Estar diante Dele em graça, é estar exatamente como um ser que foi sublinhado o fato de ele estar encurralado pelo pecado.
A graça não exclui a posição e classificação de pecador, e nem elimina o mal na existência, antes detecta e ressalta o pecado, deixando o homem suspenso e desnudo diante de Deus. Esta graça não é antítese da Lei, antes é a própria Lei como meio de graça, que revela um entendimento necessário como condição de estar na presença de Deus na mais absoluta verdade: a verdade do próprio pecado.
A graça não é basicamente paz de espírito, mas sim é o eu do homem posto em confrontação com os seus pecados diante do Santo. Graça são as experimentações de uma estância de crise e tensão pela condição de impasse e embaraço que o pecado suscita na consciência do homem. Na graça o pecado não se erradica antes se releva como um problema ininterruptamente contínuo e gigantescamente mal resolvido.
O estado de graça é a revelação da verdadeira e constante situação do homem diante de Deus: um ser que interiormente se dilacera entre o Paz e a culpa a Lei e a liberdade. Cuja intimo do homem, sob o imperativo Lei, se debate e se despedaça na questão visceral de nunca encontrar um meio preventivo contra o pecado. A graça é esta contradição irremovível fundamental para o salto da fé sem apoios.
Se o homem crê na impossibilidade da obediência aos mandamentos, a Lei moral esta em seu encalço como verdade absoluta e irrevogável sobre a sua consciência, mas se ele acredita na possibilidade da santidade, o pecado como realidade gritante na sua carne, rouba-lhe as paz e suas seguranças. Nem a regra ou liberdade estão para o homem, mas sim a não mensurável e incompreensível: Graça.
O pecado de quem esta, pela graça, aberto para Deus, não tem o poder de afastá-lo Dele, antes o coloca diretamente, e sem saída, em sua Presença, num estado de agitação de ser e indagação persiste quanto as suas escolhas possíveis e possibilidades de escolhas, onde o homem não tem como esquivar por o pecado ter implicações diretas na sua relação com a continuidade da inteireza da disposição moral de sua alma. Quão quanto todo o seu conflito só aumenta a sua responsabilidade como também a sua consciência de incapacidade.
É no pecado que o homem percebe que a Face de Deus esta ali, diante dele, o perscrutando e inquirindo do homem uma posição. Mesmo que nenhuma disposição o torne em condição de aceitável ou livre desta crise do ser. A graça é essa trajetória trágica, em que Deus conduz o homem ao autoconhecimento da sua incapacidade de nunca poder estar perante Ele a não ser: em pecado. Mas poder estar diante Dele em qualquer condição, já é em absoluto: toda a Graça.
Reflexão quarta:
A graça é força irresistível do evangelho que atua em nos, pela verdade que persuade e domina o ser na esfera mais profunda e consistente da alma humana.
Em tal estado de graça o ser se sente tão irreversivelmente ligado ao evangelho da mesma forma que estamos irremediavelmente presos a natureza e a condição humana. Uma vez que graça não é movimento ou objeto desta dimensão terrena, mas um processo ininterrupto de composição imaterial no domínio mais íntimo da vontade e das decisões humanas, nem um poder de coisas e eventos da existência material, podem interromper tal ação de designo eterno de Deus no coração do homem.
Perdão, lei, contrição, paz e culpa são termos humanos usados a fim de se explicar a tentativa e o procedimento de ligação do homem com Deus que se faz em todas as religiões. Mas a graça não é o mero perdão como acesso a Deus numa lei de mérito de arrependimento, ou causa e efeito na relação do humano com o Divino, mas um estado espiritual da constituição mais fundamental do ser do homem, que não se altera por decisões inconstantes tomadas no palco da existência contraditória da superfície deste ser.
O homem na existência esta sujeito não só as força dos episódios que sucedem sobre ele, como também a própria modificação natural que vem pelo passar do tempo. A própria maneira de ver e reagir de cada um advém das condições características de existência especial e particular. Particularidades estas que pela graça não tem poder de influir na decisão mais objetiva da alma.
Se na existência existe variações de vontades e inconstância de decisões pela subjugação do homem a complexidade do mundo de eventos e possibilidades. Na esfera do ser a graça é essa força irresistível sobre o coração, cujas variações e incidentes da existência não podem suprimir. Nada fora da alma a não ser uma decisão do próprio coração podem tirar o homem deste estado de segurança absoluta a que se chama graça, contra os acontecimentos no corpo e no campo das sensações humanas.
Portanto graça é à força da revelação do evangelho no coração que cativa o homem de tal forma, mesmo acontecendo os episódios mais trágicos não prescritos para o ente humano sujeito a lei de Deus. Graça é essa verdade incontestável na nossa consciência, cujo poder de acidentes, quedas e reincidências não alteram e nem suprimem o seu efeito no nosso coração. Em suma a graça é a segurança eterna da salvação daquele que crê.
Reflexão quinta:
A graça é a condescendência de Deus de vivermos ainda sobre um estado de graça a despeito da nossa incompreensão e ignorância quanto a ela.
Uma vez que a graça é todo um processo interno que se passa na alma do ser humano, e não basicamente uma metodologia verificável na personalidade do individuo, ela sempre será vista conforme a capacidade e entendimento particular de cada um.
A graça é um ato comum e indivisível de Deus feito no ser do homem, mas manifesto conforme as muitas formas de expressão da personalidade do homem nestas infinidades de possibilidades de experiência de existência humana.
Portanto a graça não é conceito a que se deve crer corretamente para se ser salvo, mas procedimento espiritual feito no homem sem a necessidade da sua exata verificação, visto que o que si é possível observar dela, se da apenas no campo das suas ilimitadas experiências como conseqüência do que si é feito no mais intimo do ser do homem.
A verdade total desta graça é vista somente por Deus, e não se impõe na tirania de um conceito doutrinário em que se é necessário crer perfeitamente para se ser alvo desta graça, mas procedimento que apesar de único e absoluto é operado, percebido e vivenciado na relatividade da subjetividade humana.
Gresder Sil