A desmitologização e secularização das linguagens e estruturas religiosas da fé
domingo, 31 de janeiro de 2010
Como se corrompe um ser
Existia um rapaz em que no tempo em que ele começou a descobrir os prazeres do mundo, a religião invadiu o seu ser, incendiou a sua alma. Que felicidade! Agora a sua vida tinha um novo sentido e ele não mais precisava buscar nas efêmeras alegrias o consolo de viver num mundo tão contrario e insensível aos nossos desejos e planos que fazemos nesta vida.
Entretanto satisfeito a sua alma, o seu corpo ficava no vazio! E a sua carne pedia o seu tributo, queria ela também ser saciada. Daí que uma das primeiras coisas que “lhe ensinaram” era para que ele matasse a sua velha natureza e lutasse contra os desejos da sua carne. Que luta! Que agonia! Descobriu que dentro de si mesmo existia uma guerra que o impedia de ser completamente feliz.
Mas como sempre a religião tinha a solução, pois “lhe ensinaram” que era somente ele buscar as coisas do espírito que as coisas do mundo perderiam o seu poder sobre ele. Foi então que ele descobriu um novo prazer: ensinar os preceitos da religião. Pois sendo a vida resumida na fuga da dor e na busca do prazer, ele agora substituía o prazer das coisas do mundo pelo prazer das coisas do espírito.
No entanto de tempos em tempos seus antigos grilhões vinham ferroar sua carne. Pois quanto mais ele lutava contra ela mais ela insatisfeita lhe afligia a alma. Todavia ele, seguindo os ensinamentos da religião, mais se dedicava ao espiritual para não somente vencer como também para compensar no espírito o prazer que lhe era privado na carne.
E deste modo ele se fortalecia nas coisas do espírito. E tanto mais ele lutava e se dedicava mais ele se destacava e mais instruído e importante ele ficava no meio das pessoas da sua religião. E na medida em que ele ia mais se comprometendo e se aprofundando nos mistérios da religião, mais ele ia com desespero de fracassar, intensificando suas tentações. Contraditoriamente tornando cada vez mais forte a carne na resistência dos venenos sofisticados que tentavam mortificá-la.
Passado o tempo, agora ele era sacerdote da religião e sentia fugir de si mesmo toda pureza e simplicidade que tinha e que o levaram ao lugar e poder que agora possuía. Pois não enxergava mais as coisas como antes, e percebera que quase que tudo que era atribuído a religião tinha a sua simples explicação nos acontecimentos desta vida. Só que agora não podia mais mudar as coisas, pois tinha construído um império, que lhe dava seu imenso prazer de viver e sentido de existir gloriosamente.
Estando com seu lado social religioso satisfeito bateu na sua porta o desejo da carne faminta no momento onde ele não somente estava exausto de tanto lutar como também não mais acreditava em quase tudo em que olhava na religião. Ai então que desencadearam sobre ele uma espécie de desejo desenfreados de satisfazer todas as vontades reprimidas ou mal satisfeitas de sua juventude.
Só que tudo isso lhe custava dinheiro, daí que ele fez do seu oficio sagrado um meio de vida e renda já que não acreditava em mais nada, pois estava frustrado por seguir os ensinos da religião que não o livraram da sua carne. Pois como não sabia ser ou fazer outra coisa na vida que não fosse ser ministro da religião, ele começou a ensinar com eloqüência para o povo aquilo a qual eles queriam ouvir. E assim lhe traziam aos seus pés todo dinheiro que ele precisava não somente para manter seu império como também para satisfazer toda sua luxuria.
Gresder Sil
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Esdras Gregório
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
SACRIFÍCIO ETERNO
Será que no mais profundo da nossa fé precisamos dos eventos históricos que envolvem a vida daquele que foi ungido para ser a face de Deus entre os homens. A sua vida não foi tão singular entre as pessoas que talvez elas o envolvessem em um manto mitológico de eventos e fatos que assegurariam para o futuro a sua natureza Divina imune ao processo (“impuro” e deteriorável) comum de nascimento, vida e morte dos mortais.
Desde o seu nascimento e partida, ha aparições e eventos relatados um tanto quanto para causar deslumbramento, e assegurar a fé em sustentações não humanas. Não que o que aconteceu com ele não possa ser de fato histórico, antes muito mais do que isso, pois são supra-histórico, como repetição na existência o que se foi feito na essência e na eternidade do cordeiro imolado desde a consumação de todos os séculos.
Todo detalhe que porventura não foi um acontecimento histórico, foi como um símbolo de um ato eterno da redenção ministrada no cordeiro desde a fundação de todas as eras, não só para esse mundo, mas para todos os mundos e criaturas de Deus neste universo infinito sem começo e sem fim de dias e limites de espaços. Uma vez que o Criador seja ilimitado em sua capacidade de criar reinos e seres morais, livres e autoconscientes, ele haveria de providenciar um cordeiro eternamente sacrificado, para todos os mundos e universos que existiram, existem e existirão para todo o sempre.
Não que essa obra seja um ato físico envolvendo ação e movimento em algum lugar espacial fora deste nosso mundo, mas sim um estado existencial na disposição do Ser do Criador para com as suas criaturas; pois de fato Deus sendo Espírito não precisa de um sacrifício concreto de sangue para que seja aplacada a sua Ira e Justiça, mas criou a mais linda história como símbolo eterno de redenção para todos os mundos, representado aqui no palco desta terra, na Vida e Paixão do seu Servo Jesus.
Gresder Sil (Esdras Gregório)
Post dedicado ao Eduardo Medeiros mestre dos Sinbolos
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Esdras Gregório
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
Uma costela
Três dias e duas noites de caminhada extenuante. As sandálias de Adão se arrebentam; Eva tropeça e cai, ficando para trás sem que ele a perceba.
O deserto após o paraíso é semi-árido; o chão é duro como pedra. Adão sente seu vigor físico se exaurir. Sobre seus ombros pesa mais a responsabilidade de ser o autor de um ato de desobediência que desencadeara para toda a humanidade uma vida de miséria física e moral e a alienação com o Criador, do que o peso de Caim e Abel amarrado sobre suas costas.
Gritos de crianças desesperadas ao pé do ouvido despertam Adão do seu entorpecimento mental, produzido por uma culpa dilacerante e por um sol causticante. Adão volta vinte passos; Eva está lúcida. Mas não tem forças para se levantar; o sangue esfria e todo peso de uma fadiga redobrada cai sobre seu corpo com o pessimismo que um cansaço extremo produz. Por hoje Eva já não conseguira mais andar. Instintivamente Adão solta os meninos no chão e pega sua fêmea sobre seus braços.
Horas depois, Eva acorda ao lado de seu marido, que conseguiu alcançar antes que a noite caísse, uma arvore frondosa para repousar. Mesmo tendo apenas cochilado nas noites anteriores, Adão não consegue serrar os olhos. Pois, por ironia da natureza, uma dor de cabeça por falta de sono impediu-o de dormir.
Ate esse momento Adão ainda não tinha reparado em Eva. E todo o seu cuidado com os filhotes e sua mãe era impulso irrefletido de pai de família. A sua preocupação era existencial, não como individuo, mas como progenitor da raça humana.
Ao despertar e olhar o semblante abatido do seu homem, os temores e aflição de Eva voltam novamente. Ela não pondera assim como ele, nas conseqüências desastrosas que o ato do casal produzira em toda a sua descendência, e muito menos na sua condição física, higiênica e pessoal lastimável, mas unicamente na vida integral da pessoa que era seu companheiro por imposição divina e sentimentos ternos e humanos. O bem estar do seu esposo era o que realmente importava para ela naquele momento.
Há quase dois dias eles não trocam palavras. A comunicação básica era visual. Tirando sua roupa e a dele, ela se põe sobre ele. As suas mãos, agora descuidadas e ásperas, mas ainda delicadas, massageiam os músculos tensos do corpo exausto e desidratado de Adão.
Na medida em que ia relaxando o seu espírito desesperado se acalmava. E só então ele começa a perceber que caminhava ao seu lado e agora diante dele, uma mulher maravilhosa e uma companheira imprescindível.
Que contraste! Ele, macho em todo tempo, reflexão profunda, decisão objetiva, passo e mente pesada, enfim preto e branco. Ela colorida em todo o seu esplendor de sensibilidade, carinho, leveza e multiplicidade de interesses supérfluos que encantam e enche á vida do ser humano.
Deitados as suas mãos meigas percorrem o corpo de Adão, e suavemente sobem ao seu pescoço, e com um sorriso de ternura ela encontra nos olhos fundos daquele homem, um olhar que a contempla em toda a sua flor de feminilidade e doçura. Eva estava suja, mal cheirosa e despenteada; mas por ser notada irradiava em seu semblante uma alegria que tornava sua beleza insuperável.
Os seus membros se tocam os seus espíritos se encontrão. Adão se excita, e pelas circunstâncias se envergonha também. Eva sorri maliciosamente. Estando ela por cima, pela primeira vez, ela faz todo o “serviço” sozinha.
Findo um ato sublime de amor e de desejo, Adão vira Eva por baixo de si, e naquele momento amando-a profundamente quebra o silencio respeitoso e solene que se prolongava entre eles:
- Eva o meu ato de desobediência no paraíso, foi uma atitude de fidelidade a você. Eu estava consciente e poderia ter recusado o fruto de suas mãos, esperando que Deus criasse para mim outro ser, enquanto você se perdia. Mas o que seria a outra, se você é mulher no seu sentido mais plena, e feminina na sua acepção absoluta.
- deve Deus já ter feito e inventará, pois nunca deixara de ser Criador, mundos universos e reinos incomensuráveis e monumentais, para muito além de nos e de nosso entendimento. E tudo o que Ele faz é repleto de poesia, graça e significados inexauríveis; e em você minha flor do Éden, Ele imprimiu partes da essência encantadora do seu Ser. Mulher! Toda a sua beleza, sensibilidade e brandura emanam dos atributos e da riqueza de sentidos do amor e da alegria que existem no ser de Deus.
- nenhuma outra mulher poderia fazer esvanecer-se a sua imagem de minha alma. Indubitavelmente por ser a primeira você é a mais linda e surpreendente de todas as mulheres que virão. Sem você seria horrível, alem de só eu não me sentiria homem. Seria como se me carecesse alguma coisa. Sinto que algo me faleceria bem aqui dentro de mim. Enfim seria como se faltasse algo tão entranhado em mim, como... Sei Lá!... Uma costela, por exemplo!
Gresder Sil
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Esdras Gregório
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
Comportamento feminino-religioso
A igreja evangélica hoje corre o risco de se tornar assim como a igreja católica: uma religião de mulheres e crianças. Isso é estatística: entre as categorias de leigos que não exercem função nenhuma nas igrejas a maioria dos membros são mulheres. Porque essencialmente o homem sendo um ser mais voltado ao lado social da vida, vê os meandros da instituição, a mulher não! A mulher vai à igreja por que se interessa pelo sentido espiritual da religião e não se preocupa tanto com a direção institucional administrativa da igreja.
A mulher geralmente não se frustra ou se rebela contra a liderança religiosa, por que ela vai à igreja para ver Deus mesmo; já o homem, vê os homens, seu domínio, suas ideologias, sua política. O homem sendo mais racional perde com isso, a mensagem é broqueada pelo seu olhar desconfiando do andamento da Coisa. Enquanto a mulher geralmente mais emocional e não tendo os instintos tão desenvolvidos de socialização política, busca o que realmente interessa: “a fé, o amor e a esperança”.
O homem nota a fragilidade do Dogma, a fraqueza dos ministros, à mulher observa a operação de Deus, a infalibilidade Divina; o homem enxerga os interesses da cúpula, a mulher discerne a vontade do Senhor. O homem tem na igreja interesses de poder, quer seja na liderança, ou no poder de influência em sua insurreição contra a denominação. O homem de habilidade, se não conseguir relevância por não adotar o pensamento dominante do sistema, revolta-se contra ele, e frustrado acaba ficando em casa. A mulher vai à igreja porque pra ela é lá que é a Casa de Oração, pra ela sendo Cristo o Cabeça, jamais se frustra.
Enquanto a mulher crê que o pastor (ou padre) é um homem quase infalível, posto incondicionalmente por Deus, o homem suspeita ser o sacerdote um homem que se impõe a si mesmo, que erra muito, que é parcial. Por isso sendo a mulher aberta para a atuação de Deus por vasos humanos, ela naturalmente é mais piedosa e olha a igreja com o amor que: “não suspeita mal, não se ensoberbece, tudo crê, tudo suporta”
O homem pensa, consistir Deus em um Ser masculino, racional, eqüitativo e sistemático, por isso se debate em doutrinas. Mas a mulher sendo mãe entende que Ele é um Ser assim como ela, que gera a vida de si mesmo e que cuida especialmente de cada um dos seus pequeninos. O que equivale a dizer que enquanto o homem erradamente presume que Deus esta preocupado com coisas abstratas como a verdade e a justiça, a mulher instintivamente percebe que Ele se preocupa verdadeiramente é com pessoas reais que tem sentimentos, que sofrem, que chorão.
Jesus vendo a humildade e pureza das crianças nos disse para ser como elas, eu ousadamente acrescento (vendo à bestialidade do homem como animal político que gosta da disputa do embate e do poder) e vos digo: sede como mulheres, porque quem não for como mulher não entrara no Reino de Deus. Pois só assim poderemos ver a Gloria de Deus e permitir a operação do Senhor em nossas vidas em meio a organizações religiosas tão humanamente dominadas ou criticadas por machos boçais
Gresder Sil
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Esdras Gregório
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
Frutos do coração
Uma vez que de tanto que já tenhamos ouvido a Palavra, ela já deve fazer parte integrante do nosso ser, de forma que nosso proceder seja fruto espontâneo daquilo que esta profundamente inserido na constituição da construção de todo nosso existir.
Não do ouvir das palavras humanas que foram usadas para nos transmitir a mensagem, mas da mensagem mesmo, ouvida e guardada no intimo do nosso coração. Pois toda palavra humana a de ser esquecida naturalmente sendo ela apenas veículo natural de transmissão.
Ou todo nosso proceder reflete o que interiormente somos pelo que foi plantado em nosso coração, ou estamos lutando em vão para produzir aquilo que não vem naturalmente das disposições voluntarias e permanentes do estado de espírito do nosso interior.
Se a verdade, a justiça e misericórdia não brotam facilmente de dentro de nos, é porque ate agora se atemos a lei como regra externa de conduta e não como essência vital a que o nosso coração deve estar profundamente inclinado por uma lei natural do nosso próprio ser em transformação mediante a Palavra.
Visto que seja assim, a transgressão não é mais vista como violação das regras fixas e externas ao nosso ser, mas como vivencia inautêntica. E o pecado na pratica é algo agora circunstancial e não atos determinados, posto que a cada proceder do próprio coração fluirá o seu modo natural de ser e agir.
Deste modo nem tudo que nos é licito será conveniente e nem tudo que é inconveniente será proibido. Quem vive da inexorabilidade da lei, pode pela própria lei transgredir sua essência por atos que apesar de corretos, não procedem da compatibilidade do próprio coração com o espírito da lei. De forma que agora o pecado não será mais pré-estabelecido, mas o coração decidira a cada momento o que for bom.
Assim como foi prometido à lei serás escrita nas tabuas do coração e não mais fixadas em atos determinados e prescritos como dantes. Outrora foi assim como meio preventivo para assegurar a obediência e segurança de todos independentes do seu estado de espírito compatível ou não com a lei.
Mas quem por boa disposição natural do coração esta livre da lei, tem a lei nas entranhas do seu ser, de forma que o bem e a verdade há de fluir e brotar do seu interior; sem que ele precise das regras que foram feitas para aqueles que não são capazes de decidir de si mesmo a cada circunstância sobre o bem e o mau.
Gresder Sil
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Esdras Gregório
domingo, 10 de janeiro de 2010
Paulo o estóico
Paulo era inspirado? Sim! Mas mão aniquilado em sua personalidade humana! A inspiração não implica a completa anulação do fato de ser Paulo um homem sujeito ao entendimento e cultura de seu tempo! A inspiração não é um estado de êxtase arbitrário que anula a subjetividade do sujeito que é alvo desta inspiração. A inspiração trata-se de uma condescendência de Deus ao homem, de forma que a Palavra eterna é transmitida em palavras humanas a fim de ser entendida conforma a capacidade de entendimento de um homem e de uma época.
Paulo esta no tempo, tem uma história, tem a sua própria cultura e linguagem a qual sendo inseparável de sua personalidade é derramada em sua forma de escrita. E é este judeu, instruído na lei e no entendimento das ramificações do judaísmo, e conhecedor da cultura e filosofia do mundo helênico a qual foi criado, que Deus escolhe para esboçar uma teologia cristã. E escolhe exatamente pela bagagem judaica-filosófica que possui. Sim! A Palavra que transcende a escrita se contém e se difunde pelo entendimento do escritor.
Paulo como homem não escreve a Palavra de Deus, escreve com as suas próprias palavras o que lhe é revelado do entendimento do espírito da Palavra. A Palavra não se prende a Paulo, não se limita a um cânon, antes esta aberta ao infinito, pois é eterna em essência, as palavras humanas não a pode conter. Transmitir a Palavra em palavras é o mesmo que se esbarrar nas limitações de entendimento de uma geração de homens.
Mas isso não diminui e nem altera o seu fator de inspiração divina, visto que as palavras são apenas instrumentos secundários para atingir o coração humano, o que vale é o poder visceral da verdade que penetra o ser do homem, mesmo que ele não consiga traduzir isso em palavras humanas.
Paulo enxerga e vê pelas escrituras e pelo Espírito, a maior verdade da condição do homem, o fato de ele ser completamente pecador incapaz de salvar a si mesmo. E essa pecaminosidade inerente ele interpreta como conseqüência da Queda do primeiro homem. Mas tudo isso é entendido e exposto conforme as estruturas de pensamentos de sua época e formação intelectual.
Paulo sabe que a Queda afeta diretamente o homem na sua integralidade, pra ele o homem é pecador em seu conjunto de faculdades, sensibilidades, vontades, anseios e instintos. O pecado esta intrínseco ao ser do homem. Isso como se a própria natureza humana tivesse sido mudada na Queda, como se os instintos e desejos fossem pecaminosos em si mesmo.
Mas tal visão de natureza pecaminosa não esta no velho testamento, não aparece por lá. Começando por Genesis, o que mudou no homem após a Queda? Os seus instintos, suas faculdades? Não! Absolutamente não! A Queda altera uma condição humana de relação com o Criador, por conseqüência de um ato de vontade. Ou seja: o pecado antes de tudo é um mal moral, depende de escolhas e decisões e, sobretudo um mal existencial, visto que a conseqüência foi que o homem foi expulso da presença de Deus no paraíso.
A condição de pecaminosidade afeta a sua existência, como vivencia numa condição de vida a qual não é o seu modo de ser natural. Por isso existe essa sensação de desencontro e absurdo patético dentro do homem sem Deus.
O velho testamento não sofre influencia direta de uma tentativa sistemática e racional de se explicar o homem, mas apenas descreve pela própria experiência da humanidade que o pecado esta no coração, ou seja, na vontade humana em oposição a vontade de Deus. Sim! No velho testamento é à vontade e os pensamentos humanos (coração) que são pecaminosos. Não há referencia de degeneração da natureza, mas apresentação de um estado espiritual de afastamento. Como também uma vontade obstinada na transgressão moral dos mandamentos.
Paulo percebendo toda essa verdade, esboça este entendimento sob a influência direta de sua formação e capacidade de ordenação metodológica. Ler a literatura clássica daquela época e negar a influencia pelo menos na linguagem do estoicismo e filosofia de Platão em Paulo, é o mesmo que não ver que somos todos produtos de nosso tempo com toda formação cultural, histórica e particular que afeta diretamente nossa visão de mundo.
Mas para alguns aceitar isso é como se ofendesse a inspiração divina da Bíblia? Como se salvação dependesse do entendimento exclusivo e correto da Revelação. Mas é Deus que vem até nos conforme a nossa capacidade de entendimento. E Ele apenas exigiu que nos o amemos com todo esse entendimento, limitado e humano.
Paulo como um judeu helenístico que era foi influenciado por pensamentos como este de Sócrates em sua declaração da razão por que o filosofo não deve temer a morte: a qual é porque o corpo é um impedimento da alma e da razão, sendo estas o maior bem humano. Tal pensamento esta na noção dos estóicos de carne mau. É claro que Paulo não endossa totalmente essa idéia antes aproveita alguns princípios e usa a sua linguagem e entendimento.
Em suas cartas ele da a entender que nossa carne (instintos, sensibilidades etc.) são inerentemente pecaminosos, mau e degenerado. O que não é em absoluto verdade. O pecado trata-se da satisfação de nossos desejos e vontades humanas de uma forma egoísta, não necessariamente a satisfação dos apetites em si.
Se Paulo fosse do nosso tempo usaria de outros termos para falar de tentações e pecados, talvez fizesse a separação do homem assim: sensibilidade, razão e vontade, ao invés da dicotomia dualista alma e corpo; e diria sobre os desejos da carne como necessidades instintivas da natureza humana. E apresentaria a Queda não mais sobre o molde estóico de natureza pecaminosa, mas sobre a estrutura filosófica existencialista onde o ser esta existencialmente afastado da sua Essência.
E com certeza escreveria mais ou menos assim para Timóteo naquele trecho bíblico: “meu filho traga lá meus CDs e meus livros, especialmente meus livros de sociologia, antropologia, biologia e ciências, pois seus autores disseram algumas coisas verdadeiras a respeito da natureza humana. Pois toda verdade é verdade de Deus, não importa onde ela estiver sendo dita”.
Gresder Sil
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Esdras Gregório
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
Humanos, demasiadamente humanos
Aqui eu faço coro com o filosofo cristão dinamarquês: Sören Kierkegaard em seu entusiasmo ao velho testamento, em contraposição ao cristianismo, pois ali os seus principais personagens eram humanos demasiadamente humanos. Eles amavam intensamente os seus, odiavam seus inimigos; iravam-se, matavam e lutavam bravamente nas guerras; bebiam e dançavam em suas alegrias. Apaixonavam-se pelas suas mulheres, traiam, adulteravam e se arrependiam. E que mesmo assim sendo conscientes de serem carne e pó, se opunham corajosamente aos poderosos opressores e defendiam virilmente o direito do pobre e oprimido e a dignidade de sua nação.
Neles não avia afetações de espiritualidade platônicas, não existiam sacrifícios de autonegação estóica da sua natureza humana, ou depressão por uma vida religiosa desejosa por experiências sobrenaturais. Antes intensidade de sentimentos humanos universais onde o errado não erra a satisfação autêntica dos seus instintos poderosos de: guerra, poder, sexo, amor e honra, mas falta de integridade da verdade interior para com o Criador e seus semelhantes. Pois espiritualidade era a vivencia da mais pura humanidade dos princípios de seus sentimentos morais, nobres e aristocráticos.
Homens que eram leais as suas alianças de amizade, que falavam a verdade para não lesar o próximo, quando não mentiam covardemente em sua própria defesa; que se enfureciam com todo sentimento perverso e mesquinho de gente sem caráter e inteireza de coração. Mas ainda deste modo: homens que amaram a Deus, que com Ele lutaram e foram vencedores. Homens sem o anseio sobrenatural místico e contemporâneo de buscar a Deus. Pois foram encontrados por Ele, e com Deus andaram satisfeitos de terem sobre si a sensação real de Sua face sobre eles.
Em fim: eles eram humanos, diferente da neurose da batalha espiritual proporcionada principalmente a começar pela influência do estoicismo e gnosticismo helenístico nos primeiros cristão. Posto que o que foi produzido depois foram homens insatisfeitos e deprimidos por almejarem uma espiritualidade estável, dinâmica e gradativa, mas irreal. No entanto os antigos não se preocupavam em buscar a santidade ou em serem espirituais como hoje se ambicionam, mas apenas e simplesmente em serem honestos, pois o que valia naqueles tempos era a integridade da conduta de um homem, e não a sua castidade ou capacidade de autonegação e profundidade espiritual. E por serem tão autenticamente humanos foram considerados e chamados de santos pelas escrituras.
Gresder Sil
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Esdras Gregório
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