segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Exercício religioso



Ao sentir o cheiro, e olhar a comida que era posta para ele, do seu coração quis dar graças, pois como homem, sentia com todas as forças do seu ser que o produto da terra, necessário a vida, com a beleza e cuidado com que era transformado em alimento, não podia consistir em outra coisa, a não ser, dom gracioso de Deus.

Mas estava em seu coração assentado o desejo de romper com todo modelo piedoso dos religiosos de sua época. Mas algo nele o impedia. Uma força o remetia de volta a toda disciplina que rejeitava. Queria não jejuar, pois essa objetiva e simples postura de suplica, tinha se tornado em seu tempo, exercício de esforço próprio e preventivo contra os desejos da carne, mas por varias vezes em crises drásticas, pelo encargo do seu existir, era compelido ao deserto onde por dias não comia.

Fugia ele de toda forma tradicional de oração, e por sentir em sua alma a necessidade de ouvir a voz do Pai em seu coração, se retirava muitas vezes para fazer caminhadas de madrugada nos desertos e montanhas, onde longe e livre dos olhos do povo, deixava que os próprios pensamentos vindos aleatoriamente do íntimo do seu coração se transformassem em suplicas de oração.

Se por um lado, queria não impor ao seu espírito carga nenhuma de compromisso e consagrações, por outro, Deus arrancava dele, das profundezas do seu ser, modos de expressões espontâneas e ternas, próprias de um coração serenamente consciente do propósito de Deus em tudo neste mundo.

Mas ao levar seus olhos aos céus naquele tarde de refeição, não resistiu, pois para ele tudo tinha sentido em Deus. E com duas palavras e um suspiro que alivia as necessidades e anseios do ser, e que respira satisfeito o agradável cheiro da terra e do alimento, deu graças e comeu.

Gresder Sil

7 comentários:

Levi B. Santos disse...

Caro Gresder

É nesse Jesus humano que você descreveu tão poeticamente, que eu creio.

Na história de Suas fraquezas eu me fortaleço, porque Deus mesmo, é aquele que desce para sofrer conosco as nossas vicissitudes.

O Deus que sobe e “que é louco por pompas e gloria”é o Deus do “Judaísmo farisaico” apelidado de cristianismo de resultados.
Eu prefiro mil vezes esse Jesus que desce até as profundezas do meu inferno.

O Jesus que eu creio é esse que desceu à beira do abismo insaciável. Aquele que lá no horto do Getsêmane se dirigiu a Deus numa oração, talvez, muito parecida com essa que agora vem a minha mente:

“Meu Deus minha cabeça é uma chama de dúvidas que jorra perpetuamente. Todavia, o sopro da tua noite ó Deus tenta extingui-la. Todo o Teu propósito, ó Deus, e toda a minha luta periga a cada instante. Avanço aos tropeços pela carne, como um viajante surpreendido pela noite e grito: Socooooooorro!!! Socorre-me ó Pai, não me deixa sucumbir”.

Alegro-me Ó Pai, por essa grande promessa que o Teu filho me fez: “No mundo tereis aflição”. É ela que gera em mim a paciência e a temperança, necessárias, para manter o meu coração aceso e esperançoso de que dias melhores virão.

Termino esse meu comentário, com os olhos marejados, porque sei que em minhas aflições do dia a dia não estou só, tenho um grande amigo ao meu lado. Um grande amigo que sussura aos meus ouvidos quando dou as minhas muitas quedas : “Coragem Levi! Não desanimes Levi! Eu também passei por essa estrada de sofrimentos que estás enfrentando. Onde estiveres e como estiveres, Eu nunca te desamparei nem te reprovarei.

Não sou uma divindade a quem muitos idolatram e se sacrificam por ela, sou simplesmente teu amigo e irmão, Jesus.


Obrigado meu caro Dresder, pelo teu texto que me inspirou essa prece.

Ricardo disse...

Cara, gostei desse blog. Você conseguiu fazer algo bem diferente por aqui. Parabéns.

Até agora só deu para ler quatro das suas postagens, depois continuo, mas gostei de todos os textos.

Um forte abraço.

Enéias Teles Borges disse...

Caro amigo,

Gostei do blog e li com atenção o seu perfil. Efetivamente você denota ter uma base de filosofia cristã bem interessante. Num primeiro momento pensei que fosse um agnóstico com tendências cristãs criacionistas.

Vou seguir seu blog.

Abraços.

Anônimo disse...

Meu Caro Gresder, além de tudo és poeta mano?
`
É esse Deus esvaziado que venho tentando mostrar aos nossos irmãos.

E quem de nós não passa por esse tipo de crise?

Não me admiraria se você estivesse através deste
belo poema retratando suas (ou melhor dizendo, nossas) próprias guerras interiores.

Continue irmão!

Edson Moura

Eduardo Medeiros disse...

Prosa recheada de boa poesia, poesia dita em prosa.

Agora, vamos às discordâncias, senão não tem graça rsssss......

Mas enfim...

"uma força o remetia de volta a toda disciplina que rejeitou..."

Eu não consigo ver Jesus rejeitando a disciplina da sua religião.

ele era judeu, né?
Mas com todo o seu gênio criador de "vida", ele quer catucar, tirar os escombros de anos e anos de "mandamentos de homens" que sufocaram o espírito da Torah e soprar de novo nas sua narinas a vida que a letra sufocou.

Então, realmente,

"Mas estava em seu coração assentado o desejo de romper com todo modelo piedoso dos religiosos de sua época." Concordo plenamente com isso.

Por isso ele jejua e ora nas montanhas ao mesmo tempo que revela que os convidados não jejuam enquanto o noivo está presente, porém dias virão que o noivo se vai e aí, o jejum se faz necessário (Mt 9.15); mas,também diz que o jejum não pode ser resultado de uma motivação egoísta e hipócrita, (Mt 6.16-18)

Jesus suportou tudo, até a morte de cruz, mas hipocrisia ele não suportava.

Foi circuncidado ao oitavo dia, aos 12 anos foi ao Templo passar pelo rito de passagem que todo judeuzinho passava, sua pregação não era outra, a não ser que "É chegado o Reino de Deus".

Sua pregação não era "quem quer me aceitar como salvador?". Não pregou a si, pregou o Reino que irromperia na história dos homens, tema sobejamente citado pelos grandes profetas, nos salmos (96, 98)e inclusive no seu primeiro mentor, o Batista: "Arrependei-vos, pois está próximo o reinado de Deus" (Mt 3.2).

Eu também sou batista heee....

Ele não vem invalidar a Torah, ele quer dar vida à Torah. Quer tirar as amarras e algemas que puseram na "Instrução". (Mt 5.17-20).

O problema de Jesus não era com os Fariseus, era com o modo dos fariseus lerem as Escrituras.

"é lícito fazer o bem no sábado"?

Essa frase desmonta toda a pretensão farisaica de ter a genuina interpretação da Lei.(é verdade que nenhum rabino antigo ou atual, aprovaria a heterodoxia vivificante de Jesus; ver "Um Rabino Conversa com Jesus, ed. Imago).

Então, Jesus, "humano, demasiadamente humano"(parafraseando o bigodudo alemão), de tanto humano que era, só poderia mesmo ser Deus. (citando o barbudão brasileiro).

abraços calorosos

Esdras Gregório disse...

“De tanto humano que era só poderia mesmo ser Deus.” adorei essa frase, me parece com a frase dos rapazes do “o outro evangelho”: “ser espiritual é ser mais humano”, pois é nesse Jesus humano que o Levi acredita, que sem estardalhaço nenhum, mareja nossos olhos; e nesse Deus esvaziado que sofreu crises e guerras interiores semelhantes as nossas que o Edson assim como nos, somente consegue tentar anunciar, que eu também tenho fé inabalável.

A humanidade de Jesus e a vulnerabilidade do registro sagrado é que faz com que eu deposite a minha esperança Nele, pois sei que não estou sendo ludibriado por uma historia previamente calculada e perfeitamente inventada. E nem sou um simplório que acredita em livros perfeitamente escritos lá nos céus e depois psicografados impessoalmente por profetas em transes aqui na terra.

Pois assim como acredito num numa Palavra eterna, mas escrita insuficientemente por homens em suas incapacidades humanas, assim também acredito num Deus perfeito feito homem imperfeito como nos, sujeito a um processo humano de equívocos e acertos num procedimento de aprendizado para chegar ao seu destino final e fatal.

Anônimo disse...

Irmãos, minha vez agora tá?!

Quanto ao que o Eduardo disse, "Não concordo nem discordo...muito pelo contrário" (Rsrs)

Vou continuar "tentando" expôr aos nossos irmãos o Deus em que creio, vamos lá:

Esse é o Deus do evangelho da graça. Um Deus que, por amor a nós, mandou o único Filho que jamais teve, embalado em nossa própria pele. Ele aprendeu a andar, tropeçou e caiu, chorou pedindo leite, transpirou sangue na noite, foi fustigado com um açoite e alvo de cusparadas, foi preso à cruz e morreu sussurrando perdão sobre todos nós.

O Deus do cristão legalista, por outro lado, é com freqüência imprevisível, errático e capaz de toda espécie de preconceito. Quando vemos Deus dessa forma sentimo-nos compelidos a nos envolvermos em alguma espécie de mágica para aplacá-lo.

A adoração de domingo torna-se um seguro supersticioso contra os seus caprichos. Esse Deus espera que as pessoas sejam perfeitas e estejam em perpétuo controle de seus sentimentos e emoções. Quando gente esmagada por esse conceito de Deus acaba falhando — como inevitavelmente acontece — ela em geral espera punição. Ela por isso persevera em práticas religiosas ao mesmo tempo em que luta para manter uma imagem oca de um eu perfeito.

A luta em si é exaustiva. Os legalistas nunca são capazes de viver à altura das expectativas que projetam em Deus.

Acho, que é esse o nosso grande problema. Projetamos um Deus que se parece muito conosco e não percebemos que o fato de estarmos tão distante dessa capacidade de amar e de perdoar e ser justo e reto,é o motivo de termos sido agraciados com o filho, a saber Jesus o Cristo.

Paz irmãos!

Edson Moura

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“todo ponto de vista é à vista de
um ponto, nos sempre vemos de um
ponto, somente Deus tem todos os
pontos de vista e tem a vista de
todos os pontos.”
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