terça-feira, 25 de maio de 2010

As razões do coração



Os dias se passam e cada vez mais se concebe em minha mente a idéia de que seja inconcebível um Deus semelhante a nós como sendo uma entidade Pessoal ou um Ser com personalidade como nós a temos. Ira ou amor, misericórdia ou castigo, justiça e juízo me parecem cada vez mais pela minha intuição racional, predicados humanos aos quais os homens atribuíram à divindade em suas experiências místicas e indiretas com o Todo Poderoso.

Isso posto pelo fato de que a personalidade dos entes morais conscientes como nós a conhecemos é formada não somente pelas pulsões e tendências inatas tanto da raça característica do individuo como dos instintos de sua espécie animal, como também pelas influencias externas das experiências particulares e acasos existenciais aleatórios que motivam o individuo em sua formação e ação nesta vida. Coisas que não acometem o Espírito puro e inalterável do ser de Deus.

E particularmente, apesar de nem mesmo em pelo menos uma hora completa de toda a minha experiência nesta vida eu tenha emocional ou racionalmente duvidado de Sua existência, a cada dia toma forma em mim a concepção de que Ele seja um Deus sem forma concebível suspenso sobre o Vazio absoluto do tempo e do espaço. Como sendo um Ser impessoal semi-conciente que tudo cria, move e conduz como produção inconsciente de seu Ser e Energia.

Porem, no entanto “o coração tem razão que a Razão desconhece”, pois se com a mente eu sou um verdadeiro herege e apóstata, com concepções filosóficas Monista e Deísta que não acredita nem na personalidade de Deus e nem em castigos ou recompensas após a morte. Com o coração eu sou completamente apaixonado pelo Deus temperamental dos hebreus que não somente se arrepende de ter criado o homem, mas que também se arrepende de ter se arrependido de criar os homens.

Pois eu ainda choro ao ler as passagens dos Profetas que narram não só a ira deste Deus zeloso, mas principalmente a sua emocionante proposta de Misericórdia e Amor a um povo rebelde e obstinado de coração. Isto porque este Deus dos filósofos impassível que convence a minha razão jamais proporcionou para minha alma tanto gozo e singeleza de coração como o Deus passional e ciumento desenhado na saga apaixonante do velho testamento.

Portanto por mais que a minha mente alce vôos mais altos e eu tente me libertar de toda essa bagagem de tabus, superstições e mitos milenares, nas minhas veias correm o sangue de crente, e toda estrutura básica do meu ser foi constituída no fundamento do Monoteísmo judaico-cristão. Herança e legado estes na qual eu fui achado e encontrado existencialmente, e que eu não posso negar como minhas origens nesta vida, tendo sempre em mente que as cordas que tocam a musica do coração, não são as mesmas que movimentam os mecanismos da razão.

Gresder Sil

escrito em 03/04/10

22 comentários:

Anônimo disse...

Haha, Gresder, seu herege sentimental e piegas!!!

O Deus mais razoável que eu tenho "concebido" até o momento tem sido mesmo o jovem doutorando chamado God. Ele é um ser pessoal, um acadêmico, o que sugere que Ele é "Ele", mas que também existem outros "Eles" além - e até acima - "Dele".

Abraço.

Eduardo Medeiros disse...

Gresder, falando sério, muda essa droga de modelo de blog pois essa fonte está foda de ler. Só volto aqui quando você der um jeito de melhorar pelo menos essa fonte, pois eu já sou um jovem senhor de 45 anos cuja visão já anda meio cansada de tanto ler no monitor.

Oseias B. Ferreira disse...

Gresder,

Senti meu coração vibrar de emoção ao ler seu texto. Você é um dos escritores mais sinceros e honestos que já lí. Muito me identifiquei com isto: "nas minhas veias correm o sangue de crente, e toda estrutura básica do meu ser foi constituída no fundamento do Monoteísmo judaico-cristão. Herança e legado estes na qual eu fui achado e encontrado existencialmente, e que eu não posso negar como minhas origens nesta vida, tendo sempre em mente que as cordas que tocam a musica do coração, não são as mesmas que movimentam os mecanismos da razão".

Ivo Fernandes disse...

Mano, é interessante ler esse seu texto hoje, pois ontem enquanto caminhava na praia, conversando com o Eterno, prática desde a minha infância, confessei perante o Mar, que já não via ou pensava o Eterno como um pessoa situada entre a moral e a lei, como eu era, no entanto, meu coração cria na personalidade do Eterno, ou seja, Creio firmemente que o Eterno é pessoal, e por isso faz sentido minha oração e vida, mas não penso mais Nele como pessoa, o que o limitaria profundamente.

Marcio Alves disse...

GRESDER SIL

Agora entendo o seu comentário lá na minha postagem, que mesmo sem saber o que cada um iria colocar, de certa forma estávamos, como estamos, ligados em uma sintonia tanto pelo sentido da razão de sistematizar o que cremos pelo pensar, como também pelo antagonismo e da luta de nossa “alma” cristã que teima em ainda sobreviver através do intuir e sentir pelo pulsar da mentalidade do coração que está para além de qualquer filosofia racionalista.

Estou contigo nesta contradição sem explicação, que por um lado pensa o que crê e, por outro, crê no que sente!!!

Edu William disse...

RSRSRS... SEU APÓSTATA!!

VC É O TIPO DE HEREGE QUE O APOSTOLO PAULO NÃO GOSTARIA DE VER NEM PINTADO DE OURO!
BLASFEMASTE CONTRA O "ESPÍRITO"!



CREIO QUE A CHAVE:

DETERMINISMO PÉTREO - NATURALISMO INCONDICIONAL - "DARWINISMO SOCIAL" - INSATISFAÇÃO RELIGIOSA (COM TODOS MOTIVOS POSSÍVEIS) - AMORALISMO - PSICOLOGISMO (INSTINTIVO) ROMÂNTICO EXACERBADO - SCHOPENHAUER (O PESSIMISTA MAIS REALISTA DE TODOS) / NIETZSCHE (0 AMORAL MAIO, RSRSR) / DURKEIM / COMTE / ZOLA - GRAÇA INCONDICIONAL - UNIVERSALISMO - NEO FUNDAMENTAL LIBERALISMO SÃO A VERDADEIRA BASE DE SEUS ESCRITOS...



SEI LÁ POSSO ESTAR ERRADO, MAS QUE CHEGUEI PERTO, EU TENHO CERTEZA QUE SE ALGUM DESTES ALICERCES FOREM MUDADOS O RESTANTE TODO MUDA... RSRRS...


ABRAÇO

(NÃO PARE DE ESCREVER E LEVANTAR A POEIRA DO CONFORMISMO RACIONAL DA QUAL FOMOS PREDESTINADOS PELA RELIGIÃO/ CULTURA E SOCIEDADE HIPÓCRITAS)

Levi B. Santos disse...

"...como também pelas influencias externas das experiências particulares e acasos existenciais aleatórios que motivam o individuo em sua formação e ação nesta vida" (Gresder)

O problema é que na nossa evolução a-religiosa, de vez em quando temos recaídas divinas sobre a forma de uma "Nostalgia do Pai". O "Superego não se anula, no máximo, o que fazemos é abrandá-Lo.

A saudade do papai fundamentalista que está entranhada em nossos corações não nos larga, e nos faz recitar pérolas como essa, que escreveste:

"...tendo sempre em mente que as cordas que tocam a musica do coração, não são as mesmas que movimentam os mecanismos da razão."

P.S.: Interessante é que esse teu texto escrito concomitantemente com o de Marcio é exatamente o "contraponto" ao que ele discorreu lá na Confraria.

Eduardo Medeiros disse...

valeu por aumentar o tamanho da fonte. Este teu admirador agradece.

Vou ter que comentar alguns pontos do teu texto.

"...Ele seja um Deus sem forma concebível suspenso sobre o Vazio absoluto do tempo e do espaço. Como sendo um Ser impessoal semi-conciente que tudo cria, move e conduz como produção inconsciente de seu Ser e Energia."

Essa descrição de Deus peca, no meu entender, pelo "semi-consciente". Porque "semi"? Ele é de fato, a total consciência que cria o universo e que também cria a nossa própria consciência.

Não o vejo como "ser" no sentido filosófico que tem a palavra. Como sujeito pessoal. Mesmo porque dar a ele um "ser pessoal" é refletir nele o que nós somos. Não que isso seja ruim ou errado. Certas projeções são necessárias.

Mas eu diria que ele é a pura consciência primordial eterna. Sem moral, sem caráter. A consciência divina criou o universo, a consciência humana criou a sociedade e a moralidade e para dar autoridade à moral, puseram nela a chancela dos deuses.

Eduardo Medeiros disse...

" Com o coração eu sou completamente apaixonado pelo Deus temperamental dos hebreus que não somente se arrepende de ter criado o homem, mas que também se arrepende de ter se arrependido de criar os homens."

rssssssss eu também! isso prova como o apaixonado não consegue pensar racionalmente..haaa

Eduardo Medeiros disse...

" Isto porque este Deus dos filósofos impassível que convence a minha razão jamais proporcionou para minha alma tanto gozo e singeleza de coração como o Deus passional e ciumento desenhado na saga apaixonante do velho testamento."

O deus impassível é um chato que não vem caminhar conosco e nem vem habitar em nosso coração nos dando uma força de viver diferente daquele que só se orienta pela razão.

Eduardo Medeiros disse...

Quanto ao teu último parágrafo:

Eu tenho 45 anos e desde que me entendo por gente eu frequento a igreja. Mas do que você, eu fui forjado, construído, alimentado, pelo deus judaico-cristão. A teologia conservadora impregnou todos os meus poros espirituais durante décadas. Como se livrar de uma bagagem dessas?

Muitas vezes também me sinto com saudades da época em que eu era um "verdadeiro cristão", visto que hoje, todos nós, à vista dos "verdadeiros cristãos", somos "cristãos falsos".

Eu resolvi isso em minha cabeça continuando a ser membro efetivo de uma igreja mas já não tendo a teologia e doutrinas clássicas como verdade absoluta.

Hoje sei dos mitos, dos símbolos, das diferentes interpretações que os próprios autores bíblicos tiveram em relação a deus.

Mas não tiro o valor do fundamentalismo. Pelo menos daquele fundamentalismo não radical. Este é capaz de dar plenos significados a quem crê da mesma forma que o ateísmo dá significado a quem não crê...

Eduardo Medeiros disse...

O único problema que eu vejo no fundamentalismo é se ele não permitir que um crente possa não ser fundamentalista.

De tachar de herege quem não concordar com seus pressupostos. Aí, o fundamentalismo toma pra si a audácia de dizer-se único detentor da verdade ou único a interpretar corretamente a Bíblia.

Mas se o fundamentalismo se ater ao que o seu próprio nome sugere e ficar fiel aos fundamentos da sua fé, ele é relevante para quem o seguir do mesmo modo que será relevante para o seguidor de qualquer religião que lhe traga paz e lhe faça a cada dia uma pessoa melhor.

Ednelson Rodrigo Sales Coelho disse...

E tem como viver em paz desse jeito?.........

Esdras Gregório disse...

Isaias não sei se comentei seu texto, mas me lembro muito bem das criaturas auto-suficientes criadas pelo jovem Gud.

Neste caso o criador seria mesmo muito pessoal, e pessoal ao ponto de se alto descobrir como pessoa em determinado ponto de sua existência “ penso, logo sou Deus” rsrs

Daí o fato de poder existir outros Eles, é uma discussão sem fim, e por isso os escritores bíblicos já resolveram este problema com o “não há outros deuses alem de mim” não pelo fato de ser ou não ser verdade, mas simplesmente pela praticidade rsrsrs

Esdras Gregório disse...

Oseías não a como fugir de nossa historia, não a como fugir das nossas origens, não a como apagar todo o bem que a fé simples em Deus proporcionou para a nossa alma.

Assim como a despeito de nossos pais terem sidos bons ou maus para nos, mesmo assim permanecemos filhos deles para o resto da vida.

Não pedimos para nascer ou ser educados na igreja, mas o “destino” quis assim, agora como filhos emancipados, temos que entender e colaborar um pouco para quem sabe a fé fundamentalista seja um pouco mais pura, mais honesta, pela nossa critica.

Esdras Gregório disse...

Edurdo William tirando o amoralismo rsrs sua descrição esta perfeita.

Principalmente quando você coloca a GRAÇA INCONDICIONAL depois de DURKEIM / COMTE / ZOLA como se eles tivessem alguma correlação, o que de fato tem.

esses caras eliminam o pecado como fator de liberdade ( livre artbitrio) humana, "pregando" assim uma Graça sem condições de aceitação religiosa de qualquer espécie.

"DARWINISMO SOCIAL" adorei também

Esdras Gregório disse...

Ivo creio também que vê-lo como uma pessoa é limitá-lo profundamente.

Dar nome, caráter, vontade, memória, corpo imagem e cor para Deus é fazê-lo semelhante a nós.

Entretanto o coração pede referências, os ouvidos pede musica, os olhos pedem cores, e o abraço pede o calor de um corpo.

Assim como não creio racionalmente num Deus pessoa e nem em um Deus encarnado, eu creio na face deste Deus estampada na cara de Moises e nas palavras que emanavam do coração de Jesus, que assim como Moises encarou como sua missão dar uma imagem palpável para o inominável.

Esdras Gregório disse...

Marcio esta tua frase:

“que por um lado pensa o que crê e, por outro, crê no que sente!!!”

Me fez lembrar de algumas reflexões que eu fiz uma vez em cima do seu texto lá no teu blog que eram mais ou menos assim:

A fé sente sem saber e sabe sem sentir.

Ou seja; as vezes apenas sentimos com o coração sem saber com a mente e as vezes sabemos com a razão sem sentir com o coração.

Esdras Gregório disse...

Levi não sei porque mas eu li seu comentário com o sorriso na orelha.

Será por achar engraçado você conseguir explicar tudo de forma convincente com argumentos da psicanálise ou é porque é engraçado você nos dizer que marmanjos como nós, vaidosos de nossas supostas independência, no fundo no fundo queremos mesmo é o colo protetor de nosso Pai do céu.

De qualquer jeito foi mais uma vez um prazer imenso ler sua contribuição ainda mais chamar de perolas as minhas frases. Tu sabes como bajular um bobo como eu, me sinto tão gordo que eu acho que nem preciso ser famoso um dia para me sentir realizado rsrs.

Esdras Gregório disse...

Ednelson Rodrigo Sales Coelho disse...

“E tem como viver em paz desse jeito?........”

Ednelson sua frase foi pequena, mas muito significativa.

Vou deixar que o filósofo dinamarquês Kierkegaard te responda:

O homem é a síntese entre razão e paixão, alma e corpo, liberdade e necessidade, tempo e eternidade.

Esdras Gregório disse...

Eduardo dizer que Deus é a Consciência me cheira panteísmo que confunde causa e efeito, produto e conteúdo, matéria e essência.

Sei que não queres dizer isso, mas ainda não estamos acostumados com isso, realmente qualquer definição o limita, qualquer nomeação e demarcação apenas serve para a nossa mente racional que precisa saber o modo fixo e definido das coisas para poder se situar.

Os grandes do passado sentiram essa necessidade de sintetizar o divino, agora temos a nossa própria necessidade de dar um novo rosto e uma nova cor ao grande “eu sou”.

Eduardo Medeiros disse...

Pois é Gresder, eu estou fazendo o meu caminho. De tanto que estou lendo sobre física quântica, monismo idealista, materialismo, cabala, que estou praticamente convicto de que deus é a consciência que cria o universo.

Isso pode ter alguma relação com o panteísmo mas existem certas variáveis. No panteísmo, deus é a pedra, eu diria, que a pedra é uma manifestação da consciência universal. OU de deus, se preferir.

É um assunto muito interessante que pretendo abordar com mais profundidade nas próximas postagens sobre a cabala

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“todo ponto de vista é à vista de
um ponto, nos sempre vemos de um
ponto, somente Deus tem todos os
pontos de vista e tem a vista de
todos os pontos.”
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