sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A completa desmitologizaçao do cristianismo



O processo final e coerente de toda critica as denominações ortodoxas do cristianismo pelos teólogos do teísmo aberto e pelas correntes de renovação do evangelho, implicitamente universalista, é a completa secularização do cristianismo primitivo e não um retorno a ele ou sua melhor versão. Resultado inevitavelmente lógico que os adeptos desta teologia transitória vão sentir no seu “caminho” de fé.

Uma vez que se tira de Deus a soberania e dos dogmas a doutrina da condenação a um inferno literal, conseqüentemente tem que se tirar do cristianismo também a sua recompensa celestial e a personalidade racional e volitiva de Deus em um processo conexo de total desmitologizaçao das doutrinas fundamentais da fé. Preservando do cristianismo somente seu sentimento religioso e sua ética moral essencial.

O cristianismo a-religioso como vanguarda da teologia futura entende que tendo uma vez aberto um só ponto central e decisivo da fé fundamentalista, não mais se pode ficar no meio do “caminho” tentando salvar do cristianismo algumas crenças sobrenaturais saudáveis. Já que tal apego ao que sobrou da antiga fé, apenas atrasarão o método que libertara o cristianismo de todo os seus mitos originais.

Um cristianismo sem ou fora da Religião é nada mais nada menos do que um humanismo religioso. Cujas proposições e premissas partem da reflexão do significado dos símbolos religiosos e ensinamentos de Jesus o Cristo, a qual também é e se torna o principal “objeto” de estudo histórico critico e antropocêntrico por ser o homem de maior “poder sobrenatural” (influencia moral) do mundo e da historia.

Conseqüentemente o cristianismo secularizado por não mais conceber uma idéia de condenação e nem de planos divinos de salvação não mais enxerga Deus como um indivíduo de objetivos e temperamentos que tem propósitos eternamente estabelecidos. Mas mesmo assim não se torna necessariamente um cristianismo sem nem um deus. Pois reconhece a força da inspiração religiosa que vem da fonte geradora da vida a qual é um mistério divino Desconhecido e inconcebível a mente humana, e crido na subjetividade de cada um.

E mesmo que o processo de desmitologizaçao possa até usar a ironia e critica astuciosa como meio de derrubar todas as estruturas retrógadas da religião. Mesmo assim não é uma atitude debochada da religiosidade humana inerente em todos nós, já que entende que os mitos sagrados foram formados pelo povo e eternizados pelos escritores sacros baseando-se em fatos e homens reais poderosos e intuitivos que de tão excepcionais foram mitificados pelo tempo e pela letra escrita das escrituras.

E tendo também em mente a seriedade dos estudos e especulações históricas e teológicas, aqueles que se proporá a dizer em alto e bom som que céus e infernos, anjos e demônios, pecado original e salvação eterna não existem, tomam para si a responsabilidade de desenvolver teses e argumentações consistentes para tentar explicar e “provar” que o cristianismo foi criado e formado numa Era cuja visão cosmológica de mundo era mítica. E que, portanto inaceitável para o homem de mentalidade contemporânea cientifica, necessitando uma completa desmitologizaçao coerente para “salvar” sua essência puramente humana, rica e admirável.



Gresder Sil

Escrito em 03/11/10

21 comentários:

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Graça e paz!

Entendo que as ideias bíblicas de "céu" e "inferno", embora simbólicas, traduzem o estado final da alma do indivíduo. Creio que somos salvos pela graça e que nesta vida precisamos nos decidir por Cristo Jesus com arrependimento sincero de pecados, o que, consequentemente, induz à prática de boas obras.

O Evangelho de João nos trás a ideia de uma escatologia já realizada. Quem crê não é condenado, ao passo que quem não crê já está condenado. Ou seja, toda a humanidade pecadora foi condenada e já vive debaixo da ira divina. Porém, quando cremos, ressuscitamos com Cristo e a nossa morte física será apenas uma mera aparência. Algo comparável a um sono até que receberemos um novo corpo.

Nas minhas pregações, não faço do inferno uma ameaça para que alguém se converta a Cristo, pois falar de coisas escatológicas não muda ninguém. Apenas mete medo, conforme se lê nas suras do Alcorão. Prefiro com isto focar na vida no Reino de Deus que pode ser experimentada aqui neste mundo, mesmo em meio à aflição.

Esdras Gregório disse...

Rodrigo quase ninguém mais prega sobre o inferno e não pelo motivo que você disse, mas porque inconscientemente nós rejeitamos o inferno e no mais profundo do nosso ser não cremos nele.

Eu demorei em perceber que antes de assumir que eu não cria mais em inferno, há muito tempo inconscientemente eu não acreditava, e só não tinha tomado a consciência do que interiormente se passou por mim.

E o que comigo ocorreu ocorre com muitos, pois os grandes estudiosos de teologia e os pastores mais experientes não acreditam mais em inferno e por isso não prega sobre ele, mas acontece que existe um bloqueio psicológico que impede de eles tomarem a plena consciência de que não acreditam mais em condenação.

Oras não tendo mais inferno, não temos também um céu, e nem um deus que faz planos, logo nem personalidade e vontade individual de ira e misericórdia ele tem, e assim nada sobrenatural sobra da religião a não ser a sua mística e intuição poderosa que criou tudo isso. Não tem jeito Rodrigo, ou se é um fundamentalista ortodoxo ou um humanista religioso Deista dentro do cristianismo, o resto é teologia provisória. Acorda Amigo!

Selma Lobo disse...

Olá Gresder,
seu texto é intrigante, interessante este pensamento que vc traz, é verdade hj quase não se ouve falar do inferno. Parece que não cabe nas pregações conteporaneas. Será que é mesmo pq deixamos de acreditar nisso e como vc disse no comentário, "existe um bloqueio psicológico que impede de eles tomarem a plena consciência de que não acreditam mais em condenação", nunca tinha pensado assim... hj se prega tanto em felicidade neste mundo, "tomar" posse das bençãos e o inferno aonde fica nisto? rss.

Gostei muito dos textos, vou ficando aqui tbm.
bjks

Oseias B. Ferreira disse...

Gresder,

Não há mais cristianismo; as teologias arrefeceram; a discussão sobre "Deus" se tornou tão inútil e vazia que já perdeu até o significado. Deus foi embora. Desistiu dos humanos, foi tratar com estranhos habitantes de outras incontáveis galáxias. Deixou-nos desamparados. Até o diabo se desfez em nada e seu tridente enferrujou pelo desuso. O inferno então, nem se fala; virou um casebre velho, onde crianças brincam agora, sem medo algum.

Esdras Gregório disse...

Selma se alguém realmente crer no inferno, duvido que aceite, duvido que não ore a deus para abolir o inferno, eu mesmo de tanto pedir para Deus extinguir o inferno, ele não mais existe, eu lutei com Deus e ganhei, eu insiste e chorei e tive meu pedido respondido, isso eu fiz quase sozinho como poucos que se importam com a condenação, pois todos simplesmente fingem ignorar para não ficarem tristes, eu resolvi encarar e lutar para abolir, meu choro e minha angústia quase sozinha convenceram e comoveram o coração de Deus.

Esdras Gregório disse...

Oseías seu comentário esta parecido com um antigo texto meu; olhe que coincidência:

Fé além do “mito”

Céus e infernos já não existem mais, os demônios desistiram dos homens, foram superados pela perversidade da religiosidade humana, os anjos exaustos por esforços improdutivos se retiraram, e aquele que é o retrato pintado de toda pretensão dos homens, suicidou-se, pois era completamente ignorado por seus criadores.

Assim como um aposentado se retira da civilização para criar galinhas e pássaros em sítios no interior, Deus cansado de tamanha burrice de seus adoradores deu corda no sistema solar e saiu de fininho, foi tratar de dragões e dinossauros numa galáxia distante.

Os céus evaporaram, pois sendo fumaça e pensamento dos antigos infelizes nesta vida, não mais seduz os crentes incrédulos nesta terra (ninguém queria ir para lá mesmo). O inferno no seu ódio implacável, sem o combustível das almas que agora só são átomos invisíveis que se dissolvem na poeira estelar, consumiu se a si mesmo de tanta fome e tanta raiva.

Já as letras do grande Livro da humanidade, foram à maioria delas borradas pelos dedos das mãos sujas que ecarniçadamente procuravam textos e contextos para fundamentar suas doutrinas, as outra que sobraram acabaram sendo espalhadas ao vento, pelas baforadas de raiva daqueles que agarrados ao livro davam coices em quem queria investigá-lo.

De agora em diante ninguém mais será chamado de hipócrita, pois extintos os elementos que davam vida e mérito a religião, ninguém se interessara em fazer pose de santo. E nem mais se classificarão pessoas com o rotulo de liberal e libertino, visto que as proibições não produziram nada de bom ate agora, e tudo esta liberado mesmo, ninguém será mais julgado como transgressor.

Se alguém quiser ser justo atualmente, que seja pelo próprio valor da justiça, e se alguém desejar ser puro, já fique bem avisado que deve ser desinteressadamente, por que Deus não quer mais que os homens vejam a sua face. Se ao levar maldosamente a mão para tocar na vida de outro homem, alguém a sentir queimando, que não pense que é o fogo do inferno, mas sim o calor da alma do próximo, porque esta ainda existe. Fora isso, nada sobrou... só o homem e seu irmão.

Assim sendo nunca mais serão escravizadas as consciências das pessoas, pois sem os “mitos” que validam as regras da religião, tudo é neutro de agora em diante. Ninguém mais porá julgo sobre o outro, pois ficou bem claro que sendo todos simplesmente humanos, ninguém tem moral para tal serviço. Que cada um viva agora sua vida e conduta sem temer o espectro do além, que cada um siga seu próprio coração, sabendo que só existe ele aqui na terra e Deus lá bem distante, que por mais longe que esteja não deixa de dar com o canto dos olhos, uma espiadela cá embaixo.

Oseias B. Ferreira disse...

Ha ha ha ha ha

É mesmo mano véio!...

Abraço

Ricardo Rocha disse...

Pelo jeito o homem perdeu para si próprio. Antes de analisar criticamente sua própria existência afim de promover sua SUPERAÇÃO, hoje contenta-se com uma rala descrição da sua história, conformando-se com sua própria natureza, que sempre gerou opressão do homem pelo homem.

O novo cristianismo defendido aqui, longe de ser a solução para os problemas da humanidade, ou de apontar a sua solução, na verdade se conforma com a própria humanidade. Se o cristianismo ortodoxo dá ao homem compressão do paradoxo da sua existência afim de redimi-lo do lado negro do paradoxo, lado para qual é muito mais facil pender, o cristianismo a-religoso se conforma com ele, pois é muito mais fácil justificar nossa própria opressão e "objetivação" do homem pelo homem.

Seria comigo se não fosse trágico.

A paz para vc Gresder!

Esdras Gregório disse...

Ricardo eu me simpatiza por você, pois você é de carne e osso perto de mim, a distancia de um clic na internet, e por isso te faço uma recomendação um ano lendo textos liberais pela blogfera e e dialogando é o suficiente para você mudar muito de convicção, aconteceu comigo e com mais vários, pois somos homens gente de que vive e trabalha duramente escrevendo um para o outro e não teólogos ou pregadores protegidos em uma torre de marfim.

O cristianismo não tem nem uma solução para humanidade e para o homem, antes o dá por perdido e tenta salvar o máximo possível que não seria nem dez por cento dos homens, o deus dos cristãos vai fuder com tudo, vai acabar com nosso planeta, vai condenar o resto dos homens ao inferno eterno. o cristianismo não resolve nem um problema,antes cria, antes salva somente quem nele acredita, e deixa na perdição os outros milhares de gente como a gente simplesmente por que não aceita sua mensagem romântica de queda e redenção.

Escrevo isso com dor, mas o cristianismo só conforta os cristão, só para isso que ele serve, mais para nada, não resolve nada, não traz solução alguma, só cria teorias romantizadas do homem e historias épicas dos fieis e mais nada. Meu deus como é triste rejeitar a fé que foi do meu coração, mas é isso mesmo.

O homem é um animal egoísta, só isso, não existe queda não existe redenção, existe só domenstificaçao do animal homem pela religião ou filosofia.

Antes de assumir conscientemente eu já rejeitava o cristianismo exatamente por que ele não traria uma solução universal para os homens, por ser exclusivista como toda religião. A solução é liberdade de crença, a liberdade de expressão, o respeito à opinião e fé de toda pessoa. E promoção da religiosidade e filosofia individual que preenchem a vida humana, dando sentido diferente a vida de cada um, os direitos humanos universais tem muito mais valor do que todas as doutrinas e sentenças do cristianismo junto, pois possibilita que todos tenha sua fé e busque sua cura sem a tirania de uma verdade absoluta para se crer.

No mais isso já é assunto para tratar em um futuro post.

Ricardo Rocha disse...

Gresder, sou um cara que leio de tudo. Leio teólogos ortodoxos e liberais. Não tenho receio em ler nomes como Bultmann ou John Hick. Além desses teólogos também não tenho problema em ler filósofos ateus. Na faculdade tive aulas de filosofia e sociologia com professores ateus que não perdiam a oportunidade de criticar o cristianismo. Ler bons autores não é problema nenhum, seja ele cristão liberal, ortodoxo ou ateu, desde que se tome o cuidado que teve Paulo, de observar tudo e reter o que for bom. Conhecer sem medo e preconceito, preservando o direito de cada um falar aquilo que sente.

Mas é como eu falei, tudo que vejo na postura de um cristianismo a-religioso (no sentido de desprezo a tradição da igreja) é o conformismo da opressão do homem pelo homem. Quando vc diz que tudo que somos é um tipo de animal egoísta, vc sucumbe a uma forma de natureza humana inescapável, que cabe a nós conviver com ela. Estamos fadados a conviver com o nosso egoísmo, ganância e pressão. Ora, se o ser humano é assim por natureza e não há um Deus capaz de nos ajudarmos a superar essa natureza, tudo o que nos resta é manter o status quo pela eternidade, até que venhamos a nos destruir naquela famosa guerra de todos contra todos de que fala Hobbes.

O que vejo no cristianismo ortodoxo e não vejo na sua postura é o inconcormismo com a nossa natureza, com a injustiça, com a opressão e uma eterna luta pela liberdade. Conscientes do nosso paradoxo, que é a mancha numa imagem de Deus em nós, lutamos para superar a nossa própria humanidade e dificuldades. O Cristianismo nos dá esperança de redenção do mundo, da nossa própria opressão e de nos libertar de nós mesmos. É um cristianismo para todos pois na medida em que todos que confiarem no evangelho estão libertos e todos os que o rejeitares estão fadados a continuarem na escravidão que sempre foi o mundo. É literalmente uma boa nova da Graça de Deus, que fala de um Deus que se revela de graça para o homem e que ensina o homem a se relacionar consigo mesmo e com o próximo.

Além do mais, não vejo a sua visão especificadade nem profundidade. Se Jesus era humano como nós, então porque deve-se gostar tanto dele? Era a humanidade de Jesus que o tornava divino, mas não é essa humanidade que é a de um animal egoista que deve ser "domesticado" pela religião e filosofia? E que tipo de direito humano universal devemos ter? Ora, se é universal não deve ser opinivel erga omnes??? Acho que vc se perde um pouco nos conceitos ou não ve tanto as consequencias da sua forma de pensar.

Mas é como eu disse, respeito a sua visão e nunca o tratarei como um herege ou nada parecido, até porque não sou um exemplo de ortodoxia cristã. Mas tudo o que vejo nessa sua visão é uma visão morna, que não toma uma posição e, pior que isso, uma mera justificativa prévia para o status quo.

Mas de qualquer forma, espero estar enganado sobre isso.

Fica com Deus.

Esdras Gregório disse...

Eu também li com a mesma cabeça que você, nunca tive medo de ler nada, mas semente plantada, um dia ou outro lá na frente dará os seus frutos e a lei inexorável da colheita pedira seu tributo por horas e horas diante destes autores.

Mas mesmo assim não estamos perdidos pois esta visão des-romantizada da vida humana nós da mais responsabilidade, meu pai me perguntou se agora sem crer na eternidade na condenação, na queda e redenção isso não piora a situação, eu disse que pra mim não, pois agora sem proteção moral a minha responsabilidade aumenta, e mesmo que não seja possível ser puro e espiritual e totalmente possível a gente ser honesto, sincero e corajoso diante da maldade humana que nos cerca.

O cristianismo ortodoxo só tem consolo para os seus. E não tem nada a oferecer para o mundo, já que para ajudar o mundo, o mundo teria que se tornar cristão, o que seria horríveis e monstruosos.

Quanto ao interesse por Jesus é que a melhor coisa é que Jesus não era deus, mas era homem, ou seja, não estamos sozinhos no universo, pois Deus é um homem totalmente humano exatamente como eu e você. Com homens como Jesus os profetas os humanistas e filósofos no mundo, não há por que reclamar da completa inatividade sobrenatural de deus neste mundo sendo que os olhos, as mãos, e os pés de deus são os olhos as mãos e os pés destes homens.e sendo eles humanos, sem a magia e sem todo o invólucro mágico com que foram editados suas vidas, só nos resta agir como pessoas adultas que por não ter um deus ajudando, faz o papel que deus e os profetas fariam.

Ou seja um cristianismo a-religioso é um cristianismo adulto que mata nosso heróis para a gente fazer tudo o que deus deveria fazer, que Poe a ao chão toda nossa visão romântica de mal e bem para que a gente assuma a responsabilidade de lidar com nosso instintos animai egoísta, um cristianismo a-religioso é nada mais nada menos do que uma moral de responsabilidade que não filosofa sobre a origem do mal e nem prega sobre a redenção da natureza humana, mas nos tira todas as ideologias para que cada um seja o responsável absoluto por sua vida e atos.

Eduardo Medeiros disse...

Está excelente esse bate-papo por aqui. Gosto das falas do Ricardo pois vejo nelas os questionamentos que eu mesmo fazia antes de me desvencilhar por completo com a ortodoxia cristã. O mesmo deve ter acontecido com você, Gresder. Agente pensa: "Pô, mas se tirarmos toda a base metafísica do cristianismo o que sobra? vai sobrar cristianismo?" E aí o que me conforta é saber que Jesus não era e nunca foi cristão...

Desmitologizar o cristianismo é na verdade destruí-lo para deixar no seu lugar uma outra coisa diferente dele. Com isso estamos concordando que o cristianismo como filosofia religiosa capaz de humanizar o homem falhou e falhou feio. Pois não era exatamente isso que Jesus sempre pretendeu? Humanizar o homem e derrubar tudo que o impedisse de viver uma vida plena e abundante, até mesmo que para isso acontecesse ele ter que audaciosamente dizer: "ouvistes o que foi digo aos antigos...eu porém, vos digo..."

Nós, que partilhamos o "espírito do Nazareno" temos que hoje, nesses nossos tempos conturbados onde as ideologias morreram e os homens se perdem no oceano das relatividades ousadamente dizer: "cristãos, ouvistes o que foi dito pelos antigos...nós porém, dizemos..."

Não sei qual o futuro do cristianismo. Na verdade não há futuro algum para o cristianismo visto que o cristianismo morreu no exato momento em que Constantino decretou que a religião oficial do seu império teria que ser a cristã e todo quanto desobedecessem ou professassem as antigas religioes pagãs, deveriam ser punidos.

Ou talvez o cristianismo tenha morrido antes mesmo disso. Ou a mensagem humana de Jesus tenha se perdido na teologia complexa, paradoxa e impossível de Paulo ao desprezar o Jesus histórico para se apegar ao seu cristo pré-existente, assim também como a teologia do logos eterno de João.

Quanta diferença para o Jesus humano que ousou dizer: "porque me chamais bom? Só Deus é bom". Isso não é a frase de um ser onipotente pré-existente, é a fala de um profeta que sabia seu lugar no maquinário da história.

Marcio Alves disse...

Li a postagem e por cima alguns comentários, que, diga-se de passagem, muito bom mesmo.


Olha GRESDER, em minha opinião, o processo de desmitologização do cristianismo, desbocará inevitavelmente num ateísmo disfarçado de cristianismo liberal, pois não há mais dogmas, não mais crenças, não mais uma moral a seguir, e nem um deus a se cultuar e nem muito menos a se referenciar.


Portanto, tira-se o cristianismo com sua fé e seus dogmas, e logo, não há mais nada a se colocar no lugar como substituto, a não ser a própria vida com liberdade e com coragem de existir e se viver, e não um ilusório cristianismo a-religioso, pois anulada os mitos com suas crenças tidas como reais e toda sua pretensa áurea de espiritualidade, não sobra nada, exceto a naturalidade da vida, que para se viver, não precisa mais de nem um tipo de religião ou religiosidade.


Essa é a única diferença entre nós – Eu e o Edson – para você e o Eduardo....nós anulamos tudo, ficamos apenas com a vida – mesmo deus, que para mim, mantenho sua possibilidade de existência, é anulada no cotidiano da vida, pois se ele existe e fez todo universo, só existiu para o criar, e nada mais, não se tendo mais haver com nossa vida vivida pelo caminhar da existência, portanto, num certo sentido, deus não existe mesmo – enquanto vocês não, pois se “auto enganam”, tentando colocar alguma outra forma de cristianismo.


Ou porque no fundo se sentem culpados por desacreditarem em algo que vocês creram com toda “alma” durante muito tempo de suas vidas, ou porque não tem coragem de assumirem que não há mais religião ou religiosidade a se ter.

Esdras Gregório disse...

Primeiro Marcio que você e o Edson só negam só debocham e não demonstra nada,não fazem um processo, não levam a tarefa a serio, não levam quem lêem a um progresso palatino de entendimento e secularização, não decem plataforma por plataforma, antes tiram tudo de um vez sem nada para apoiar enquanto se caminha na desmitologizaçao total.

Isso pode ser útil só individualmente, mas para quem quer ser influente meu caro, sua voz soa como eco incoerente sem ordem e sem ritmo. Se eu nego a o inferno então eu tenho que demonstrar como o mito se formou, seu eu nego a divindade eu tenho que esmiuçar como Jesus se tornou um deus, assim ao poucos em dez anos uma geração inteira de leitores serão influenciados pela leitura de textos sistemáticos e ordenados.

Marcio a desmitologizaçao poderia até levar ao ateísmo, e daí, qual seria o problema, a teísmo não algo assim tão feio para se temer e nem algo assim tem avançado para se ostentar, é apenas mais uma crença humana como outras. Mas no momento eu me defino como um Deista/ Monista, como a maioria de todos os filósofos que li, principalmente Espinosa e Waldo Emerson da qual herdei o estilo de escrita com que hoje eu faço a maioria dos meus textos.

Mas o que eu creio é irrelevante para quem quer revolucionar, pois como ser humano ambíguo e paradoxal ora eu sou ateu ora eu acredito em Deus. E por isso preciso criar uma filosofia temporariamente fixa, sistemática e colossal abordando todos os aspectos da vida a partir da religiosidade inerente no homem. Não que isso seja pretençamete uma verdade, mas um guia e um mapa provisório para outros depois sob esta influencia construírem seus próprios modos de ver a vida.

Mas sabe o que é cômico, é vocês se julgarem corajosos, brincadeira né, pra quem enfrenta pessoalmente um sistema toda semana isso é ridículo!? enquanto vocês ficam medindo que tem mais força e coragem, eu estou criando minha religião, escrevendo minha bíblia, montando minha igreja e gravando meu nome na pedra Para de alguma forma continuar vivo depois de Morto.

Marcio acorda e passa de fase, cresse se não você fica pra traz. Pois “fidelidade” de crente ou coragem de “ateu” só faz de você um idiota diante dos “sacerdotes” da religião que você ataca. É preciso para derrubar uma “religião” e colocar outra no lugar “simular” e dizer: “ antes de Abrão eu sou” exatamente por que se sabe que Abrão não vai voltar para puxar o seu pé na cama enquanto você dorme.

Marcio Alves disse...

GRESDER


Cada um tem um jeito peculiar de escrever, mas pode ter certeza que só os argumentos racionais são mais do que suficiente para desconstruir qualquer crença, pois elas estão geralmente embasadas numa fé ingênua e principalmente, no desejo de se acreditar porque quer acreditar e não porque é lógico e racional acreditar.


Agora você esta mais do que equivocado quando diz que nós não tiramos plataforma por plataforma as crenças, muito pelo contrário!


Pode verificar em nosso blog dês dos textos mais antigos, onde você constatará que nós fizemos todo o caminho do processo de desconstrução das crenças cristãs.


Não há problema nenhum em ser ateu – o meu melhor amigo Edson é, e eu continue sendo amigo dele, porque não seria de você? Rsrsrsrsr – só que eu acho tão limitado e burro quanto o teista ou deísta são, pois ser ateu ou teista ou deísta é ter o seu pensamento fechando em uma caixa só, enquanto eu prefiro o caminhar de um andarilho em um deserto, sem lugar fixo para defender e assim se petrificar.


Quanto a fundar uma igreja ou religião, só se for uma religião sem religião, apenas com a naturalidade da vida sem uma pretensa e ilusória espiritualidade, mas ai meu amigo, não será propriamente uma religião que se fundará, mas uma espécie de naturalismo.

Esdras Gregório disse...

Poxa Edu o Marcio disse que você assim como eu, nos alto enganamos, e voce não diz nada?! dá um corretivo neste moleque que não respeita nós que somos mais velhos que ele.

Falando da frase que você citou "ouvistes o que foi digo aos antigos...eu porém, vos digo..." as pessoa pensam que para falar isso só tem que ser Deus mesmo, mas eu já acho que Ele falou simplesmente por que não concordava, e sua autoridade vinha da certeza de que novas reinterpretações eram necessária.

Marcio criar religião ou igreja não é nosso estilo, mas novas tendências de teologia pensamentos é possível.

Eduardo Medeiros disse...

Gresder, você quer frase mais paradoxal do que esta do Marcio:

"Essa é a única diferença entre nós – Eu e o Edson – para você e o Eduardo....nós anulamos tudo, ficamos apenas com a vida – mesmo deus, que para mim, mantenho sua possibilidade de existência, é anulada no cotidiano da vida, pois se ele existe e fez todo universo, só existiu para o criar, e nada mais, não se tendo mais haver com nossa vida vivida .." ???????

Ele diz que "anulou Deus" mas ao mesmo tempo mantém a "possibilidade" da sua existência. E ainda tem a ilusão de que pode viver sem ser afetado por Deus...

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

"Oras não tendo mais inferno, não temos também um céu, e nem um deus que faz planos, logo nem personalidade e vontade individual de ira e misericórdia ele tem, e assim nada sobrenatural sobra da religião a não ser a sua mística e intuição poderosa que criou tudo isso."


Amado irmão GRESDER,

Não creio que seja assim, exceto se a fé da epssoa está baseada em mitos.

Quando eu tinha meus seis anos de idade, mamãe contou que o coelhinho da páscoa não existia. Então, concluí que nem o papai noel. Ela confirmou. E daí eu repliquei supondo a inexistência do Papai do Céu, mas ela negou.

Mas quando falamos sobre o inferno, posso lhe dizer que nem sempre ele fez parte da teologia judaica que precedeu ao cristianismo. Não só o inferno como a figura do próprio diabo, o qual passa a ser identificado a partir do exílio babilônico. Sendo assim, compartilho algo que já tinha escrito meses atrás em outro sítio da internet:

O exílio babilônico mudou muita coisa na religião dos israelitas. Aliás, pode-se até dizer que o judaísmo foi amadurecido no exílio embora a Torá fosse anterior. E a maneira de se compreender o mal também sofreu fortes modificações, conforme se pode observar na comparação entre o verso 1º do capítulo 24 de 2 Samuel com o versículo 1º do capítulo 21 de 1 Crônicas, escrito um século mais tarde depois do exílio. Leia:

"Tornou a ira do SENHOR a acender-se contra os israelitas, e ele incitou Davi contra eles, dizendo: Vai, levanta o censo de Israel e de Judá"

"Então, Satanás se levantou contra Israel e incitou a Davi a levantar o censo de Israel".

Observe que a concepção de quem trás o mal muda significativamente de uma passagem para outra que narram um mesmo episódio, mas foram escritas em épocas diferentes num espaço de um século ou mais, de modo que alguns chegam a defender a ideia de que o diabo talvez tenha sido "inventado" na época do cativeiro babilônico.

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Continuando...

Mas se a figura de Satanás ainda era desconhecida para os judeus antes do exílio, talvez a concepção da época fosse que Deus instigasse o mal. E, após o exílio, passa a ser identificado um adversário com personalidade e nome próprio como o autor do mal - Satan.

Observe que, mesmo na Torá, a identidade da serpente não é relacionada ao diabo. Só no Apocalipse é que ocorre tal relavação:

"Então, vi descer do céu um anjo; tinha na mão a chave do abismo e uma grande corrente. Ele segurou o dragão, a antiga serpente, que é o diabo, Satanás, e o prendeu por mil anos; lançou-o no abismo, fechou-o e pôs selo sobre ele, para que não mais enganasse as nações até se completarem os mil anos." (Ap. 20:1-3)

Na Bíblia da Mulher que dei de presente para a minha esposa, encontro a seguinte explicação:

"Por motivos que não são apresentados, Deus irou-se contra o povo de Israel. O cronista escreveu que Satanás incitou Davi a contar o povo (1Cr 21.1). Aqui se diz que Deus foi o instigador. Não há contradição. Como em todas as situações, Deus está no controle, e há uma diferença entr eo que Deus causa e o que ele permite. Ele não impediu Davi de levar a cabo o ato mal que Satanás havia sugerido."

Na Bíblia de Genebra, a nota do rodapé diz que:

"A questão aqui enfocada é o mistério da presença e da prática do mal. As Escrituras dizem que Deus não é o autor do mal (Tg 1.13-15), mas também nos ensina que os atos ímpios dos homens e de Satanás não ficam de fora da soberana determinação de Deus. Satanás é uma criatura e, poranto, absolutamente subordinada à soberania de Deus. As atividades e os desejos de Satanás não podem criar um espaço isento do controle de Deus e que fuja aos propósitos divinos."

Seja como for, não se pode desconsiderar que houve uma forte mudança na concepção teológica do judaísmo durante o exílio.

Então, GRESDER, o que podemos concluir a luz disto tudo?

A meu ver, novas luzes acerca da ideia sobre o inferno ameaçam mais as concepções doutrinárias e teológicas do que uma fé verdadeira. Talvez ameace uma fé baseada em mitos que já não fazem mais sentido para os tempos de hoje, mas que, na época bíblica, escribas e apóstolos os utilizaram para transmitir verdades espirituais.

A dura realidade é que o inferno real excede o Sheol, o Hades ou a Geena. E muitos o experimentam aqui mesmo.

Esdras Gregório disse...

Ou seja: o diabo é o capataz de Deus para fazer todo serviço sujo rsrs

Nossa só agora eu vi que você tinha comentado aqui também, poucas pessoas contribuíram tanto em tão pouco tempo no meu blog.

Mas eu não acredito no inferno, portanto não creio no céu também, e por não crer que o mal seja um ser como o diabo eu não creio que Deus também tenha personalidade igual a nossa.

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Bem, GRESDER,

Acho complicado tentarmos sistematizar biblicamente o diabo e o inferno. Mais uma vez acho importante aprendermos a conviver com as ambiguidades da Bíblia tal como mencionei nos comentários do seu mais recente artigo (o de sábado - 20/11).

De qualquer maneira, vamos ao que a Palavra diz. Pelo que observo, o diabo ao mesmo tempo se opõe a Deus (daí o seu significado de adversário) e recebe permissão divina para agir (a história de Jó é o maior exemplo). E ele é também o acusador dos homens. Também é o enganador, o "pai da mentira"...

Fui simplista na análise acima, mas também não vejo razões para um estudo mais detalhado sobre a pessoa do diabo. Porém, dizer que este anjo mal é o capataz de Deus vai depender do ponto de vista e aí nos deparamos com um texto da epístola de Tiago que coloca em conflito tal visão teológico quando o autor diz que não somos tentados por Deus, mas sim pela nossa própria concupiscência que nos arrasta e seduz (Tg 1.13-14).

Acredito, meu mano, que a teologia de Tiago aproxima-se mais da nossa concepção do que as teologias dos livros de Reis e de Crônicas. Isto porque, se interpretarmos o episódio da vida de Davi ao qual os dois textos se referem, o monarca não fica isento de sua responsabilidade e foi tentado e fazer o censo provavelmente pela sua falta de confiança em Deus porque pretendia contar a população de seu povo para saber quantos homens teria para futuras batalhas e outras atividades do reino. Não que o censo fosse pecado proque em outra ocasião Moisés também o fez segundo a direção de Deus, mas sim porque as motivações de Davi não eram boas.

Ainda dentro da história sobre Davi, é importante compreendermos que seu pecado de contar o povo cumpriu propósitos divinos. Seja para castigar o povo ou seja para se definir o local do futuro templo salomônico (o campo que Davi comprou por preço). Ou ainda, para o próprio aperfeiçoamento de Davi.

Cada vez mais considero de pouca utilidade os teólogos tentarem construir um conhecimento sistematizado acerca de Deus e das coisas espirituais. E, ao invés de pensarmos numa objetividade, acho mais proveitoso o conhecimento subjetivo e experimental que vamos formando pelo nosso relacionamento íntimo com o Eterno.

Cada vez mais, tenho me admirado sobre como Deus está livre da moral. Aliás, moral é algo que nós homens criamos. É algo que várias vezes se opõe a um relacionamento autêntico com o Eterno visto que o homem só será justificado por fé. Assim, a ética de Deus muitas das vezes irá nos chocar tal como ocorreu nas inúmeras passagens bíblicas das quais posso exemplificar com o sacrifício de Isaque (algo manifestamente imoral mesmo nos dias de Abraão). Contudo, o temor de IHWH é o princípio do saber. Primeiro obedecemos Deus e mais na frente entenderemos o porquê. E isto, amigo, é fé.

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“todo ponto de vista é à vista de
um ponto, nos sempre vemos de um
ponto, somente Deus tem todos os
pontos de vista e tem a vista de
todos os pontos.”
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