domingo, 9 de janeiro de 2011

A alma piedosa


O santo não é um homem feliz, mas mesmo assim a sua vida é carregada de sentido e significado como nem uma outra em todo o mundo. A alma piedosa é uma singularidade paradoxal da existência, aonde gozo indizível e angustias intensas dilaceram o mesmo corpo e o mesmo ser.

Por uma lei inexorável de causa e efeito da natureza é impossível que o seja feliz. O homem verdadeiramente piedoso é um ser podado, e limitado em sua potencialidade de vida. É um homem cujas vontades geradoras de satisfação e bem estar estão sobre o domínio de outro ser que não é ele, que o restringe, e que o priva de ser quem ele desejaria ser.

A felicidade esta física e psicologicamente ligada às desenvolturas de possibilidades das nossas potencialidades naturais. Felicidade é poder, é a fruição sem nem um bloqueio de todos os impulsos de vida. Feliz é aquele que é o que pode ser; aquele que vive as suas possibilidades, que desenvolve a sua naturalidade consciente de sua potencialidade.

O santo não somente nega os seus sentidos e impulsos naturais como também não desenvolve suas faculdades de vontade e razão. Ele não faz, não age como quer, mas espera, vive da esperança, sua vontade é podada. E ele nega os questionemos da racionalização. Ele não vê a razão como verdade, mas como tentação contra sua crença, a alma piedosa é fiel a fé, mas não é honesta com a razão e realidade.

O homem piedoso é infeliz em sua vida diária simplesmente por uma lei natural aonde o corpo e razão e todas as suas potencialidades mandam um recado para o celebro de insatisfação. Mas por outra lei estrema de sobrevivência a alma piedosa acaba encontrado em sua abstinência um sentido tão grande, e um gozo tão intenso em seu momento de repouso. E o piedoso não faz nada de graça, ele é legalista, espera a recompensa.

A intensidade de suas dores, de suas privações, eleva a percepção de prazer quando a sua tentação passa, quando a sua alma desanuviada vislumbra o valor de suas recusas, quando o seu coração cansado descansa satisfeito de sua luta significativa. O santo é um antinatural no mondo, um infeliz, mas ainda alguém cheio de sentido de vida, paradoxalmente e, exatamente por negar as potencialidades de vida.


Esdras Gregório (Gresder Sil)

Escrito em oito de janeiro de dois mil e onze.

17 comentários:

Levi B. Santos disse...

GRESDER

Você não acha que o piedoso é parecido com o legalista? O Ar de superioridade espiritual não é atributo dos dois grupos?

O piedoso que procura reformar o mundo, não está, inconscientemente, projetando os seus anseios de “limpeza espiritual” nos outros?

Não consigo compreender o piedoso sem a tal da repressão dos desejos não satisfeitos ou realizados. Freud, dizia que o santo era como um desviado do caminho tradicional.
É que ele de tanto reprimir os afetos considerados “imundos”, terminava por desviar a energia da libido para outra esfera, ou seja, as pulsões carnais eram dirigidas para um objetivo mais sublime (piedade), portanto, distante da satisfação sexual. E deram a esse processo o nome: “Sublimação” — o mesmo que sublimação dos instintos.

Doutrina Cristã disse...

Eu arrisco dizer que: o homem feliz é um cristão nominal; enquanto que, o homem santo, um cristão espiritual. Nisto porem ambos são carentes, pois como humanos conseguem ser absolutamente repreensíveis.

Eduardo Medeiros disse...

gresder, o primeiro parágrafo é para ser contraditório mesmo?

"O santo não é um homem feliz, mas mesmo assim a sua vida é carregada de sentido e significado como nem uma outra em todo o mundo." uma vida cheia de significados e infeliz??

" O homem verdadeiramente piedoso é um ser podado, e limitado em sua potencialidade de vida." você entrevistou quantos homens verdadeiramente piedosos para decretar isso?

Esdras Gregório disse...

É sim Levi, a própria força da piedade é uma energia roubada da libido, Gandhi já dizia que um homem piedoso tinha que deixar sua vida sexual para não desperdiçar suas energias em busca de satisfação sexual.

O maios problema do piedoso é o sexo, e sexo é um dos impulsos mais poderosos da natureza humana, não se trata de prazer, mas de bem estar humano, por isso o piedoso sofre, pois ele não nega um simples prazer, mas uma satisfação de promoção de todo o seu bem estar físico, psicológico e emocional. Mas isto é outro assunto e a tese chefe para um outro livro.

Esdras Gregório disse...

Luiz eu também acho, o cristão nominal recebe todo o benéfico da crença e de uma vida secular normal, ele não um piedoso intenso, não sofre as dores de um homem voltado para as coisas da religião, ele desfruta o melhor de dois mundos.

Esdras Gregório disse...

Eduardo esta pergunta é desnecessária, pois no próprio primeiro parágrafo já se fala do paradoxo singular da vida do religioso.

E é perfeitamente possível uma pessoa ter uma vida cheia de sentido e ser infeliz, qualquer religioso ou defensor convicto de uma causa não será feliz estando preso, estando incapacitado em agir para o bem de sua crença. Não confunda as coisas, sentido de vida é uma coisa intelectual, vem da nossa razão, mas felicidade é liberdade em agir, e a fruição livre de nossos impulsos de vida.

Minha vida é cheia de sentido hoje, mas se eu estiver morrendo eu não vou me sentir feliz, mesmo morrendo com orgulho e consciente de que fiz minha parte e dei minha contribuição como pensador.

Eu já fui intensamente pietista, já fui fervoroso defensor da doutrina da perfeição cristã de Wesley. Eu sei o que é ter uma vida cheia de sentido e ter muita infidelidade diária, eu sei o que sentir intensos momentos de desesperos e profundos intensos de gozo de alma. Se o piedoso fosse feliz não desejaria a morte como muitos desejaram.

Eu conheço gente assim eu sou um observador, eu e percebi que as definições parecidas de Spinoza e Nietzsche ( exploradas no meu post) são as melhores sobre felicidade e o porquê os cristãos verdadeiros são sofridos e desejosos da vinda de Jesus.

Eu já fui um piedoso e hoje sou um naturalista, por isso posso dizer, eu sei a diferença entre ser feliz na vida diária, e ser infeliz mesmo tendo poderosos sentidos de vida. Não tenho mais os gozos cristãos, mas também não tenho mais as angústias, tristezas e desesperos de crente, hoje ajuntei a minha vida sentido e propósito de existência como antes com um bem estar diário continuo e satisfatório.

Levi B. Santos disse...

GRESDER


O que você me diz do “piedoso” Paulo, que quando viu aproximar a hora de sua morte disse:

“Combati o bom combate, acabei a carreira e guardei a fé. [...] O que me resta é a coroa da justiça que o reto Juiz me dará naquele dia”.

Qual a diferença entre um piedoso e um mercenário que “ama e serve” a Deus para ser futuramente recompensado por Ele?

Não creio que esse “tal amor” seja desinteressado, mas interesseiro e servil, pois que espera um prêmio em troca de seu serviço.

Anônimo disse...

GRESDER,

Você cita que o "santo" não é feliz..mas sua vida possui sentido..

Qual sentido teria a vida de um ser, cuja felicidade é extinta?!

Em meu texto novo lá na CPFG, mostro através dos pensamentos de Epicuro e Aristóteles, que um dos sentidos destacáveis para a vida, é a VERDADEIRA FELCIDADE... Livre de apegos, sensações...

Teria sentido uma vida sem felicidade?!

Logo mais você destaca:

"Felicidade é poder, é a fruição sem nem um bloqueio de todos os impulsos de vida".

Até concordo, mas creio que a felicidade é gerada pelo versus AÇÃO e REAÇÃO.

A felicidade precisa ser estimulada! Uma ação que você desencadeia (interior), gera reação (exterior)..e esta reação, vai estimular em você a felicidade ou a tristeza...o desgosto ou o prazer...e assim por diante.

A felicidade dá sentido no ser. Mesmo que o mesmo não saiba dar sentido. Ela está ali.

O máximo que pode-se dizer do homem 'santo', não é que ele não seja feliz, mas é que ele limita tanto a sua liberdade, que até a emoção para si fica limitada.

Beijos.

Anônimo disse...

E vê se para de ser ranzinzo, e vai lá ler o meu texto na CPFG.

Ficar ilhado é só para os santos...kkkkk

Wagner disse...

"Eu sei o que é ter uma vida cheia de sentido e ter muita infidelidade diária, eu sei o que sentir intensos momentos de desesperos e profundos intensos de gozo de alma. Se o piedoso fosse feliz não desejaria a morte como muitos desejaram".

Não desejaria a morte como muitos, mais não todos. A tua experiência não é a de todos e graças a Deus por isso. O teu histórico religioso é dentro da Assembléia de Deus, só podia dar nisso.

O maior problema do piedoso é o sexo. Quem disse?
O homem piedoso necessariamente não tem que ter problemas com o sexo.

Poderia mostrar alguns exemplos, mas deixo para depois.

Quem lê "Paulo" sabe que a relação dele com a religião não era de troca.

Levi B. Santos disse...

Será que essa, é que deveria ser a oração do “piedoso”?:

"Se eu te adorar por medo do inferno, queima-me no inferno. Se eu te adorar pelo paraíso, exclua-me do paraíso. Mas se eu te adorar pelo que Tu és, não escondas de mim a Tua face”. (Rabia 800 D.C.)

Esdras Gregório disse...

Levi o piedoso não nega a si mesmo, antes é um covarde que se apega ferozmente a continuidade de seus sentidos e de sua existência. Ele não aceita o fim da vida, ates quer viver para sempre, tudo o que ele nega na terra quer ser recompensado em uma vida futura. Pois quer aproveitar lá o que ele não aproveitou aqui. Ele teme a não existência exatamente por que na sua vivência aqui, foi privado da vida. Em fim, é barganhador que não evita o mal, pelo valor do bem, mas pelo medo do sofrimento e pela recompensa dos bons.

Esdras Gregório disse...

Xiii Paulinha agora você me confundiu com esta história de ação Vs reação.

E ainda para bagunçar mais minha cabecinha você diz que estimular uma ação desencadeia interiormente e gera reação no exterior esta reação, que estimulada em uma ação desencadeia no interior a geração de uma reação externa que reage ao estimular uma ação desencadeada no interior que gera a reação exterior da felicidade do sujeito.

E não me convide para participar daquele chiqueiro, depois eu leio lá e faço um modesto comentário se eu conseguir captar a tua profundidade rsrs

Esdras Gregório disse...

A tua opinião não me interessa Wagner rsrs, pois o teu histórico religioso é de dentro dos xiitas, só podia dar nisso mesmo uahsuahsuahsuahsu.

Tu só vem aqui para contrariar?! Elogia logo e fala que de um ponto de vista geral o post ficou completo e muito bom, como você costuma dizer.

Anônimo disse...

GRESDER seu doidooooooooooo!!

Que isso?

"E ainda para bagunçar mais minha cabecinha você diz que estimular uma ação desencadeia interiormente e gera reação no exterior esta reação, que estimulada em uma ação desencadeia no interior a geração de uma reação externa que reage ao estimular uma ação desencadeada no interior que gera a reação exterior da felicidade do sujeito". (GRESDER)

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk...

saushasauhuqhw273623728738654$$#$$#$%¨&¨&¨*&*&((*())))%$#@@!

Pronto já ri e já te xinguei mais um pouco.

Mas você não xingue aquela gaiola de chiqueiro porque lá só tem os melhores pensadores da geração moderna!

CARLOS SEINO disse...

O artigo é muito bom, pois nos chama a atenção para as potencialidades da vida que, em si, são necessárias e recomendadas para a felicidade humana. Entretanto, o conceito de "santo" aí parece restringir-se a uma paródia do que seria o próprio monge, e não santo em sentido amplo e bíblico, de alguém "separado" para determinado fim. A cisão corpo e alma não é hebraica, muito menos neo-testamentária, mas grega e gnóstica, e acabou influenciando o cristianismo posterior. E as próprias potencialidades descontroladas podem se tornar causa de infelicidade. Em relação à recompensa desejada pelo santo, C.S.Lewis, em "Cristainismo Puro e Simples" diz que não há nada de anti-natural, nem anti-cristão desejá-la; não desejá-la é que seria antinatural e irracional. Penso que vale a pena conferir. Ainda mais se levarmos em conta que, no cristianismo, a recompensa maior está no usufruir de um relacionamento, no que em alguma aquisição material, como atestam os textos neotestamentários e os místicos cristãos.

Esdras Gregório disse...

Bingou!! Carlos você acertou em cheio em falar que o texto é uma parodia de um santo de mosteiro medieval. Isso sim, isso se trata de forma literária de escrever, eu poderia escrever de forma alegórica, ou poética até objetiva, mas escrevi uma parodia, uma caricatura.

E como toda forma de escrita visa tratar de um assunto ou fazer uma critica indireta, eu queria falar no texto dos crentes fundamentalistas atuais, que leu, interiormente entendeu o recado.

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