A desmitologização e secularização das linguagens e estruturas religiosas da fé
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Cristianismo adulto
Chega! Já passou da hora de muitos cristãos deixarem sua fase infantil da fé, para dar um passo altamente arriscado no inóspito mundo adulto do cristianismo. Já é oportunidade de muitos, maduros de mais para ficarem mamando a seiva que lhe vem na boca pelos galhos da arvore mãe, de se emancipar, como filhos crescidinhos que se sentem envergonhados de estar ainda sob á custodia de seus genitores.
Chega! O tempo do conforto dos dogmas irretocáveis e absolutos, dos pastores rijos e seus conselhos austeros e acertados, e das promessas motivacionais e infalíveis acabou. Hoje em dia os tempos são outros, o mundo não mudou, fomos nos que nos tornamos adultos. Não somos mais ingênuos ao ponto de acreditar que Ele vai mudar o jeito das coisas só para satisfazer nossa manha é provar nossas crenças.
Agora já era! Descobrimos que muito dos contos e ditames infantis que nos ensinaram na igreja, nãos se aplicam ao cotidiano. São ensinos do senso comum religioso, e não da verdade individual e inevitável de cada um. O que foi útil ate então, não será desprezado, mas é necessário deixar os primeiros rudimentos, é mister para alguns, sair da casa paterna. Não há com que se preocupar quanto a nossa fé, estamos marcados pelo resto da vida.
A fase que se passou sob a tutela da igreja foi essencial para nosso crescimento, mas não somos mais crianças, não acreditamos mais em papas e papais Noeis. Foi se há muito, o tempo em que era só chorar e clamar que Deus de pronto nos socorria. Hoje meu caro, pode berrar, Ele não te trata mais como menino. Não adianta fazer birra, um dia todo mundo tem que deixar esse lugar seguro, e esse cuidado especial de pai. Tudo que era elementar para o aprendizado nos primeiros passos da vida já te foi dito, agora, beija teu Pai e tua mãe e rua...
Gresder Sil
Postado por
Esdras Gregório
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11 comentários:
Caro Dresder Sil
Você falou com certa propriedade, que essa religião que se vê por aí é infantilizadora.
Para corroborar com o que você disse no seu texto, quero citar um trecho do Psicanalista Winnicott que se dedicou por décadas, a uma intensiva observação do mundo da criança, e achou o mundo infantil dela, muito parecido com o universo dos religiosos do seu tempo. Vejamos o que Winnicot constatou em suas prolongadas observações de cunho científico, quando assim escreveu:
“Inicialmente temos a área de ilusão, primeira mamada teórica: a mãe, em estado de preocupação materna primária, oferece o seio ao bebê de tal maneira que dá a ele a experiência onipotente de que foi ele quem criou o seio! Aí encontramos a raiz da espontaneidade e da criatividade. O bebê, nesse momento, é Deus: ele criou o mundo-seio. Sua mãe, como objeto externo, ainda não existe: é apenas a mãe ambiente, em estado de identificação primária com o bebê, é um objeto subjetivamente concebido. Felizmente, a mãe é apenas suficientemente boa e, portanto, falha, e é nessa falha que o princípio de realidade vai sendo, progressivamente, apresentando ao bebê, sem intrusões demasiadas, na medida certa de sua capacidade. A área é na verdade de ilusão (vem de ludere, do latim, lúdico) e desilusão”.
O que depreendi dos estudos de Winnicott a respeito do bebê:
Compreendi que se a criança não ultrapassar essa fase ilusória de que o seio materno é um prolongamento dela, ficará para sempre marcado pela infantilização possessiva. Assim se comporta o cristão quando pensa que a mãe “religião em que tem o seu bojo um suposto Deus” é um apêndice do seu ser. O cristão só se tornará adulto quando cortar o cordão dessa simbiose infatilizadora. O cristão adulto experimentará a transcendência (eu não chamaria isso de religião), quando ele se sentir responsável pelo seu estado, e agora, sem o aconchego do colo materno (vício religioso) dirigirá através do seu espírito, gemidos inexprimíveis de desamparo e de solidão a um Deus não dependente dele. Nessas condições de “ser” transgressor e arrependido porque não conseguiu encontrar lá fora o seu “éden perdido”, ele será alcançado pela graça Divina, que virá a ele gratuitamente (como aconteceu com o filho pródigo) pelo fato de que para ele, é impossível voltar ao estado anterior de ser dono de sua antes fonte de prazer (seio materno). O cristão adulto, de agora em diante, jamais irá pensar que religião (seio materno) e Deus (o outrora bebê todo onipotente de Winnicott) são um só corpo, ou uma mesma coisa.
Peço-lhe desculpas pela minha prolixidade.
Abçs,
Levi B. Santos
Como eu ri disso: “que dá a ele a experiência onipotente de que foi ele quem criou o seio” se você citar uma frase dessas: “Sua mãe, como objeto externo, ainda não existe: é apenas a mãe ambiente” para uma mãe de primeira viagem, você apanha rsrsrs
Você em Levi! Sempre com a carta na manga. É exatamente isso mesmo. A igreja é essencial para nossa fé, assim como a escola nos foi indispensável, mas agora...
Belo texto do Gresder e comentário idem do Levi. "quando eu era menino, me comportava como menino..." até Paulo entendeu isso! Creio que a religião é necessária. O problema é que a religião hoje, principalmente o cristianismo, virou um produto, e ainda por cima, a linguagem religiosa ficou caduca.
Mas realmente a fase "infância" da religião tem que ser ultrapassada. Os símbolos e os mitos antigos não fazem mais sentido. O conceito de Deus da teologia cristã já era. Pelo menos para mim não serve mais.(mesmo assim continuo lendo, escrevendo e discutindo teologia pelo prazer de tentar perscrustar o Inominável - coisa da nossa herança grega - mas sem nenhuma pretensão de conceituá-lo como outrora fizeram os teólogos).
Mas como já escrevi alhures(alhures é podre, eu sei rsss), uma vez perdido o olhar infantil sobre os símbolos e os mitos que expressaram Deus, devemos a eles voltar com outro olhar, como que de adultos que não pensam mais como crianças e nos render ao fato que de Deus só podemos falar simbolicamente, pois o nosso pensamento concreto e "científico" não conseque fazer nem cosquinhas no que Deus É. (leiam "Expeimentar Deus" de Leonardo Boff, ed Verus)
Velhos símbolos foram importantes em velhas épocas. Novos símbolos são necessários para novas épocas.
Mas sempre símbolo. Dele, que É, só se pode dizer assim, pois não sendo, como diremos o que É?
abraços a todos que já não são mais infantis na fé.
Eduardo, obrigado pelo comentário no: A releitura do Novo Testamento, assim como neste aqui. Fico muito feliz e ter pessoas como você e o Levi que alem de entender o pensamento do texto, o completam e o desdobram com o seu ponto de vista.
Não perca a sua escrita, tire a particularidade do contexto do comentário e faça um poste dele.
Meu caro Esdras Gregório (ou Gresder Sil)
Antes de tudo quero agradecer o livro instingante, e provocador que recebi ôntem (A arte dos Sofistas na Pregação Pentecostal). Já tive passando os olhos por ele e constatei a dura, real e irretocável verdade muito bem dissecada por você, sobre o sofisma no meio pentecostal. Como gostaria de ter escrito um livro solto das amarras do medo, como esse seu. Fique certo que o lerei com os olhos do coração, degustando demoradamente palavra por palavra, como quem está diante de um raríssimo manjar.
Admiro a sua coragem de como assembleiano (como eu), cortar na própira carne, ao falar verdades de cunho científico, religioso, social e psicanalítico por excelência, numa linguagem simples e cortante, tal qual uma espada de dois gumes (aquela de Paulo, rsrsrs).
Quanto as suas reflexões em forma de perguntas do seu último e-mail, quero lhe dizer que somos, na verdade, vozes que clamam no deserto cibernético, tentando, talvez, nos reformar, pregando a reforma das instituições.
Ora a gaiola da Instituição religosa não vive sem aprisonar Cristo. Naquela época deu no que deu... Depois O nomearam de traidor do Judaísmo e herói de um simulacro chamado cristianismo.
Essa religião que você tão bem caracteriza, é isso o que ela é realmente: uma brincadeira, uma palhaçada. Mas, por acaso, não é justamente o que a criança mais gosta de fazer: "brincar e assistir as peripécias do palhaço?". É nesse sentido que Winnicot compara a religiao atual ao "ato lúdico da criança" - ilusão para o adulto.
E como se gosta de permanecer criança o tempo todo, hein?
Mas, com o tempo, eis que ficamos "adultos". Somos agora: reformadores, revolucionários, narcísicos, incestuosos, masoquistas, parricidas, sádicos e espontaneamente atraidos e abalados pelos caracteres físicos e morais que diferem dos nossos.
Que adulto sou eu na tessitura desse desejo de querer modificar o outro? É inútil negar o óbvio, pois lá no fundo, eu estou sempre me vendo nele. Ou não?
Às vezes, me surpreendo confundindo o meu desejo e a minha liberdade com o que é esteio Divino, e assim me iludo às minhas próprias expensas.
Aqui está o mundo, e lá distante Deus: esse é ponto central da ilusória linguagem da religião - Tornar distante o que Cristo trouxe para tão pertinho de nós.
Na verdade, a relação com o ser humano é a verdadeira imagem da relação com Deus.
"Aquele que só conhece o mundo como algo que se utiliza, vai conhecer Deus do mesmo modo" (Martin Buber- 1916)
Termino aqui esse pequeno manifesto de minha alma paradoxal.
Saudação fraternal,
Levi B.Santos
Levi, as pessoas estão tão acostumadas a confundir apelidos e perfis excêntricos com pseudônimos que quando vê um autêntico não percebem rsrsrs.
Assim como não percebem a finalidade do mesmo, que não é se esconder, mas aparecer, chamar a atenção pela diferença dos nomes comuns nacionais que não tem (por preconceito) o status dos nomes estrangeiros.
Portanto aqui eu sou Gresder Sil, por necessidade e vaidade de escritor que se preza rsrsrs.
A pergunta do e-mail que você mencionou e de um amigo meu (muito inteligente por sinal, mas que ainda não quer sair do armário rsrs), pois esse tem sido um dos grandes presentes de Deus: amigos que me inspiram e que inspiro. É que na lista, os e-mails particulares e instigantes eu retorno a todos, quando eles mesmos não respondem a todos.
Pra terminar eu só queria ressaltar essa sua frase: “Que adulto sou eu na tessitura desse desejo de querer modificar o outro? É inútil negar o óbvio, pois lá no fundo, eu estou sempre me vendo nele. Ou não?”
Sim! É essa é a grande verdade, e com base em análises introspectivas do meu ser é que escrevo o que escrevo, e principalmente em relação ao diagnóstico da critica do livro que te enviei.
Um abraço e obrigado pela enorme consideração.
Caro Gresder
Disseste uma verdade cristalina e indiscutível, que concordo em gênero, número e grau:
“Portanto aqui eu sou Gresder Sil, por necessidade e vaidade de escritor que se preza (rsrsrs)”
Karen Blixten, escritora Dinamarquesa, assim se expressou sobre a arte de escrever: “Todos os sofrimentos podem ser suportados se conseguirmos convertê-los numa história, ou se contarmos uma história sobre eles”.
Quando escrevemos, nos tornamos espelhos onde os outros captam a nossa compreensão do mundo, e os significados que atribuímos aos fatos do cotidiano. As nossas emoções mobilizadas, nossos símbolos, nossas marcas estão lá registradas sob a forma de palavras. O papel é o nosso “pombo-correio” dos recados que inconscientemente desejamos transmitir ao nosso próximo. Se não há destinatário, perde-se a razão da escrita.
Ao escrever sobre aquilo que poderíamos ter vivido, e não vivemos, descrevemos algo de nós, que como uma sombra reprimida, foi projetada para o exterior, à guisa de reciprocidade do nosso interlocutor.
Victor Hugo, certa vez, castigou com dureza uma pessoa que confessou ter incendiado uma biblioteca. Exclamou cheio de cólera: “Crime cometido por você, contra você mesmo, infame!./ Você acaba de matar o raio de luz de sua alma!/ É a sua própria sombra que você acaba de soprar!/ Uma Biblioteca é um ato de fé [...]/ Então você esquece que o seu libertador é o Livro?
Segundo o professor de Ciências Humanas, Harold Bloom (descendente de Judeu), “conhece-se melhor a nossa realidade e a nossa vulnerabilidade face ao destino, através da Leitura”.
O famoso poeta Chileno Pablo Neruda, no seu memorável livro (CONFESSO QUE VIVI), escreveu: “Talvez não tenha vivido em mim mesmo, talvez tenha vivido a vida dos outros[...]/. Minha vida é uma vida feita de todas as vidas.”
Desejo-te muitos anos de vida, para escreveres sempre.
Do amigo,
Levi B. Santos
Olha, rapaz, o Levi falou tão bem do teu livro que agora fiquei excitado. Excitado naqueles termos que já expliquei no meu último post de um texto do Boff rsss
Como faço para comprá-lo?
abraços calorosos
Pra você que mora no Rio e fácil, pois por enquanto é só por ai que tem.
Que eu saiba tem na livraria saraiva, manancial de vida e na Jeová nissi na rua do couto 72 penha.
É "incrível" Gresder, como você consegue absorver o que eu escrevo. Confesso que é difícil captar a totalidade de meus textos (inclusive o que deixo nas entrelinhas), mas no seu caso a mensagem parece até ter sido escrita por você.
Quanto ao Caio, também o admiro muito,mas ultimamente tenho me questionado quanto a alguns textos e mensagens dele (obs. me questionado).
Não podemos mesmo colocar todos em um mesmo saco. Como disse o próprio Ricardo Gondim: "Toda generalização é má"
E como diz meu irmão em Cristo e co-autor neste blog, Marcio Alves: "Nossa 'teologia' está em aberto...inclusive para revermos muitas vezes nossos conceitos"
Certamente não seremos como esses gigantes na fé que citei no artigo "vida de pastor", nem antigos nem contemporâneos.Somos a geração Gresder Sil, Marcio Alves,Edson Moura entre outros que saíram do velho paradigma e enveredaram por novas trilhas abertas por Caio Fábio , Ricardo Gondim , Ed René Kivitz, Ariovaldo Ramos e tantos quantos quiserem juntos conosco "pensar fora da caixa"
Nem lhe conheço pessoalmente mas já o admiro irmão, assim como também admiro o Eduardo Medeiros.
Prazer em te-los como um novos amigos Gresder e Eduardo.
Edson Moura
Gresder, pode me mandar uma sinópse do seu livro?
Paz!
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“todo ponto de vista é à vista de
um ponto, nos sempre vemos de um
ponto, somente Deus tem todos os
pontos de vista e tem a vista de
todos os pontos.”
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