A desmitologização e secularização das linguagens e estruturas religiosas da fé
sábado, 15 de maio de 2010
O espetáculo da Cruz
Para um cristianismo a-religioso universal a ressurreição não é uma doutrina imprescindível, pois ela é um acontecimento visto e contado por poucas testemunhas oculares e parciais que nos levam ao ponto decisivo de um relato sem provas suficientes e cabais. E sendo exclusivamente um acontecimento que não se pode comprovar por ser um retrato feito, não com a objetividade fria da historia, mas com amor apaixonado dos seguidores, a ressurreição logo se torna uma questão pura e sobrenatural da fé e do coração dos crentes.
Entretanto a crucificação não é um acontecimento visto por poucas pessoas particulares, mais visto por todo o povo, e por eminências atestadas pela historia (Pilatos, Herodes, Caifás, Anás), portanto ela não necessariamente precisa do fator sobrenatural a qual um cristianismo a-religioso voltado ao homem contemporâneo se propõe a propagar. A crucificação se trata do maior espetáculo de Deus para toda a humanidade ver e assistir, independente da fé religiosa.
Tirem a ressurreição do cristianismo que á fé da maioria dos cristãos tradicionais se perdem apesar de Ele ainda permanecer vivo e imortal para o mundo, agora tirem o acontecimento histórico mais trágico-magnífico da humanidade que é crucificação, que Jesus seria no máximo mencionado como um mero profeta dos hebreus dentre muitos homens da humanidade que ensinaram e fizeram coisas maravilhosas.
A Cruz é o apogeu absoluto da revelação de Deus a humanidade, e exatamente pelo fato de ela ser a apoteose da Paixão do Cristo por seus seguidores. Uma paixão no sentido existencial/religioso do termo significa o trajeto épico doloroso e ariscado feito por Aquele que morre por sacrifício de amor aos seus. Num ato espetacular onde todos, ateus e crentes, sábios e ignorantes, grandes e pequeninos contemplam estupefatos diante de tamanha intensidade de Amor e Dor de um homem obcecado por sua Causa: dar um novo rosto ao Deus dos seus antepassados*, a qual Ele ousou chamar de Pai.
Se não fosse o espetáculo da sua morte hedionda e injusta de Cruz, Jesus não seria visto, não seria lembrado, e não seria notado em sua época junto com outros salvadores que surgiram naquele tempo. Pois apenas como homem independente da vontade de Deus por traz de tudo isso, Ele mesmo com as suas atitudes e posturas provocou consciente a sua própria morte para dar ao mundo a sua Palavra que somente cresceria como semente que nasce após morrer na terra.
Deste modo atuou Ele como os grandes homens deste mundo que não foram de todo cautelosos perante os seus inimigos em suas causas pela humanidade, e que eram conscientes de suas importâncias como olhos e voz de Deus para os homens. E assim especialmente Ele agiu ciente de todos os riscos e conjunturas sociais/religiosas que o levariam a morte como sendo o mártir e suicida religioso magno da humanidade, que caminhava convicto ao seu destino sabendo que unicamente uma morte Grandiosa poderia selar a sua vida com a Gloria da imortalidade de sua Causa de Amor a todos os homens.
Gresder Sil
*Desde Paulo o apostolo, depois o apologista Irineu no segundo século da era cristã, Santo Anselmo teólogo e filósofo medieval italiano, o polêmico e herético Pelagio, o controvertido e “imoral” Pedro Abelardo, e o “Pai” do liberalismo teológico: Ritschel entre ouros, o cristianismo sempre teve varias teorias sobre o significado da missão e morte de Jesus nesta terra, prevalecendo até hoje na cristandade a doutrina da espiaçao pelos pecados da humanidade, que não é necessariamente a mesma de um cristianismo a-religioso.
escrito originalmente em 22/03/10
Postado por
Esdras Gregório
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13 comentários:
Com relação ao fenômeno psíquico da “ressurreição” , gostaria de ressaltar que alguns discípulos estavam grávidos do VER para CRER, psicologicamente falando, enquanto outros não. Tanto é, que o mui amigo Mateus, por um descuido da madre igreja primitiva, deixou escrito essa pérola:
“Os onze discípulos partiram para a Galileia, para o monte que Jesus lhes tinha designado. Quando O viram, o adoraram, MAS ALGUNS DUVIDARAM”. (Mateus 28: 16-17)
Aliás, a religião de Paulo é fundamentada no túmulo vazio, pois foi ele mesmo quem disse: “Se Cristo não ressuscitou é vã a nossa fé!”
Gresder,´
Então qualquer um de nós poderíamos ser um "Jesus da cruz", pois podemos observar na história muitas mulheres e homens que também enfrentaram mortes, talvez até mais doloridas e horrivelmente tortuosas que a do proprio "Jesus da cruz". Então, veja só, se a "morte na cruz" é o "ápice", então há milhares de ápices e incontáveis motivos para tais "ápices espetaculares" e acabaremos nos perdendo de tantos "motivos", "ápices" e "espetáculos", etc. A não ser que "fisicamente" você creia que a morte na cruz, de Jesus, seja a mais dolorosa de todas as mortes. Eu posso estar muito enganado quanto ao que entendi de seu texto, mas não posso admitir que a "importância da Cruz de Cristo" esteja dependente exclusivamente da "morte na cruz", excluindo a ressurreição.
Por quê a ressurreição podería estar insignificantemente à parte de tal "espetáculo"? Ainda que houvesse muitos dos seguidores de Jesus "surtados" em relação a Ele, ainda há que se pensar um pouco mais no significado de tudo isso.
Sinceramente sem a Vida que "emanou da cruz" não posso admitir um Jesus que não "conseguiu" "penetrar" nos mistérios do "além vida" e nos trazer "definitivamente" uma esperança que homem ou mulher alguma nos pode dar, pois sinceramente a "morte" por mais corajoso que se seja em relação a ela, ainda é nossa inimiga, por definição.
Tenho muita experiência quanto à mortes violentas (exerci a profissão de agente funerário por cerca de cinco anos), mas nada há de mais inadmissível quanto observar cadáveres frios e trucidados pelas "cruzes deste mundo".
A não ser que cada um de nós for um "Cristo da cruz", desde que morramos de modo espetacular e "cruciante".
Ainda que haja críticos de Paulo quanto a sua fé depender do "túmulo vazio", eu, no entanto, creio não somente no "físico túmulo vazio", mas creio na Vida que transpôs os limites da vida e nos deu Esperança quanto à morte. Caso contrário, todos nós podemos então ser "Cristos das milhares de cruzes espetaculares", pois dor, malignidade e morte horripilante não falta.
Oseias boa obeservaçao, mas a morte de jesus não foi uma tragédia, Ele buscou ela, ele a provocou, o espetaculo esta justamente no fato de ela ser "injusta" de ela trazer a tona toda a vida de um homem justo.
A morte não é nossa inimiga, antes a maior bençao para o homem, pois o que adianta existir um céu par os salvos, mas um inferno para os perdidos, mil vezes seria a morte absoluta de todos.
Oseias se você já passou dos trinta e não pode intuir o que se passou com jesus nesta idade, creio que depois não entenderá mais, restando apenas entender não o homem, mas as suas palavras.
O ponto central não é a morte trágica, mas o favor "suicidada" de um mártir religioso que caminha de encontro a sua propria morte para imortalizar sua mensagem no coração dos homens, a questão aqui são os motivos por qual jesus morreu, tema este que vai ser tratado ainda em outros textos.
Gresder,
Eu particularmente não acredito na "morte" como benção, a não ser que ela tenha um significado ulterior às interpretações teológicas de "céu" e "inferno".
Se a "morte" perpetuasse uma menssagem, poderíamos citar aqui centenas de líderes psicopatas, de seitas diversas, que incutiram em seus seguidores o suicídio coletivo; ou como promessa de "vida eterna" ou para chamar a atenção à sua maluquice.
Assim sendo, poderíamos nos reunir em torno da mensagem de Sócrates, pois pelo que parece caminhou também ao encontro de sua prórpia morte. Poderíamos argumentar que a "mensagem socrática" perdura em razão de sua morte trágica?
gresder e Oséias, posso meter o bedelho??
"Tirem a ressurreição do cristianismo que á fé da maioria dos cristãos tradicionais se perdem.."
isto é fato.
Mas a discussão se a ressurreição foi histórica ou não é na verdade secundária, pois o que de fato importa, é o que a mensagem ainda que simbólica pode nos dizer.
E a ressurreição aponta para a esperança. Para a vida que supera a morte. Para renovação de um outro jeito de caminhar pelo mundo.
Eu não sei se Jesus ressuscitou historicamente, pois eu não vi o túmulo vazio e nem me encontrei com ele em estado ressurreto e as experiências narradas nos evangelhos são as experiências que são olhadas retrospectivamente, com visíveis tons de construção teológica.
Mas a bem da verdade, o termo ressurreição é tecnicamente imperfeito para nomear o que ocorre com Jesus.
Ele volta diferente. Com outro corpo, com outra aparência. Ressurreição é voltar ao que era. Ele, ao voltar, já não era, mas torna-se o símbolo da transformação do que nós, espiritualmemte, podemos ser.
Deixemos os crentes acreditarem na ressurreição literal, eles precisam disso para dar sentido à fé.
Quem puder transcender ao histórico, quem puder adentrar nos mistérios do espírito e dos símbolos significantes, quem puder ler o que está na meta-história que necessariamente não é o que acontece na história, então que o faça.
abraços
Oseías a morte é uma bênção quando no sentido deista em oposição ao dualista que vê um céu e um inferno, portanto entre crer na aniquilação total do ser e na eternidade feliz para alguns enquanto o resto se fode no inferno, a morte como aniquilação de todo sentimento é uma bênção muito maior do que as boas novas que só são boas novas para uma ínfima parte da humanidade enquanto o resto que pecou por este pequeno espaço de tempo paga a eternidade no inferno para satisfazer o planinho de um deus que ao ver isto não resolveu abortar a vida antes que ela culminasse na condenação eterna do inferno para a maioria das sua criaturas que simplesmente não encontrou motivos justos e razoáveis para enfiar uma bíblia embaixo do sovaco e seguir uma igreja.
Entendeste a minha luta agora Oseias?
A morte de Sócrates selou a sua vida e obra tanto como a de Jesus, mas a evidencia de Jesus por tudo o que disse e que fez foi infinitamente maior, uma morte provocado com o objetivo de ser um ato de imortalizarão não prova nada, mas masca profundamente e põe em evidencia o Mártir desta causa.
LEVI e EDURDO obrigado pelas colaborações mas falar sobre a ressurreição não foi meu propósito, antes para uma concepção de um cristianismo a-religioso, precisasse de um Cristo a-religioso, e de um sentido a-religioso de usa morte, ou seja, o significado do sacrifício, só esta aqui enquanto cremos, mas talvez não traspasse o linear da eternidade.
Para mim Jesus era sábio de mais para acreditar em uma intervenção escatológica como algumas de suas frases sugere, pelo contrario ele caminhou de encontro a cruz para dar vida a sua palavra, o mundo já não lhe suportava, e nem dele era digno, por isso ele se rendeu a seu destino ( vontade do Pai) e caminhou até a morte, e como homem diante da morte desejou viver ( se for possível passa de mim este cálice) mas não tinha saída, só a morte traria vida a sua obra e por isso aceitou a sua sina, cruz, destino vontade de Deus, tanto faz, só mudam os nomes, a realidade é uma só, chega um ponto na vida de um grande homem escolhido por Deus que ele sente que já fez o que deveria ser feito, e por isso se sente pleno e pronto para voltar ao seio do pai (Deus) ou da mãe (terra) de onde veio.
Olá Gresder,
Eu creio que ninguém será deixado "no inferno", mas sim que toda criatura será restaurada, inclusive o diabo (seja lá o que entederem como diabo).
Eu penso que os que crêem no "inferno" cuja existência esteja em oposição ao "céu", então estes facilmente concebem um sistema dualista de crença sobre Deus e o Diabo, ou mesmo, o "bem" e o "mal", ambos, absolutamente poderosos e opostos, então "divinos".
Ufá!! então não estou só nesta luta, pois luto desde a minha conversão contra a existência deste lugar, depois de ter convencido a “deus” ( minha consciência) agora só falta convencer a “bíblia” ( os crentes ) que este lugar é apenas uma hipérbole usada por Jesus como recurso pedagógico daquele que mais falavam em parábola do que em linguagem literal.
Eu nunca aceitei isto, lembro me muito bem de ter orado para Deus recusando sofrer pelos perdidos pois aquela dor de saber que a humanidade seria condenada ao inferno esta me fazendo infeliz demais.
Como os crentes podem ser tão incoerentes, se alegram em ver Robinho e a trupe dele dando um show de bola e vão dormir feliz sabendo ( segundo as suas crenças) que eles vão se perder para sempre no inferno. Recuso com todas as forças da minha alma o fundamentalismo por não poder aceitar no coração que as criaturas de Deus que já nascem na miséria que as encaminha ao pecado, vão ter que ser condenadas por não serem crentes.
Gresder, você não está só nessa cruzada contra o inferno literal. Eu deixei de crêr nisso ainda adolescente.
E você já sabe que eu concordo com você quando diz que
"só a morte traria vida a sua obra e por isso aceitou a sua sina, cruz, destino vontade de Deus,"
Acredtio piamente nisso. Ele entregou-se como mártir do seu projeto do Reino de Deus. Não para que sua morte fosse depois interpretada como vicária como Paulo fez.
Mas até mesmo a interpretação existencial da morte vicária ainda é capaz de nos dizer muita coisa.
Gresder,
Eu não creio na existência deste "inferno" no qual as almas sofreriam por toda eternidade. Nem creio na "aniquilação" da vida (alma/espírito) após a morte.
Creio que um dia todos ressuscitarão e restaurados estarão seguros naquela Dimensão sobre a qual repousa aquela esperança que todos nós temos.
Oseias com o coração eu creio como você num "universalismo", mas com a razão eu sou deita como Moises, como Salomão e como os saduceus do tempo de Jesus. Todos eles acreditavam em Deus, mas a vida era única, e a morte a cessação e toda sensação.
Eduardo que coragem em! Desde sedo já deixaste de crer na doutrina do inferno, eu aceitei-a até uns dois anos atrás por obediência cega, mas meu coração a rejeitou desde os meus dezenove anos.
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“todo ponto de vista é à vista de
um ponto, nos sempre vemos de um
ponto, somente Deus tem todos os
pontos de vista e tem a vista de
todos os pontos.”
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