A desmitologização e secularização das linguagens e estruturas religiosas da fé
sábado, 5 de junho de 2010
O Cristo de um cristianismo a-religioso
Os grandes Filósofos e Profetas e principalmente os dois homens mais importantes e visionários da humanidade: Moises e Jesus, apesar de serem traspassados pelo Espírito divino, eles provavelmente como nós, também tiveram suas profundas duvidas e crises de fé. Mas sem dúvida nem uma eles tinham fé inabalável em um Deus invisível, incorpóreo, inominável, incomensurável e inexaurível, e muito mais ainda acreditavam em suas missões sobre esta terra em dar uma Face reconhecível a este Deus.
Pois possivelmente para eles esse Deus estava muito além de tudo e de todos, sendo indecifrável, Irrepresentável, incognoscível, cego surdo e mudo, que, entretanto, anda fala é vê de forma imperceptível sobre o mundo. Que não tem nome, que não tem cor que não tem cheiro, que não tem imagem que não tem corpo, mas que tudo toca que tudo permeia.
Este Deus nada falou para eles, mas sussurrava em seus ouvidos, Ele nada lhes revelou literalmente e nada lhes mostrou face a face, mas eles só o viam em suas frentes em tudo o que observavam e em tudo o que tocavam, faziam e sentiam. Portanto para eles este Deus era muito vasto e profundo para ser simplesmente como a gente é: individual, pessoal, concebível, nominável e tangível ao entendimento. Mas por sentirem uma chama e uma responsabilidade incessante em seus interiores, eles deram cor, vida e vontade a este grande Desconhecido.
Eles como homens pensaram e sentiram ainda, que poderíamos talvez estarmos sós neste mundo, ao mesmo tempo em que inevitavelmente notaram que este mundo é escandalosamente místico e divino para não perceber a mão do Todo Poderoso em tudo o que viam. Eles sabiam que não havia provas concretas de outra Pessoa do outro lado, mas mesmo assim deram pessoalidade a este incrível Ser que é fonte de toda a Vida e beleza, e da qual todos nos somos procedentes.
Estes grandes homens da humanidade viveram de suas intuições que perpassavam os recessos mais profundos de seus inconscientes, dando lhe momentos de iluminação e inspiração que não é licito falar aos ouvidos dos homens, e que por isso falaram em parábolas, figuras de linguagens, “revelações”, alegorias e mitos.
Os maiores conhecimentos do mundo sobre Deus e sobre a vida morreram com seus receptadores, pois eles sabiam que muitos da humanidade não poderiam suportar a verdade crua que especialmente eles eram dotados de lentes para ver. Há exemplo de Jesus, todos podem saber o que Ele queria ensinar, pois doutrinava ao simples de forma a ser aceito pelos pequeninos do mundo, mas quase ninguém sabe o que se passou na cabeça daquele homem enviado dos céus.
O que ele viu e sentiu esta para muito além de nós de forma que ele teve muitas vezes que blefar, e falar somente ao coração e não desiludir para não deixar morrer os seus seguidores desesperançados neste mundo, criando um novo sentido de esperança para os seus. Ninguém amou tanto os homens como Ele amor, e por isso por sua conta e rico, arriscou e disse o que disse sobre este Deus indizível que nada dizia. Sabendo que a oportunidade Dele era única e que em nem outro se poderia manifestar de novo tantos dons e oportunidades de um homem ser confundido com Deus e deixar tanto deste Deus Desconhecido para os seus discípulos e para a posteridade da humanidade.
Ao homem que teve a maior intuição do mundo sobre Deus e que por sua conta e risco se deixou passar por Deus, se devotam hoje o maior tributo de amor que alguém pode receber nesta vida. Os verdadeiros cristãos ortodoxos que acreditam que Ele sendo Deus, se fez homem pelo poder do Espírito Santo para redimir a humanidade, o amam e o adoram de paixão. Tanto quanto também os cristãos humanistas o amam do mesmo jeito, com a mesma veneração, com a mesma paixão e com os mesmos sentimentos do coração, que acreditam que Ele sendo somente homem, foi feito Deus pelo amor deslumbrado dos que os seguiram de perto, e que se deixou ser, por amor aos homens da qual estava irmanada na existência: o representante insuperável deste Deus* de amor e graça que inundava o seu Ser.
Gresder Sil
*Deus sempre será o reflexo do autor que o pinta.
Escrito originalmente em 29/04/10
Postado por
Esdras Gregório
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14 comentários:
Com certeza, todos os grandes iluminados que já estiveram entre nós tiveram seus momentos de fraqueza.
O próprio Cristo, já crucificado externou sua dúvida na célebre frase: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" Todavia, o senso de responsabilidade deles em levar uma "imagem reconhecvel" de Deus para as pessoas sempre esteve presente e falou mais alto.
Realmente, há coisas que são mais difíceis de provar que não existem do que o contrário. "Deus", o "místico", o "sobrenatural", o "espiritual" são exemplos desse tipo de coisas.
A experiência de sentir o Deus é pessoal, subjetiva. E acredito plenamente que muitos desses conhecimentos morreram com seus detentores ou experenciadores. Quem sabe o que sentia Gandhi, Jesus e outros?
"Eu aceito" esse Jesus que, pela sua vida e obras, tornou a coisa mais insignificante neste mundo saber se ele foi ou não (literalmnte) Deus.
Pezado Gresder
Sobre o que escreveram sobre Cristo, o que me fascina mais são as suas extraordinárias e bem elaboradas parábolas, assim como as suas famosas indiretas dirigidas aos sacerdotes e fariseus, ficando como secundário, para mim, o seu suposto nascimento de uma virgem, sua morte e sua "ressureição".
É uma pena que sobre Sua vida de criança e de adolescente, os evangelhos sinóticos nada tenham revelado. Alguma coisa dessa Sua fase, eu fui buscar nos evangelhos apócrifos, através de histórias descontraidas, carregadas de humor e humanismo, sem aquela sacralidade exuberante dos quatro tradicionais evangelistas.
Entendo que o Cristo dos evangelhos foi descrito, de uma forma mística e mítica para que se cumprisse a literalidade das "profecias" - que por ser conteúdo do inconsciente coletivo judaico, deveria ser, isto sim, interpretado dentro da linguagem simbólica,e não de forma literal.
A visão dos profetas estava por certo em completa harmonia com a sua visão de universo em geral, que os levou a projetar no mundo exterior, como se fossem realidades, coisas que de fato só gozavam de realidade dentro de suas próprias mentes. O eco da natureza "divina" das profecias da antiguidade foi projetado sobre Cristo sem que se fizesse uma análise do conteúdo manifesto da visão profética para descobrir o seu conteúdo latente, para o início de uma nova era - a Era Cristã.
Então tudo foi concatenado nas mentes grávidas das pessoas ávidas de um messias (segundo as profecias), que requeriam um cumprimento literal do que foi profetizado em seus mínimos detalhes, no Velho Testamento.
Hoje sabemos perfeitamente que sonhos, visões e profecias, são compostos de signos à espera de uma interpretação, que quase sempre não coincidem em seus significados latentes, com a literalidade que o sonhador, profeta ou visionário narra ou conta.
“Deus sempre será o reflexo do autor que o pinta”.
Esta sua frase, a meu ver, sintetiza tudo e mais um pouco, do que o seu texto disse e até o que não chegou a dizer, nem muito menos exaurir, pois vai além sendo o divisor de água de qualquer mentalização e intuição das revelações projetadas dos psiquismos humanos em deus.
Sim! Pode-se e deve adorar Jesus como se fora deus-deus, mesmo não sendo e ao mesmo tempo em que se é não-deus, pois se é na existencialidade e corporeidade na medida em que vai se percebendo sua auto-imagem projetada, esculturada, modelada de deus nos moldes interiores subjetivos dos sentidos, intuições, sentimentos, racionalização, emoções, e até de características de seu caráter e personalidade, daí que o deus de Jesus ser mesmo “Pai” de Amor e Graça, de imensurável Bondade e Misericórdia, abençoando tanto o justo como também o injusto, que veio “salvar principalmente os perdidos” e dar um novo significado e sentido para um povo tão sofrido e marginalizado, que somente seu amor e sua compreensão, poderiam resultar na mais alvissareira e revolucionaria noticia de todos os tempos: “o deus “de” como também “em” Jesus tem a sua cara"!!!!
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Meu caro. Me chamou atenção o título do seu blog, pois fiz minha tese de teologia justamente sobre este tema: "A religião de Jesus Cristo" e aparecia justamente este tema apresentado por Bonhoeffer sobre o cristianismo areligioso. Foi um trabalho que adorei fazer. Vejo que seu objetivo aqui é por em prática estas teorias todas...
Parabéns pela iniciativa.
Grande abraço.
Meu caro Gresder.
Além de inteligente, achei seu blog bonito. Suas teorias são de no mínimo minha consideração. Podemos conversar futuramente sim, basta que estejas com tempo.
Com estima fraterna.
Meu blog é:
www.pvfranciscanos.blogspot.com
Gresder, de todo o conteúdo do teu texto, eu só não concordaria com essa frase:
"o homem que teve a maior intuição do mundo sobre Deus e que por sua conta e risco se deixou passar por Deus'
Eu não vejo pela leitura dos sinóticos, Jesus se deixando passar por Deus, e sim, pelo Messias. A divinização de Jesus veio bem depois, já que em nenhuma tradição judaica, o messias seria Deus encarnado. Salvo melhor juízo.
Isaias ao ouvir esta palavra ”iluminado” eu ainda sinto certa aversão, mas eu também aos poucos tenho usado a palavra “mística” que há muito tempo eu me recusava em usar pela sua conotação não cristã fundamentalista. Mas aos poucos eu vou enriquecendo a escrita com estes termos não muitos sagrados para o cristianismo ortodoxo.
Sei que ele de alguma forma é enviado dos céus, e meu interesse por ele é tão grande que eu fico dias e dias a imaginar a mente e o coração deste homem que amou os seus até o fim, eu também aceito este Jesus que enche meu corão de esperança, pois se por um acaso ele não for Deus, ele é um de nós, e por isso não estamos sós neste mundo, pois “Deus”, era um homem com eu e você.
Sabe Levi eu acho que existe tão pouco material canônico sobre a vida de Jesus como menino porque sua infância foi infância como a de todos, a não havia nada de sobrenatural para servir como marketing do evangelho e por isso nada sabemos de uma infância tão comum como a minha e a sua.
Sabe Marcio Epicuro que veio antes de Jesus dizia que todas as coisas naturais e essenciais a vida eram fáceis de se obter, entretanto todas as coisas superfulas era de difíceis obtenção e que só causavam aflição a alma daqueles que buscava, essas coisas. Alguns tempos depois Jesus disse que não era para a gente se preocupar com o que comer e vestir, pois Deus providenciaria, assim como fornece a subsistência da Natureza.
Ou seja os dois viam a mesma coisa, mas o que Epicuro vê como algo natural, Jesus fala como providencia divina, o primeiro sendo filosofo, e tendo por ouvinte os nobre e intelectuais, diz de forma secular aquilo que Jesus diz de forma espiritual para um povo muito mais inculto e miserável.
Ou seja, Jesus veste a natureza com as veste de um Deus criador e Pai daqueles que nele confia. Pois para ele aquele que não tinha forma, nome e vontade própria, ganhou a cara de uma Deus de graça e bondade, pois era assim de forma poética e mística que Ele via a vida e a essência espiritual que nele existia.
Caramba isso da um post!
Boa Gresder!
Jesus - o poeta que fez da filosofia de Epicuro, parábolas, dramas e sermões para que os pobres de espírito pudessem entender o que os antigos nobres e intelectuais do "Mundo de Sofia" discutiam entre si.
Parabéns pelo comentário ao Marcio, FICOU MELHOR QUE O POST HAHAHA
Mas Eduardo eu não interpreto Jesus pelos sinoticos, mas pela leitura de mim mesmo.
O que eu estou fazendo aqui é o mesmo que João fez: uma interpretação subjectiva romanceada da vida de Jesus. Ou seja: eu falo dele o que dele eu sinto.
É lógico que os trez evangelhos sinoticos não sugerem o que eu disse, mas os propios evangelhos sinoticos deixa a desejar naquilo que esta latente na vida e missão Jesus que eles esboçam.
Até o envio dos setenta dicipulos, jesus sonhou o sonho profético escatológico, mas como não se cumpriu, Ele teve que reformular em pleno ministério a sua propria missão de vida, pois se o reino não mais viria em manifestação do filho do homem entre as nuvens, então ele estaria dentro de cada um e não seria visto aqui ou ali, ou seja: Ele deve ter tido do seu proprio chamado uma visão diferente no final de sua vida, sentido a cada dia que o seu fim não seria a manifestação de um reino prometido aos antepassados, mas um fim trágico, ele sentiu seu destino se afunilar até a cruz, e por isso aceitou isso como sendo a vontade de seu pai, em oposição a dele que era outra.
Eu tenho muito o que falar sobre isso, quem sabe eu também escreva uma vida de jesus assim com muitos teólogos alemães escreveram no passado, mas por enquanto eu vou escrevendo vários textos sobre o cara que mais me interessa conhecer neste mundo, e que me deu tanto gozo e sentido a minha alma em toda a minha caminhada cristã ortodoxa.
Amigo GRESDER,
Muito boa sua postagem, mas viajei nos comentários....que enriqueceu ainda mais este artigo.
Por incrível que pareça, eu concordo com você neste pensamento:
"Deus sempre será o reflexo do autor que o pinta".
Abraços.
Porque nunca mais visitou o meu blog hummmmm??!! Estou esperando por você lá.
Por que eu sigo a lei do “post por post, comentário por comentário” kkkkkkkkkkkkkkkk
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“todo ponto de vista é à vista de
um ponto, nos sempre vemos de um
ponto, somente Deus tem todos os
pontos de vista e tem a vista de
todos os pontos.”
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