A desmitologização e secularização das linguagens e estruturas religiosas da fé
domingo, 15 de agosto de 2010
Boletim semanal do templo sede
Era exatamente a hora da Palavra, todos estavam atentos para ouvir, mas o choro daquela menininha se estendia por todos os recantos daquela imensa igreja no domingo. Inevitavelmente muitos viravam seus pescoços para traz não só para ver, como também para intimidar com os olhos os pais responsáveis pela aquela criança.
Mas eles nada faziam ou conseguiam, e o choro não se continha, alguma coisa trivial queria aquela menina. Mesmos os mais sensíveis se sentiam incomodados e os pastores ansiosos olhavam para de onde vinha aquele choro desejando intimamente que alguém fizesse alguma coisa para calar aquela garotinha.
Mas em um mágico momento eu pude perceber que servia para alguma coisa o boletim* informativo entregue na porta da igreja todo domingo, pois um rapaz sentado a alguns bancos acima da menina fez com ele um admirável passarinho de papel e docemente entregou aquela linda garotinha que surpresa a fez parar de chorar imediatamente naquela hora.
Mas o que mais aquietou aquela menina não foi a novidade e genialidade do presente repentino, mas a sensação estampada em sua carinha que fixamente olhava para o moço de que alguém naquela multidão se preocupou não em a fazer parar de chorar, mas se procurou com ela. Pois enquanto todos se incomodavam com o choro ele se incomodou com o incômodo daquela menina, e ela pelo jeito desconcertante como o olhava se sentiu especialmente notada.
Aquilo me emocionou intimamente. Ates de acabar o culto me levantei do meu lugar e fui até o moço que me parecia apenas um dois ano mais novo do que eu. Sentado ao seu lado eu disse uma frase que eu tinha memorizado para ele: “o que você fez por aquela menina foi à coisa, mas importante e bonita que eu vi aqui hoje. Os seus pecados foram perdoados no céu”
No meu ego eu queria sim ser um “Cristo” aquela ora. Mas creio que meu incomnciete me remeteu aquela passagem onde Jesus disse: “E qualquer que tiver dado só que seja um copo de água fria a um destes pequenos, em nome de discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão.
Se eu me recordo bem Jesus geralmente não dizia: “Eu perdoou os seus pecados”, mas depois de ser impressionado pela fé, coragem e singeleza de um ato de uma pessoa, conseqüentemente dizia: “vendo-lhes a fé, disse ao paralítico: Filho, perdoados estão os teus pecados” ou “a tua fé te salvou”
Pois entendo disso que para Ele uma das coisas além da fé pessoal que também redime o nosso mal individual a que estamos submetidos num mundo cheio de maldades Reais e não pecados espirituais herdados, são a simplicidade com que notamos no olho do outro sem julgamento opressivo que no mundo ninguém realmente é inocente, logo logicamente também ninguém então será tido por nós como culpado no sentido teológico da crença, e todos os pecadores do mundo podem ser perdoados porque espiritualmente não existe um tal de Pecado Original.
Gresder sil
15/08/10 escrito as 23:07
*não tenho certezas se era mesmo o boletim rsrs
Postado por
Esdras Gregório
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12 comentários:
Gresder,
Que frase profunda essa última parte que diz: "Pois entendo disso que para Ele uma das coisas além da fé pessoal que também redime o nosso mal individual a que estamos submetidos num mundo cheio de maldades Reais e não pecados espirituais herdados, são a simplicidade com que notamos no olho do outro sem julgamento opressivo que no mundo ninguém realmente é inocente, logo logicamente também ninguém então será tido por nós como culpado no sentido teológico da crença, e todos os pecadores do mundo podem ser perdoados porque espiritualmente não existe um tal de Pecado Original."
E de profunda sabedoria.
Uma coisa posso dizer, a coisas tão ocultas no campo da espiritualidade que os próprios espirituais duvidam.
Abraços amigão e descupe pela demora...
Se era o boletim ou não, pouco importa. Digamos que fosse. Aquele pedaço de papel tinha a função de informar sobre os trabalhos da igreja. Informar, lhe dava sentido. O belo rapaz, de bela atitude, deu um novo significado ao pedaço de papel. Agora ele já não informava nada. Virou passarinho de papel...seu sentido agora era provocar a admiração da menininha.
A vida em si não tem significado nenhum. Terá significado e sentido quando começamos a fazer passarinhos de papel...
Que bom, Gresder!
Com essa do "boletim semanal" acabei de encontrar uma grande utilidade para as lições bíblicas da CPAD.
Elas, agora, terão uma função mais nobre do que a de complicar o óbvio; as suas páginas de teologês ininteligível serão, doravante, transformadas em aviõezinhos para consolar as crianças que são azucrinadas com as cantilenas sem pé nem cabeça dos professores da escola dominical.(rssss)
Hubner você esta louco! endoidou de vez leia de novo este parágrafo herege que você destacou, que você vai ver nele que eu nego tanto a Queda como principalmente a redenção que são colunas máximas do cristianismo ortodoxo que você acredita.
Eduardo o interessante é que eu retratei uma imperícia verdadeira no mais próximo possível da realidade, a não ser que eu tenha me enganado, pois o relato feito não tem uma vírgula de acréscimo para embelezar um cena que eu vi diante de mim absolutamente bela e emocionante não só para mim nas para alguns que perto também perceberam
Levi morri de rir do seu comentário eu não queria que chegasse a esta conclusão, é por tua conta e risco ta.
Você como o Eduardo nem deram bola para minha teologia por traz do relato isso porque você aprenderam que o melhor que os compêndios de teologia podem produzir é aviãozinho e passarinho de papel para nos extasiar com a beleza repentina do presente da vida concreta que transcende a sistematização da religião.
Gresder
Vou fazer apologética com humor, à la Genizah.
Aqui nas igrejas da Paraíba, eles têm um "santo remédio" (ou diabólico mesmo) para criança encapetada que começa a perturbar o trabalho nos cultos.
Quando elas começam a chorar, param imediatamente, ao ouvir um diácono (ou outro auxiliar) dizer ao pé do seu ouvido:
"Se não parar com esse berreiro, Deus vai te castigar, ouviu! Menina chorona - o lugar dela é no inferno, onde tem choro e ranger de dentes, sem fim!".
Tem um porém: essa ameaça feita por "um homem de deus", só funciona se ele estiver ornamentado de paletó e gravata e com o livro de capa preta à tiracolo (rsrssss)
Gresder,
Já passei por N situações para "manter" o culto "funcionando".
Desde desenhar com crianças que queriam atenção, carregá-las no colo no jardim da igreja, ou até mesmo, segurar em meu colo com cara de "brabo" os mais "encapetados" filhos dos outros, rsrs.
Vieram meus filhos, também o segurava no colo do lado de fora, mas, quando ele começou a entender o "ritual" e bagunçar o "coreto", eu levei ele até uma sala e dei umas cintadas, que idiotice eu fiz, depois me arrependi tanto, o mais novo dormia praticamente em todos os cultos, para ele era uma chatice, ele está com sete anos e nunca gostou ou levou a sério o que acontecia dentro dos templos, rsrs.
Bom texto, ótimo texto, creio que tal garotinha lembrará do ato para sempre, quanto à mensagem que estava sendo pregada, acho que nem você se lembra, rsrs.
Abraços,
Evaldo Wolkers.
GRESDER
Mais do que a teologia por trás do texto por você escrito, mas do que o ato admirável do rapaz para com a criança, o que mais me surpreendeu positivamente foi sua sensibilidade para perceber tal cena, seu gesto de gratidão para com o rapaz em dizer tais palavras, e principalmente, sua genialidade de tirar disto belas e inesquecíveis lições de vida.
Isto sim é que eu chamo de “teologia (ou filosofia) de rua”.
Quando eu era pregador, gostava de “tirar” mensagens dos acontecimentos práticos do dia a dia.
O que adianta dizermos para as pessoas se anjos tem sexo ou não, se o dilúvio foi ou não universal ou local, se Jesus é a segunda pessoa da trindade, o que importa mesmo, sendo o essencial é a pratica da existência, não teorias e mais teorias abstratas de um mundo surreal.
Abraços mano
Evaldo pior que eu lembro mais ou menos da pregação, mas era tão simplória, tão humanamente insustentável que me dá pena fazer uma critica.
Ta vendo Marcio como a gente pode transformar nossas armas em arado e ao invés de nos desgastamos na critica contra a igreja a gente pode poetizar sobre o belo e humano que nela ainda existe
Pois bem, Gresder, vou comentar a teologia que você inseriu no último parágrafo do seu texto:
"...no mundo ninguém realmente é inocente, logo logicamente também ninguém então será tido por nós como culpado no sentido teológico da crença, e todos os pecadores do mundo podem ser perdoados porque espiritualmente não existe um tal de Pecado Original."
Evidente que o "pecado original' foi uma infeliz criação não sei de que teólogo. Foi Agostinho? acho que foi.
Eu concordo com você (pensando a partir dos padrões cristãos) de que Deus só tem uma coisa a fazer: perdoar a todos os pecadores. os "bons" e os 'maus". Não se diz que a justiça dos homens não é igual à justiça divina?
Pois bem, o pecador do "mal" que matou, roubou, difamou, brigou, já foi julgado pela justiça da sociedade e pela vida não autêntica (lembrando bultmann) que levou. A sua anti-vida só poderia levá-lo à morte. Mas depois da morte a coisa muda de figura. Entra a justiça divina. E como Deus é feito de puro amor, ele só poderá abraçar a todos, e fazê-los enfim, enxergar como se deve viver.
viajei...rsssssss mas viajei nos padrões cristãos (modificados e atualizados por você e por nós rsss).
Mas eu não sei como será a vida além da vida que não deixará de ser vida. Nem sei se de fato, ela existe. Só posso tê-la e percebê-la pela esperança. E não custa nada ter esperança.
Mas se houver, de uma coisa sei: não haverá trono branco. Não haverá lago de fogo. não haverá livro da vida. não haverá ruas de ouro.
“o pecador do "mal" que matou, roubou, difamou, brigou, já foi julgado pela justiça da sociedade e pela vida não autêntica (lembrando Bultmann) que levou”
Sabia que é exatamente por esta vida inautêntica que eu acho que a condenação é uma injustiça colossal.
Pois a maioria dos seres humanos já vivem em miséria, desesperados em serem felizes, sofrendo a condenação de seus atos já no presente, e seria demasiadamente injusto condená-los mais ainda sendo que eles já nasceram em tão estado deplorável de existência emporcalhada de pecado.
Jesus nunca perdoou pecados ele sabia que ninguém era culpado de sua existência pecaminosa, ele apenas dizia para quem podia e tinha sensibilidade para ouvir, que os seus pecados já estão perdoados. Se nos podemos chegar a esta compreensão imagine Ele, o sábio da vida e o maior milagre irretocável e irreproduzível da existência.
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“todo ponto de vista é à vista de
um ponto, nos sempre vemos de um
ponto, somente Deus tem todos os
pontos de vista e tem a vista de
todos os pontos.”
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