sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Jesus, um acontecimento da historia


Jesus é a excepcionalidade de um evento único, ele não é um homem, ele é um acontecimento. Ele não veio e nem ira voltar, ele aconteceu, e não se repetira tal acontecimento nunca mais na trajetória linear da historia da civilização humana. Pois o que faz dele um homem singular sem precedentes é toda a conjuntura complexa que o possibilitou.

Impasse político, ascensão do fervor religioso, petrificação do dogmatismo sacerdotal, revolta do povo oprimido, esperanças proféticas. Circunstâncias estas que se combinaram na grandeza do coração, firmeza de propósito, obstinação de vontade e excepcionalidade dos dons incomuns de um só homem que estava no lugar certo, na hora certa, com os sentimentos corretos, na disposição de espírito adequada para ter a visão do seu próprio destino que ele o chamou de vontade de Deus.

Pois o que faz e o que forma um grande homem na historia humana, seja ele um ditador, um legislador um profeta ou um cristo são as poderosas circunstancias sociais, religiosas, culturais e históricas que se convergem num só homem apto a sentir este acontecimento e ser este momento. Cristos e tipos de cristos como Jesus apareceram e aparecerão sempre, pois homens dotados de sensibilidade espiritual mística, dons sobre humanos, coração forte e vida resignada: a historia já produziu e esta cheia de exemplares, mas só nele a historia se voltou e se dobrou para recepcioná-lo. Dando a ele circunstâncias que pudessem acentuar os dotes comuns dos outros cristos a um alto nível de perfeição.

Ele não era pra vir, não precisava vir, mas veio, mas aconteceu, e o que não era necessário se tornou indispensável. Sendo ele não a conseqüência de causas programadas antes dele, por ser ele mesmo a causa sem antecedentes. Pois mesmo que tudo se convergiu nele, como fatores humanos que o possibilitou, nem por isso ele deixa de ser um milagre sem motivo, mas que cria motivos depois dele, e da sentindo a tudo que o antecedeu. Assim como a vida, o pulsar da sensibilidade dos seres vivos e sensíveis é um milagre absoluto da existência, que não seriam possíveis sem a combinação de milhares de fatores aleatórios despropositados, ele também é e foi o maior milagre de combinações e fatores eventuais que se abateram sobre ele.

Pois ao analisarmos de perto, veremos que ele sentiu todas as sensações comuns dos homens como ele, que os fatores que o fizeram grande e divino, foram à combinação de varias sensações que outros homens também tiveram, mas que nele convergiu de uma maneira magistral e completa, fazendo de sua historia: a maior apoteose de um homem já registrada. E mesmo não sendo um propósito imprescindível da eternidade, ele é um produto necessário do tempo, formado pelos anseios do coração humano e mais precisamente pelo inconsciente coletivo de um povo.

E aquilo que não era um destino antes da vida por a divindade não programar a existência do mal para depois enviar a redenção, se tornou a redenção necessária de um mal não planejado na existência humana, mas de um mal inerente ao próprio homem. Ele é o produto da história, o acontecimento da existência, o fruto de um desejo, mas um produto sem propósito, e aleatório entre os homens se tonando causa e efeito em si mesmo. Os homens são o que são e nada o fizeram ser diferentes, sempre serão assim, e não era necessário absolutamente que ele viesse mudar isso, mas isso, essa condição existencial de alienação do homem criou ele, e fez de algo que não precisava vir, algo inerente a própria vida dos homens, pois se o homem existem assim como um milagre inacabado sem explicação, ele aconteceu como um prodígio acidental de completude do homem.

Esdras Gregório

escrito em 19/08/2011

Terceiro texto da serie de desmitologização da divindade de Jesus.



2 comentários:

Rodrigo Phanardzis Ancora da Luz disse...

Prezado GRESDER,

Percebo que, com todo o seu respeitável racionalismo, você consegue ver Jesus como uma figura incomparável na história humana.

No entanto, permita-me discordar de um aspecto de sua análise, no que diz respeito à necessidade de que o mundo conhecesse um messias que nos ensinasse o amor.

Como havia dito o poeta Auden, "amem-se uns aos outros, ou perecerão".

Bem, neste atual momento de crise ecológica e de grande risco de auto-destruição da humanidade através de ameaças como aquecimento global, desastre nuclear, armas de destruição em massa e desertificação, percebemos o quanto o egoísmo tem sido a principal causa da nossa desconexão com a Vida, onde o desejo de auto-satisfação despreza a necessidade do outro, induzindo à exploração do homem pelo homem.

Assim, apesar de todo o brilhantismo da inteligência humana através da ciência, esta poderá ser o veículo da auto-destruição da humanidade, se não formos capazes de revertermos todo o processo negativo que nossos antepassados iniciaram há milênios.

Desta maneira, creio que será através do amor que o homem poderá sobreviver aos desafios do século XXI e mudar os rumos de sua história, passando a desfrutar coletivamente e de um modo saudável desse desenvolvimento até aqui produzido, fazendo com que o terceiro milênio seja a sonhada era messiânica, quando aprenderemos a conservar o nosso planeta e iniciarmos uma expansão rumo às estrelas.

Olhando para o passado, encontramos em Jesus a resposta. Pois, através dele, descobrimos o amor e a solução para os grandes conflitos humanos que tanto preocupam.

Hoje os judeus esperam um outro messias, enquanto que os cristãos fizeram do cristo uma figura divinizada, punitiva e distanciada da humanidade. Só que a nossa solução está em nos conformarmos com a humanidade do messias de todos os messias (do rei dos reis) e, com ele, aprendermos a Torá cuja essência é o amor.

Através de Jesus (e também da boca de outros homens), o Criador do Universo deu o seu recado à humanidade. Cabe a nós ouvirmos e, com os corações convertidos, arrependidos do pecado, orarmos este último Shemá, voltando-nos para o Eterno

Portanto, concordando contigo de que "só nele a historia se voltou e se dobrou para recepcioná-lo". Porém, discordo pelo meu ponto de vista de que Jesus teria sido "desnecessário".

Shalon!

Rodrigo Phanardzis Ancora da Luz disse...

"Ele não era pra vir, não precisava vir, mas veio, mas aconteceu, e o que não era necessário se tornou indispensável. Sendo ele não a conseqüência de causas programadas antes dele, por ser ele mesmo a causa sem antecedentes. Pois mesmo que tudo se convergiu nele, como fatores humanos que o possibilitou, nem por isso ele deixa de ser um milagre sem motivo, mas que cria motivos depois dele, e da sentindo a tudo que o antecedeu."


Em tempo!

Além de entender que Jesus era necessário (pelo menos concordamos que ele se tornou indispensável), não consigo ver o seu surgimento como um mero acaso.

A humanidade precisava e ainda precisa de seu recado (algo que os gregos da igreja chamaram de "evangelho"). E aí foi a sensibilidade de Jesus ao mover do Espírito de Deus que propiciou o entendimento da Mensagem divina propagada no universo.

Por acaso foi esta sensibilidade um produto do meio (das circunstâncias)? Penso que não. Pois dependeu do aperfeiçoamento experimentado por Jesus.

Igualmente assim devemos agir nós, se desejamos ser profetas e evangelistas neste tempo que se chama hoje.

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“todo ponto de vista é à vista de
um ponto, nos sempre vemos de um
ponto, somente Deus tem todos os
pontos de vista e tem a vista de
todos os pontos.”
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