A desmitologização e secularização das linguagens e estruturas religiosas da fé
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
A releitura do Novo Testamento
Sim! Leio, e releio. E mais ainda! Faço uma releitura; lendo todos os dias, só que agora não mais debruçado sobre o registro sagrado desta historia inacabada. Uma vez que de tanto ler o Livro, os pensamentos e vida dos protagonistas saltam do texto, ganhando vida não só na minha mente e memória, mas se assentando de forma impertinente no mais profundo do meu inconsciente; não me deixando livre para outra coisa a não ser para me remeter a ler e reler novamente onde ele ainda estiver sendo escrito.
Não! Não leio o livro como verdade fossilizada e irretocável, mas leio hoje em dia o evangelho na crise pessoal da fé de todos os meus amigos e irmãos em Cristo. Tendo por certo que escrituras nada mais são do que um registro fidedigno da fé e pensamentos de homem que pelejarão por Deus no mundo e que intimamente lutarão com Deus no coração, em todos os milhares de Testamentos os quantos podem existir.
Sim! Todo o drama e conflitos que os homens de Deus viveram no passado não me deixam em paz por um só momento. E principalmente por ver que a experiência demasiadamente humana deles, se repete em nos, não aceito jamais que a suas histórias sejam consideradas mais sagradas e santas do que a minha e a daqueles que comigo se debatem interiormente para guardar a fé a despeito de nossa incredulidade. E nem por isso deixo de considerar e respeitar profundamente o Livro, visto que não faço uso arbitrário dos seus textos para impor meus pontos de vista.
Não! Os apóstolos não têm a palavra categórica sobre todas as possibilidades de experiências cristas vivenciadas em todos os povos e mentalidades desta terra. Milhares de Paulos Tiagos e Pedros escrevem hoje cartas as igrejas dispersas pelo mundo, com forme as necessidades circunstanciais assim como foram escritas pelos discípulos as primeiras meditações sobre a obrigatoriedade da práxis da fé em cada experiência de vida das pessoas daquela época. A essa altura do campeonato não da para deixar de crer, pois creio sim! Com todas as forças da minha alma na Palavra que transcende e não esta presa ao documento, que é apenas seu veículo de comunicação.
Sim! Não creio num cânon fechado, porque em Cristo a minha vida e pensamento apesar das contradições e mazelas não é mais comum como dantes, mas tão inspiradas como a dos heróis da fé, nos dois primeiros Testamentos da história ainda incompleta da redenção do ser humano. Uma vez que o único que tinha autoridade para “canonizar” ou afirmar como infalível ou consumado qualquer ação registrada e pensamentos escritos, disse que obras maiores do que as Dele seriam feitas no futuro.
Não! Não aceito que se resumam a complexidade do homem pecador responsável, mas incapaz, diante de um Deus inexoravelmente Santo e incorrigivelmente perdoador, no discurso diplomático do evangelho simples. Pois resumir toda a tensão de nossos dilemas cruciais da vivencia da fé, a uma mentalidade simplória que não seja a simplicidade do coração, é sim uma fuga das implicações extenuantes que causam o choque da relação do homem finito e sujeito ao corpo e ao tempo com um Deus eterno e
senhor do tempo e da matéria.
Sim! É isso que se quer: sintetizar o evangelho de forma simples e intocável, para não se fazer mais reavaliações da nossa conduta que foge do confronto e da necessidade de desconstrução da ignorância tola a qual batizamos de: simplicidade do evangelho. Isso porque uma vez que o evangelho sendo simples e fácil de entender, já não se precisa pensar mais nele e nem por ele se perturbar, mas usar todas as nossas capacidades de entendimento nas formas de se alcançar ou consolidar o status social-religioso que obtivemos na pregação do: “Deus amou o mundo de tal maneira”.
Não!Não e não e não! Esse culto ao evangelho humilde e idolatria bibriocentrica não tem sido capaz de diminuir a angustia ou resolver o problema de milhares de cristãos sinceros que amam a Deus em seus corações, mas o desonram em seus corpos; mas apenas satisfaz a consciência daqueles que lavam as mãos por terem ensinado a “verdade”. Não! não quero essa verdade e simplicidade que não seja aplicável na minha existência, a qual não vejo no olhar do meu irmão, e que não existe, a não ser na doutrina “ortodoxa”; antes, melhor uma “heresia” viva que incendeiam o coração daqueles se equivocam e apenas conjecturam sobre Deus.
Sim! Não preciso mais ler literalmente o Livro, porque o releio todos os dias em mim mesmo e no depoimento franco daqueles que reescrevem na dor e escravidão de sua enfermidade da carne e na crise de suas consciências perante Deus: um novo Testamento; não em oposição ao Outro, mas como continuação militante de um multiforme evangelho, conforme as muitas formas e capacidade de entendimentos e possibilidades de força de atuação da vontade humana. Não! O Livro ainda não foi concluído, as palavras não foram todas ditas, mas estão sendo escritas a todo o momento por todos aqueles que mesmo que de forma trágica, são personagem desta historia.
Gresder Sil
Postado por
Esdras Gregório
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7 comentários:
Concordo plenamente com o seu ensaio.
Betty Bernardo Fuks, em seu livro "A Vocação do Exílio" assim escreveu sobre a Escritura Sagrada:
"...A marca singular dos antigos escribas e intérpretes judeus do Antigo Testamento foi a de impedir o seu fechamento através dos séculos. Ou seja, eles não permitiram a fixidez das letras do tecido escritural, fazendo incidir sobre as páginas do texto bíblico uma leitura aberta ao infinito."
Umberto Eco, certa vez disse: "O conjunto dos livros sagrados do judaísmo tornou-se uma obra aberta.
Saudações fraternas,
Levi B. Santos
Que a paz de Cristo seja derramada sobre sua vida sempre... parabens pelo blog, muito edificante, que Deus continue te abençoando sempre, visite meu blog passa lá e comenta... te vejo por lá - abraço, Sheivison.
Difícil é encontrar o paradigma modelador da verdade no meio de tanto relativismo. Seu ensaio me remeteu ao teólogo e filósofo existencialista Soren Kiekgaard, o qual certa vez propôs uma parábola acerca de dois homens. Um deles era pagão, e orava a um ídolo com fervor. O segundo era monoteísta-cristão, mas orava a Deus com um espírito falso. Kierkgaard pergunta: "Qual deles orou ao Deus verdadeiro?" E a resposta que ele mesmo oferece foi: "O primeiro". Parece que para o pai do existencialismo (Não foi Chico Toucinho! Foi o Kierkgaard! Façam justiça, rs), "melhor é uma “heresia” viva que incendeiam o coração daqueles se equivocam e apenas conjecturam sobre Deus".
Na minha opinião, ambos falharam, pois nenhum deles buscou ao verdadeiro Deus. Quanto à heresia, ainda não conheci uma só heresia que seja benéfica. Heresia é heresia, e só.
Porém, há algo que admiro nos hereges: Sua disposição em se expor, de viver, lutar e até mesmo morrer por aquilo que acreditam.
Falta-nos a coragem dos hereges!
Falta-lhes o discernimento...
Fraternalmente,
Leonardo.
Nesse ponto ai! Também não concordo com kierkgaard , mas “heresia” aqui é apenas pensar diferente do senso comum religioso convencional
Mano Gresder;
Nesse sentido, ambos somos farinhas do mesmo saco. Sou herege com H maiúsculo, rs...
Abraço,
Leonardo.
Assino o manifesto. Esse texto entre outras coisas, é um manifesto. Portanto, está assinado.
Gostaria, Gresder, de comentar o comentário do Leonardo: "difícil encontrar o paradigma modelador da verdade..." sabe por que? porque ele não existe.
Todos os "modeladores da verdade" perderam seu valor por que a VERDADE, não pode ser modelada por um único princípio modelador. (assim entendo)
Em busca Dela(VERDADE), apenas tateamos no escuro em busca de um feixe de luz que porventura ilumine-a nem que seja ao menos, em alguma de suas partes.
"em parte conhecemos..." (Paulo). Aliás, para alguém que não idolatra tanto o Apóstolo dos gentios, eu o cito demais...rsss
A VERDADE é Deus. Mas Deus não é a VERDADE. Explico-me: Esse "Deus" por nós nomeado, teologizado, conceituado, não existe a não ser em nossas dogmáticas.
Creio firmemente que nenhum sistema de pensamento religioso possui toda a VERDADE. Mas quem sabe se completam? Mas em se completando, se possível fosse, ainda assim teriam apenas uma pálida visão turvada DELE E DA VERDADE.
O que nós resta então? rasgar nossas vestes e sair com a língua pra fora totalmente pirados, babando e gritando "Cadê a VERDADE, cadê a VERDADE..." rsssssssss?
Não é preciso tanto. A angústia sempre vai existir na cabeça de quem pensa. Mas...
Eu resolvi(em parte) a minha angústia espiritual seguindo a princípio, os mesmos passos do Gresder. Com "ABERTURA". E no meu caso, também abertura para o "outro",Para a herança espiritual de toda a humanidade.
Não abro mão da minha herança espiritual que estão na Torah e no NT, mas também com essa abertura para a possibilidads de reinterpretaçao.
O texto do Livro é vivo, não morto; dinâmico, e não extático; Quem ouviu "lá" o que de Deus ouviu, interpretou tal qual suas limitações; e como podemos fossilizar algo que "lá" já foi digerido, interpretado, reinterpretado conforme épocas e circustâncias?
E como dizer que Deus só a eles (o povo do Livro) falou? Ninguém mais ouviu a voz Dele? Na verdade, não A voz em si, mais como cada um percebeu essa Voz que é difusa, Mistério. Isto é tão verdadeiro lá (Israel), como cá (pobres gentios).
Creio Nele, mesmo sem saber concretamente Dele, mas O tenho guardado no peito, e isso me faz querer ser uma pessoa melhor a cada dia Nele, para com Ele e os outros.
O meu paradigma da VERDADE é Jesus de Nazaré(não, não estou me contradizendo).
Não o Jesus do Cristianismo nem da Cristologia; não o Jesus "único-caminho-para-Deus" e fora disso, danação no fogo interminável, mas o Nazareno real, homem pé no chão, que viveu sua época e morreu com-paixão pela sua VERDADE, e nós levou um pouco mais para perto desse DEUS-VERDADE que só em parte podemos conhecer.
Rendome-me a essa falta de absolutos em relação a Deus. É isso ou então a inflexibilidade dogmática total: "nisto creio, por que sei que é a única verdade, e o resto da humanidade que trate de crer como eu creio, senão...o INFERNO vos espera".
Não consigo crêr assim. Há quem consiga. E pra falar a verdade, os tais não têm nenhuma crise de fé como eu...
abraços a todos. Gresder, perdão pelo tamanho do comentário, mas textos profundos como o seu, não cabe comentários superficiais.
Opa, aqui já aparecem Levi, Eduardo e os demais. rss
Gostei do texto, mas me deixou com sentimento nostaigico do mesus tempos de diácono...
Mentirinha! kkkkk
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“todo ponto de vista é à vista de
um ponto, nos sempre vemos de um
ponto, somente Deus tem todos os
pontos de vista e tem a vista de
todos os pontos.”
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