sexta-feira, 26 de março de 2010

O procedimento de uma fé adulta



Um cristianismo adulto é a consciência de que a proposta da nossa religião não é dirigida somente aos infelizes da terra como se só no âmbito desta fé o individuo pudesse encontrar alegria e significado de vida. Ela não se trata de uma sugestão de felicidade que encontramos somente quando se submetemos a: “vontade do Senhor”.

Entende-se que cada um pode encontrar o seu sentido de vida e alegria na suas próprias escolhas e vocações, sendo a vida uma enorme possibilidade de encontros e desencontros felizes ou fatais, onde a fé entra não como garantia de proteção. Mas como entendimento da responsabilidade diante da vida que Deus dá ao homem, estando ele praticamente sem nenhuma imunidade diante do resultado de suas próprias escolhas pessoais.

Numa fé adulta não mais se “espera em Deus”. Antes, se vive consciente de que Deus geralmente não mais intervém como dantes na infância da nossa espiritualidade, mas se oculta e nos deixa na mais absoluta liberdade de escolher nossas atuações neste mundo, e conseqüências positivas ou funestas da mesma. Não imputando “pecado” pelos nossos fracassos "espirituais", mas sim pela forma afetada e desonesta com que lidamos com as conseqüências problemáticas das nossas ações.

Uma vez que o “esperar no Senhor” além de estar sujeito a arbitrariedade das interpretações dos nossos próprios gostos e caprichos pessoais, é uma atitude covarde e infantilisadora de fuga das conseqüências negativas das nossas possíveis escolhas. Tanto quanto também um ato que se esquiva moralmente da grande questão de que todos os nossos passos devem ser decididos pelos seus motivos racionais e justos que podemos antever nas nossas inclinações interiores, e não quanto ao sucesso das nossas empreitadas pela vida.

Assim não mais barganhamos ou usamos mais a Deus como crianças irresponsáveis que agradam ao pai temporariamente a fim de terem seus caprichos atendidos por cumprirem certos gostos e disciplinas. Mas vivemos como adultos que decidem e escolhem a sua própria maneira de viver a vida e nela encontrar o seu sentido e lugar embaixo deste maravilhoso sol de Deus posto sobre todos os homens.

Gresder Sil


16 comentários:

Marcio Alves disse...

A idade de uma fé adulta é a maturação da conscientização do consciente na consciência, de uma vida sem intervenções divinas, vivida totalmente no âmbito da naturalidade, sobrevinda e vivendo-a em meio às idas e vindas das contingências, ora sofrendo a vivencia do trágico, ora vivenciando o belo, em intermináveis acontecimentos intermitentes no diário das experiências da labuta do homem pela sobrevivência e sentido.

Não se busca sentido no mundo das abstrações fantasiosas religiosas, antes trabalha na perspectiva do chão da existência, não mais covardemente e infantilmente se recorrendo ao Criador para satisfação egoísta e ilusória, antes tem em seu entendimento a compreensão de uma vida totalmente em liberdade na ausência abscondida do Criador, assim sendo e não mais deixando de ser, vive como se Deus não existisse, pois se é independente sem medo de punição ou recompensa, mas a pura consciência subjetiva da razão e do sentir, sendo guiado e determinado por suas escolhas no ser-si que é antes de tudo ser-si-em-si e ser no mundo.

Mesmo não acredito se deixasse de desacreditar, não creria e não faria orações por qualquer tipo de benção, pois assume a responsabilidade do ser que é e que faz, não culpado a divindade pelos seus próprios erros, e não mais esperando na loteria da premiação e/ou maldição celestial, pelo simples fato de abrir a alma, estufar o peito, erguer a cabeça e se lançar no mundo das incertezas das possibilidades, vivendo com coragem existencial, não se preocupando e se martirizando pelo que será do amanhã, mas resolvido a viver no hoje, que se chama agora, na factualidade da existência sem chão de apoio.

Mas é justamente na idade de uma fé madura e responsável que mais se ama a Deus, pois sem esperanças e sem interesses de barganhas num troca-troca com o divino por vender atos humanos, que se mostra na comprovação de que o amor maior é aquele que amamos o Criador por Ele ser Ele quem Ele é Nele, na sua essência de nossa fé que crer, mas não precisa tal como adulto que não mais necessita de mesadas do pai, por ser e si fazer autônomo e independente, mas continua com o amor do filho para com o pai, pois amamos a Deus por nada na medida em que é o amor-amor e não amor-interesse, crendo que o grande Ser apesar de não ser visto, de não interferir em nossa realidade, esta em nós e nós Nele, assumimos a postura da livre e responsável consciência através da consciência da fé adulta.

Levi B. Santos disse...

Prezado Gresder

Realmente, uma fé adulta não precisa de barganhas, daquelas que os nossos pais faziam quando éramos crianças:

"Fique bem comportado, que quando seu pais e sua mãe voltarem irão trazer uma surpresa agradável para você!. Pode acreditar!"

Teu texto me fez lembrar de um "voto" que fiz, na minha santa ignorância:

Prometi me batizar nas águas, se Deus me fizesse passar no vestibular.

Passei, me batizei e hoje estou aqui na C.P.F.G, sem as amarras da fé infantil.


Abçs,

Levi B. Santos

Eduardo Medeiros disse...

O Cristianismo adulto está liberto das infantilidades e das eternas petições para o "papai do céu".

O Cristianismo adulto não crê em mitologias, mas sabe que a fé transcende a tudo e sabe qual é o papel do mito na crença.

O Cristianismo adulto forma cristãos que sabem que Jesus não poderia ser Deus-em-si encarnado, mas ao mesmo tempo, pode chamá-lo de Senhor, Messias, Salvador.

Gresder, continue a sua missão de "desreligiogizar" o Cristianismo infantilizado que temos por aí e elevá-lo para a posição onde ele deve estar nesse nosso tempo.

Oseias B. Ferreira disse...

Gresder,

O que eu não consigo entender é que exista um "cristianismo adulto", pois ainda crianças somos e dependentes de revelações de outros para que compreendamos um pouquinho mais deste oceano.

Imagino ser utópico este desejo de ser "maduro e adulto" quanto a fé, mas podemos estar um pouco mais realistas quanto a tudo isso.

Talvez tenhamos melhorado os nossos conceitos e tenhamos ampliado nossa compreensão das coisas da fé em Deus, mas ainda assim não creio em uma "fé adulta".

Creio que por "vontade de Deus" seja apenas o eco que ainda ressoa em nossos ouvidos daquilo que ouvimos a infância toda quando estávamos enfurnados no templo.

Creio nos mistérios da divindade e, de algum modo, na intervenção puramente misteriosa de Deus aos humanos.

Oseias B. Ferreira disse...

Gresder,

Você realmente crê de todo coração naquilo que escreve "contra" o que aprendeste?

Não há um espécie de "frio" em sua barriga quando luta tanto com tudo aquilo que está profundamente arraigado em seu coração?

veja lá em mano?!

Não vai pirar hein?! Porque eu já pirei faz tempo! rsrsrs

Abraço

Edson Moura disse...

Gresdinho, realmente a fé adulta é algo "não tão simples de se crer" assim como disse nosso amigo Oséias. Por mais que eu lute (e digo EU) algo do passado ainda martela em meu inconsciente me perguntando: "está certo disso?" "Ou quer pedir ajuda aos universitários?" rssss

Adorei esta parte do seu texto:"Numa fé adulta não mais se “espera em Deus”. Antes, se vive consciente de que Deus geralmente não mais intervém como dantes na infância da nossa espiritualidade, mas se oculta e nos deixa na mais absoluta liberdade de escolher nossas atuações neste mundo, e conseqüências positivas ou funestas da mesma. Não imputando “pecado” pelos nossos fracassos "espirituais", mas sim pela forma afetada e desonesta com que lidamos com as conseqüências problemáticas das nossas ações".

É um caminho agradável mas ao mesmo tempo sofrível...pelo menos pra mim...pois embora tenha me libertado das amarras da "fé infantil", ainda existem resquíceos de nostalgia de tempos em que nada era incerto e tudo era vontade (boa vontade) de Deus.

Abraços meu amigo!

Ps. Prepara uma feijoada aí que nós apareceremos num sábado qualquer para filar a bóia aí na sua casa! rsss

Esdras Gregório disse...

Márcio uma vez você disse que eu deveria pensar os meus próprios pensamento, mas você esta tão bom em captar os meus pensamentos que o seu texto é a exata reprodução do que eu quero dizer mas de uma forma peculiar sua, ou seja você somente muda o estilo da literatura ,mas esta pensando os meu pensamentos hahaha!

Esdras Gregório disse...

Levi seu comentário é que me fez lembrar do voto daquele jumento do Lutero que numa tempestade pediu que Deus o protegesse e en troca ele viraria monge, antes morresse aquela peste, dai o mundo não teria essa raça de gente chamado de evangélicos rsrs

Mas é assim mesmo Levi fasemos votos quando crianças e pagamos o preço quando adulto, pois de uma forma ou de outra você ainda esta em uma gaiola: a nossa kkkkkkkkk

Esdras Gregório disse...

"Gresder, continue a sua missão" que honra ouvir isso do nosso capitão principal responsável não somente por achar a gente a ajuntar mas também de dar o nome desse negocio legal que virou nossa amizade virtual.

Tudo bem que eu não sou o seu protegido, mas obrigado, deixo esses cuidados para o cabeçao do Márcio que não somente precisa do Edson para dar uma puxão de orelhas como também de você para apadrinhar esse nosso pequeno menino Tao Frágil Frangote Fracote

Esdras Gregório disse...

Oseia eu realmente creio nas mensagens subjectivas do que escrevo, mas uso muito de linguagens e formas que não corespondem exactamente no que acredito.

Tem mais, eu consigo acreditar em coisas diferentes pois de tanto ler teologia dialetica absolvi essa jeito de acreditar em teses confritantes ao mesmo tempo.

Eu Não tenho medo de Deus, tenho antes medo do Acaso me dar um golpe de destino e alguns f%i%l%h%o%s d%a p%u%t%a como os que faseem a cabeça da minha irmã considerarem que isso foi castigo de Deus.

Tenho tanta alto confiança que as vezes me dá medo, "tenho medo de não ter mais medo" como irei explicar quando postar meu texto antigo de confissao na confraria.

Quanto a você, você não acredita num cristianismo adulto porque você é filho do paizão Caio Fábio que trata todos como crianças.

Ainda vou conhecer aquele velho para dar um abraço e um puxão de orelha nele.

Esdras Gregório disse...

Edson eu já falei para minha mãe sobre a feijoada, mas ela disse que você tem que ajudar, eu sugiro pé de porco, mas vê se antes passa numa pedicure...

Você tem nostalgia das seguranças do fundamentalismo que resolve tudo ou no "é a vontade de Deus" ou no "os mistérios são para Deus, mas as coisas reveladas pára o homem" rsrs assim fica fácil, por isso que isso escraviza tanta gente.

Mas é assim mesmo, temos a pretensão de sermos adultos mas não deixamos de ser filhos, por isso as vezes oramos uma Pai Nosso.

Oseias B. Ferreira disse...

Gresder,

Conheci o Caio dois dias depois que perdi uma das pessoas que mais amei nesta vida: minha vó, que me criou desde que nasci. Não tenho como negar o fato de que sempre haverá alguém que me influencie.

O motivo de eu não crer em um "cristianismo adulto" não é pela influência que tenho, mas sim pela história que se apresenta a nós.

Trabalhei com os mortos durante cinco anos, quando fazia plantão em hospitais e necrotérios em Curitiba; praticamente não se discutia questões de natureza filosófica e "subjetiva" em leitos de morte e um pai que vê o corpo de seu filho estendido na mesa fria de um necrotério, jamais poderá crer que algum dia poderá ser adulto em relação a fé. Impactos como a morte, por exemplo, nos levará sempre à estaca zero e a cada porrada, uma nova compreensão nos fará um ser mais duro, mas ainda assim, meninos com relação a fé e continuaremos a projetar em Deus a paternidade, pela qual nós, infantis em relação a tudo isso, esperaremos, de algum modo, alguma intervenção DEle em meio a dor.

Abraço

Cristina Faraon disse...

Gostei muito do texto. Repassei para uns amigos.

Unknown disse...

Querido Gresder;

Desculpe-me o atraso, visto que cheguei por ultimo, só me resta comentar que:

"Uma fé adulta é gozar da liberdade que nos foi concedida como um presnte que é a vida. Por tanto, exercitar a fé e viver a vida na sua totalidade.

Forte abraço.

Esdras Gregório disse...

Concordo Oseias, mas ser adulto não é deixar de ser filho em ultima instancia, mas apenas agir por nos mesmos naquilo que atribuímos a vontade ou protreção de Deus.

Ser adulto é não mais pedir para Deus nos salvar de algo, mas passar a vez para os pequeninos que mais precisão.

Esdras Gregório disse...

Jair não se desculpe ninguém é obrigado a vir comentar a não ser que queiram que eu vá la comentar também rsrs odeio essa frase mas tudo a gente tem que pagar um preço rsrs

Quanto ao seu comentário foi pequeno mas bem filosófico e elegante, valeu!

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“todo ponto de vista é à vista de
um ponto, nos sempre vemos de um
ponto, somente Deus tem todos os
pontos de vista e tem a vista de
todos os pontos.”
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